Postado por - Heitor Montes

Confiante na permanência de Gilberto, Guilherme Bellintani não descarta renovações e projeta reforços

No dia 18 de dezembro de 2017, Guilherme Bellintani assumiu a presidência do Bahia. Prestes a completar um ano no cargo, o dirigente fez um balanço da sua primeira temporada à frente do clube em entrevista ao site GloboEsporte.com.

Nesta temporada, o Bahia conquistou o Campeonato Baiano, foi vice da Copa do Nordeste, igualou sua melhor campanha na Copa do Brasil chegando às quartas de final, mesma fase em que chegou na Copa Sul-Americana, melhor campanha da história do clube na competição continental. Além disso, o Tricolor chegou na 11ª posição do Campeonato Brasileiro, melhor colocação na era dos pontos corridos.

Porém, mesmo com bons resultados, a temporada teve alguns percalços. Guilherme Bellintani precisou demitir um treinador, perdeu um título em casa e viu protestos da torcida. O presidente também lamentou a não aplicação do núcleo de inovação e tecnologia.

Na entrevista, Guilherme Bellintani também avaliou o avanço do Bahia fora de campo. O clube vem crescendo financeiramente e isso, aos poucos, se reflete dentro das quatro linhas. Para 2019, o Tricolor terá um crescimento no orçamento, que será de R$ 140 milhões.

O presidente também avaliou as chances de renovação do atacante Gilberto, revelou o que será feito com o dinheiro da venda da Zé Rafael ao Palmeiras, explicou o assédio sobre Ramires, e projetou até 12 contratações para o primeiro semestre da próxima temporada.

Entrevista completa de Guilherme Bellintani ao GloboEsporte.com:

GloboEsporte.com: Você completa agora em dezembro o primeiro ano como presidente do Bahia. Qual o saldo inicial deste mandato?
Guilherme Bellintani: Ano que o Bahia avançou muito fora de campo, seguiu em uma linha de avanço com responsabilidade administrativa e financeira, conseguindo se sobressair em um momento em que o futebol brasileiro está em uma crise econômica muito profunda. Com vários clubes atrasando salários, uma falta de planejamento que virou regra no futebol brasileiro. O Bahia conseguiu se estabilizar e avançar bastante fora de campo. Dentro de campo a gente nota um avanço gradativo, como são os reflexos dentro de campo, mas consistente. O clube chegou em 6º na Sul-Americana, 6º na Copa do Brasil, campeão estadual, perdemos a final da Copa do Nordeste, o que considero um acidente de percurso. Já tínhamos feito a melhor campanha, tínhamos um time que infelizmente não conseguiu mostrar em campo a superioridade que teve até aquele momento. No Brasileiro, a gente pontua um pouco mais na frente, na 11ª colocação, em relação ao ano passado. E esse conjunto a gente pode avaliar que uma das melhores campanhas do Bahia nos últimos 15 ou 20 anos. Balanço muito positivo, o que não quer dizer que a gente não tenha problemas, que não tenha umas crises para administrar e avanços grandes para galgar, conquistar ainda em 2019 e nos anos seguintes.

Você anunciou orçamento de R$ 140 milhões para 2019. Pode detalhar como projetou essa receita?
Quando cheguei no clube, em dezembro de 2017, a gente encerrou com R$ 102 milhões de orçamento. Em 2018 passaremos de 120, um crescimento de quase 20%. Em 2019 vamos repetir esse crescimento, em torno de 15 a 20%, podendo ultrapassar R$ 140 milhões, que é uma marca importante para o clube, uma marca histórica. Hoje o futebol brasileiro é dominado pelo poder econômico, e o Bahia consegue se aproximar da elite econômica do futebol brasileiro, que é formada pelos quatro clubes do Rio de Janeiro, os quatro de São Paulo, os dois de Minas Gerais, os dois do Rio Grande do Sul e o Atlético-PR, 13 clubes que estão à frente do Bahia em poder orçamentário. A gente consegue diminuir essa distância, o que fatalmente terá impacto dentro de campo nos próximos anos.

Com a maior receita da história do clube, o Bahia passa a ser o clube do Nordeste com maior receita. A responsabilidade aumenta?
Muito. Sempre que aumenta a expectativa da torcida, aumenta nossa responsabilidade. O que falamos sempre é que é preciso manter os pés no chão.

O Bahia ainda é um clube pobre, endividado, com sérias limitações financeiras, fruto de uma irresponsabilidade de 15, 20, 25 anos na gestão do clube. A gente tem um trabalho muito grande para colocar o Bahia na posição de reconstrução. A gente sempre diz que está reconstruindo um clube gigante. Precisamos ter noção dos nossos limites, da nossa responsabilidade.

Como está a negociação pelos direitos televisivos? Houve avanço na negociação?
Continua um pouco estabilizado, paralisado. Tanto as nossas renegociações de contrato com a Turner, Esporte Interativo, quanto as negociações com a Globo. Diria que há pouco avanço nesse aspecto. Mas não estamos com pressa. Entendemos que tudo acontecerá no momento adequado.

Então não tem prazo?
Não tem prazo. O prazo é o começo do campeonato, que é abril do ano que vem. Se até lá não tiver fechado, paciência. Vamos sem o contrato. Se tiver fechado, bom para todo mundo.

Planeja aumentar a receita de patrocínio?
Receita de patrocínio a gente projeta quase estável. Crescimento muito pequeno. A gente faz uma leitura do mercado, entende que o mercado está em momento de paralisação, não teve uma retomada econômica que certa forma nos dê otimismo para captação de receita via patrocínio. No orçamento do ano que vem é estável em relação a esse ano.

Uma das novidades do Bahia nesse ano foi a marca própria de uniformes. Ela já teve algum impacto nessa receita?
Naturalmente esse retorno vem com o tempo, quando fecha o ciclo de um ano. Mas os índices de venda são superiores ao que tínhamos hoje. E como nossos royalties saíram de 10% para 35%, a gente entende que a marca Esquadrão vai dar muita alegria ao torcedor, na sensação de identidade com o clube e também na questão econômica, de aumento de arrecadação.

Você anunciou que a folha do Bahia deve subir de 5% a 10%. Acha que isso pode levar o tricolor a ter planos mais ambiciosos tanto em contratações quanto em competições para 2019?
O que digo sempre é que é preciso ter pés no chão e cabeça nos extremos. É o que temos sempre buscado. Pés no chão no sentido de só gastar o que pode gastar, coerente das responsabilidades, cumprindo compromissos assumidos com atletas, fornecedores, com a gestão da dívida, que é muito grande. Mas é sempre preciso sonhar um pouco mais, entender que é possível ir mais além. A gente lida com emoção, com a torcida, que é extremamente apaixonada pelo clube, e que quer ver o clube a cada ano um pouco melhor do que foi no ano anterior. A gente está sempre dizendo que um clube deste tamanho, que se destruiu em 10, 15, 20 anos, demora muito tempo pra ser reconstruído. A gente está cuidando disso com responsabilidade.

O orçamento cresceu, mas você segue defendendo a política de “pés no chão”. Acha que um período como esse também se mostra arriscado para o clube?

Com certeza. Esse é talvez o momento mais perigoso. Quando a gente começa a ter alavancagem econômica, acha que está bem, cheio de poder e começa a meter os pés pelas mãos. Acho que esse momento vários clubes brasileiros se perderam.
O Bahia tem estudado muito esses casos, eu pessoalmente tenho lido muito sobre a origem da falta de controle e de organização de diversos clubes brasileiros. E quase sempre essa desorganização se dá por prepotência, arrogância, sensação de poder ou respostas rápidas para a torcida, que fatalmente a médio prazo não funcionam. Prefiro sofrer um pouco mais, ser criticado ou questionado por não trazer jogadores de peso, por não trazer jogadores com salários maiores, do que a dois, três anos ver meu clube ser destruído por irresponsabilidade.

Zé Rafael foi negociado para o Palmeiras na maior transação da história do clube. Como esse dinheiro deve ser utilizado?
Esse dinheiro entra no orçamento de R$ 140 milhões. Grande parte desse dinheiro a gente recebe em 2019. Isso significa que compõe a lógica da venda de atletas.

Em relação as renovações, o Bahia já deixou claro que pretende renovar com Gilberto, e o jogador também se mostrou interessado na continuidade. O que falta para esse acordo ser finalizado?
Falta conversa. A temporada acabou agora. Acabou no domingo, a gente hoje está na semana seguinte a temporada, está dentro do tempo necessário para conversas, entender questões financeiras, prazos de contrato, prioridade do jogador, desejo de permanecer ou não no Bahia. São caminhos que tendem a ser construídos. A gente tem uma tendência positiva, apesar de ter muitos desafios a serem superados.

Ramires treina pelo Bahia no Fazendão (Foto: Felipe Oliveira/Divulgação/EC Bahia) Gilberto treina pelo Bahia no Fazendão (Foto: Felipe Oliveira/Divulgação/EC Bahia)

Também encerram o contrato nesse ano jogadores como Vinícius, Douglas Grolli e Nilton. Algum já está descartado?
Não descartamos ninguém e não fechamos com ninguém. Fruto do trabalho da comissão técnica, diretoria de futebol, empresários e os próprios atletas.

Você acha que o futebol nordestino perde com Sport e Vitória na Série B?
Perde, mas tem uma compensação nesse aspecto, que é o acesso de CSA e Fortaleza. O que faz com que tenha o mesmo número de participantes do Nordeste na Série A. Mas no ponto de vista da tradição, ter clubes como Vitória e Sport fora sempre pesa negativamente.

Em relação a Ramires, já houve, de fato, uma proposta pelo jogador?
Chegou nada. De fato, nada. Muita especulação, pouca efetividade. Hoje é jogador do clube, está dentro do planejamento para o ano que vem.

Ramires treina pelo Bahia no Fazendão (Foto: Felipe Oliveira/Divulgação/EC Bahia)Ramires treina pelo Bahia no Fazendão (Foto: Felipe Oliveira/Divulgação/EC Bahia)

Quanto a contratações, já foram definidas as posições que vão ser reforçadas?
Temos mapeado. Mas antes vamos buscar definir as renovações de quem aqui está. A partir dessas definições, passamos a fortalecer novas contratações.

Mas já foi definido o número de contratações?
Depende muito dessas decisões sobre permanência. Acredito que assim que tivermos o diagnóstico dessas permanências, vamos definir um número de contratações. Hoje falaria entre seis e 12, talvez mais perto de 12 do que de seis. Já no primeiro semestre.
A gente tem a cultura de contratar no início do ano. A gente entende que quem contrata no meio do ano fica com a sobra do mercado. Com jogadores que não foram bem em alguns times. Pode ser normal em abril, no final dos estaduais, que a gente faça algumas contratações pontuais.

Em relação a 2019, qual a projeção que faz para as competições que serão disputadas? Há alguma projeção de títulos?
Não faz projeção de título. No futebol é difícil controlar esse tipo de coisa. Veja que a gente está em um ano com boas colocações, mesmo tendo orçamento muito abaixo da média nacional. Nosso desafio é continuar evoluindo. As vezes a gente encara um adversário muito forte nas oitavas de final de uma competição e é eliminado. As vezes consegue um caminho mais fácil, ou superar uma força teórica de uma equipe e se classificar. Futebol é isso. O que podemos fazer é planejar um elenco mais forte do que tivemos esse ano, um investimento maior, fazer trabalho de ambiente, fortalecimento institucional, de relação com a torcida, presença de público no estádio, para que todo esse ambiente externo nos ajude a ter um 2019 muito bom.

Por fim, quais os erros e acertos da sua gestão?
Primeiro falar dos erros. Gostaria muito de ter começado e terminando o ano com um só treinador. Não foi possível. Espero que em 2019 a gente possa alcançar esse objetivo. Um ou outro erro pontual de contratação, muito abaixo da média nacional e da média do Bahia nos últimos 5 ou dez anos, um índice perto de zero, mas temos que reconhecer alguns. Coisa específica de gestão, que é a não aplicação do núcleo de inovação e tecnologia, especialmente o aplicativo e seus derivados. São os pontos que vejo como fraqueza nesse primeiro ano. Nos pontos positivos, acho que a alavancagem econômica do clube, conseguimos atingir a meta de crescimento financeira orçamentária, a política de contratações, índice alto de acerto, jogadores que contrataria novamente. Fortalecimento do relacionamento com a torcida, especialmente a camada mais popular da cidade, que é muito fanática e sustenta o clube nos momentos mais difíceis, mas estava afastada. Temos um plano para quem ganha menos de R$ 1500, vamos lançar uma camisa popular. Temos uma série de ações que aproximam o torcedor do estádio. Diria também o fortalecimento institucional, o Conselho Deliberativo funciona muito bem, tendo seu espaço respeitado, todas as instâncias do clube funcionando. Hoje o Bahia mostra para o Brasil que é possível, com democracia, transparência, eficiência, fazer um futebol de qualidade.