Postado por - Newton Duarte

Análise: cirúrgico e com "sangue nos olhos", Vitória sobra no clássico Ba-Vi

Time de Vagner Mancini se impõe novamente sobre o rival e larga na frente nas finais. Bahia surpreende no começo, mas falha na defesa e é ineficiente no ataque

O triunfo do Vitória no clássico sobre o Bahia começou a ser construído muito antes de a bola rolar: toda a polêmica envolvendo o caso Victor Ramos serviu como combustível para o técnico Vagner Mancini incendiar o seu elenco, como ele alertou que faria. Os jogadores rubro-negros foram para o jogo, como se diz na gíria, com “sangue nos olhos”, e isso fez toda a diferença, pois taticamente as equipes se equivaleram nos primeiros 20 minutos de partida. E é importante destacar que, apesar da “pilha” e de alguns lances mais quentes, o Leão demonstrou uma frieza fora do comum para fazer seu jogo e aproveitar as falhas do rival. O Vitória foi cirúrgico.

O Bahia começou o jogo de certa forma até surpreendente. A escalação era a esperada, mas a postura da equipe não: Doriva adiantou as linhas, encurralou o rival no campo de defesa e forçou os chutões. O Vitória se viu atordoado e sem saída de bola nos primeiros minutos de bola rolando, pois seus dois volantes, Amaral e Willian Farias, eram vigiados de perto por Danilo Pires e Juninho, respectivamente. Um pouco mais à frente, Leandro Domingues não conseguia dar um passo sem ter Feijão no seu encalço.

Repare na imagem abaixo como o Bahia marca forte no campo de ataque. Willian é vigiado no lance por Edigar Junio, mas durante a partida essa função foi de Juninho.

Análise da Partida - Ba-Vi Bahia marca o Vitória no campo de ataque (Foto: Rafael Santana)

O esquema tricolor foi um pouco diferente do que a gente se acostumou a ver durante a temporada. Em vez de variar do 4-1-4-1 para o 4-2-3-1, Doriva preferiu variar para o 4-1-2-3, avançando Juninho e Danilo Pires, justamente para neutralizar a saída de bola dos volantes rubro-negros. Deu certo até a página dois.

Análise da Partida - Ba-ViEsquema utilizado pelo Bahia no Ba-Vi (Foto: Reprodução)

Deu certo até o Vitória forçar o jogo pelas laterais e explorar a principal deficiência do time de Doriva. É verdade que o árbitro Anderson Daronco inventou uma penalidade de Tinga em Vander, mas o lance foi construído todo pelo lado direito de ataque do Vitória. O gol acontece porque Edigar Junio não acompanha a descida de José Welison, que tem extrema liberdade para avançar, já que Moisés estava preocupado com a marcação de Marinho. Quando o lateral tricolor sai para tentar dar o combate, já é tarde demais para evitar o cruzamento.

Mancini lê o rival com maestria e sabe o que fazer para tirar vantagem no jogo. Defensivamente, ele usou Amaral e Willian Farias para conter as infiltrações de Danilo e as enfiadas de bola de Juninho. Ofensivamente, ele abriu a defesa tricolor com Marinho e Vander espetados nas duas laterais, forçando o jogo em cima de Moisés e Tinga. O esquema foi o mesmo 4-2-3-1 usado desde que ele tem à disposição o quarteto ofensivo formado por Domingues, Vander, Marinho e Kieza.

Análise da Partida - Ba-ViEsquema do Vitória, Ba-Vi (Foto: Reprodução)

Na foto abaixo, é possível observar como o quarteto ofensivo do Vitória se comporta, alargando a defesa tricolor.

Análise da Partida - Ba-ViVander e Marinho abertos nas pontas(Foto: Rafael Santana)

Em outra jogada de ponta, desta vez com Vander, pelo lado esquerdo, o Rubro-Negro ratificou a superioridade e ampliou a vantagem. O atacante fez o que quis com um estabanado Lucas Fonseca e enxergou Amaral aparecendo entre as linhas do Bahia, como um homem surpresa. Que nem é mais tão surpresa assim, pois o volante tem se destacado quando aparece na frente e desandou a marcar gols importantes, como o do último domingo.

Em sua entrevista pós-jogo, Doriva elencou alguns dos motivos que fizeram seu time sucumbir ao rival. É importante destacar três: ineficiência na recuperação da segunda bola, nível de competitividade inferior à do rival e a falta de um jogador para pensar o jogo ofensivamente. Juninho é volante, mas foi usado muitas vezes como armador durante o primeiro semestre. Depois de um começo destacado, ele foi caindo de rendimento, e o ponto mais baixo da curva foi no Ba-Vi, quando teve atuação bem abaixo da média. O jogador não conseguiu ditar o ritmo e acabou forçando (e errando) seguidos lançamentos.

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O Vitória deu um largo passo para evitar o tricampeonato do Bahia e voltar a comemorar o título que não vem desde 2013. Tem no banco de reservas o cara que decide os Ba-Vis, embora não entre em campo. Ao Tricolor, que apesar da boa temporada, fraquejou nos momentos decisivos, será necessário mostrar um futebol que ainda não foi visto este ano se quiser soltar o grito de “campeão”.