Postado por - Newton Duarte

As Tricoleaders que jogam junto com o Bahia

Coreografia e amor incondicional: as Tricoleaders que jogam junto com o Bahia

Sem remineração, cheerleaders do Tricolor se dividem entre trabalhos, estudos, ensaios e jogos do Esquadrão

De brincadeira de criança ao reconhecimento nas ruas. Assim se tornou a vida de 16 torcedores do Bahia que decidiram se unir para apoiar o Esquadrão nos estádios. Iniciado em 2011, as Tricoleaders, como são conhecidas as Cheerleaders do Esquadrão, são um grupo de meninas que animam a torcida tricolor durante os jogos do Bahia em Salvador. A proposta surgiu depois de uma brincadeira das irmãs Naiara Azevedo, estudante e Júlia Nara, professora.

"Em 2007 eu tive a ideia, com minha irmã e mais duas colegas. Tentamos fazer nessa época, mas foi um período complicado, quando aconteceu o acidente na Fonte Nova. O Bahia passou a jogar longe, aí deixamos de lado. Quando vimos as meninas do Ceará, em Fortaleza, e as do Corinthians, voltamos a conversar sobre o assunto", explicou Naiara. Segundo ela, o grupo começou a tomar forma através de fóruns na internet.

"Em 2010, ano do acesso à serie A, minha irmã (Júlia) lançou na comunidade do Bahia no Orkut um tópico querendo saber o que a torcida achava. Todos nos apoiaram. Começamos então a procurar meninas interessadas e foi assim que surgiu o grupo. Algumas meninas eram nossas amigas e outras nós conhecemos na comunidade do Bahia no Orkut", complementa ela.

As coreografias utilizadas em campo são todas bem ensaiadas antes das partidas. Segundo Naiara, esse é o diferencial entre as animadoras do Bahia e as de outros clubes, que em alguns casos são contratadas pelas diretorias das equipes. A maior dificuldade para elas está na organização do tempo entre os estudos e as profissões, já que o grupo é composto por estudantes e profissionais formadas.

"Geralmente ensaiamos aos sábados à tarde, que é o único horário em que todas podem ir. Mas agora tivemos que aumentar nosso ritmo. Ensaiamos o sábado todo e quem não pode ir pela manhã, ensaia na sexta à noite. Agora é bem mais corrido e complicado. Em jogos dia de semana dificilmente vão as dez (limite de meninas por jogo) por causa do trabalho ou faculdade", disse Júlia.

Fora dos gramados - Longe dos estádios, as meninas levam uma vida normal. São estudantes, enfermeiras, professoras, dentistas e advogadas. Por receio de ter a imagem julgada em alguns ambientes, muitas não revelam que fazem parte do parte do grupo de animadoras do Bahia.

"Em algumas profissões existe um tipo de desconfiança. No meu caso, meus colegas de trabalho nem sabem. Mas isso varia bastante. Tem meninas que são admiradas pelos pacientes, como Marla que é dentista, e Angélica, que é enfermeira, e além de ser tricoleader trabalha no projeto "Anjos da Enfermagem", que leva animação pra crianças com câncer. Não escondemos, só não saímos espalhando. Para quem pergunta a gente confirma numa boa. Acho que muitas vezes chega a ser ignorância. Para a gente torna-se um hobby, uma maneira de se divertir com o nosso time", explicou Júlia, que é professora.

A advogada Bruna Sousa segue a mesma linha de pensamento, mas o maior problema para ela veio de casa. "Minha família que tem uma leve resistência. Se prendem ao estereótipo de advogado ser sisudo e não poder ser divertido nem na vida pessoal, mas eu fujo de estereótipos. Faço tudo que acredito que seja correto, me faça bem, e que não ofenda a ninguém, mesmo que esse "tudo" seja aparentemente contraditório", afirmou a tricoleader.

Aprovação da família e ciúmes - O problema familiar não é exclusividade de Bruna. Por estarem inseridas em um universo machista, que são os estádios de futebol, algumas meninas chegaram a deixar o grupo por conta de ciúmes nos relacionamentos. Porém, Naiara garante que a maior parte da torcida Tricolor apoia e respeita o trabalho realizado.

"A maioria da torcida respeita, mas ainda existe os que acham que somos 'marias-chuteiras', que somos desocupadas, essas coisas. Justamente por isso temos algumas regras. Não nos relacionamos com jogadores, evitamos também a imprensa e tomamos cuidado com alguns torcedores. A questão dos relacionamentos é complicado. Algumas meninas já saíram do grupo por isso, outras já terminaram o namoro por causa do grupo", explicou.

Garotas afirmam que maior parte da torcida respeita, mas preferem tomar alguns cuidados

Amor ao Bahia - Depois de um início complicado, quando entravam apenas nos intervalos dos jogos e não tinham qualquer tipo de apoio, as Tricoleaders firmaram parceria com a nova diretoria do Bahia. O acordo já está dando retorno. Além de fechar com uma empresa que produz as roupas utilizadas nas partidas, as meninas contam agora com um fotógrafo oficial. E mais novidades devem acontecer.

"Um dos advogados da intervenção nos perguntou se eramos contratadas. Então ele mandou a gente ir no escritório e nos apresentar oficialmente para nova gestão. Foi aí que tudo aconteceu. Ainda não somos remuneradas, por conta da situação do clube, mas não fazemos questão de dinheiro. É uma honra ser porta voz da torcida com o clube. As coisas ficam muito mais fáceis quando o clube joga junto", explicou Naiara. E se engana quem pensa que para entrar no grupo basta ter apenas um rostinho bonito.

"Nós fazemos seleção. As meninas interessadas em participar do grupo são chamadas para o teste de dança, flexibilidade, carisma e prova escrita sobre o Bahia, que é o mais importante. Esse é o nosso diferencial. A torcida sente que nós os representamos justamente pela nossa paixão. Em qualquer lugar que nós vamos nós somos conhecidas", afirmou a Tricoleader.

Fonte: Gabriel Rodrigues *Sob supervisão do editor de Esportes Rafael Sena