Postado por - Heitor Montes

Motivado, Enderson Moreira revela planos: reduzir distância para elite e ganhar título gigante

Nesta quarta-feira (28), foi anunciada a renovação do contrato do técnico Enderson Moreira com o Bahia até o final de 2019. Após evitar o rebaixamento com rodadas de antecedência e garantir vaga na próxima Copa Sul-Americana, o treinador já deve estar projetando a próxima temporada.

Tranquilo e motivado, Enderson Moreira concedeu entrevista coletiva ao site Globo Esporte no Fazendão, centro de treinamento do Bahia.

O site mostrou a Enderson qual seria a proposta da entrevista: as perguntas seriam relacionadas ao planejamento para 2019, porém, em algum momento, uma concessão seria aberta para falar sobre um tema relevante da temporada que se encerra neste final de semana. Com isso, o técnico respondeu questões como as características dos atletas que buscará para montar o elenco e a ascensão do jovem meia Ramires.

Enderson Moreira fez elogios ao projeto do Bahia que, segundo ele, vem reduzindo a distância da equipe para os gigantes do futebol nacional. Segundo o treinador, o objetivo do clube é voltar a conquistar um título nacional nos próximos anos:

Que de alguma forma a gente possa contribuir para que eles possam continuar sempre crescendo e quem sabe voltar a oferecer para esse torcedor um título nacional. Acho que esse é o grande objetivo do Bahia nos últimos anos. Voltar a ter uma conquista gigante como já teve.

Entrevista na íntegra de Enderson Moreira ao site Globo Esporte

Enderson, você permanece no Bahia para 2019. Queria que você falasse sobre suas expectativas para o próximo ano.
Alegria de poder dar continuidade ao trabalho. Quando você chega no meio de temporada, queira ou não queira, você tem que ir montando a sua ideia de jogo dentro do que já está presente na equipe. A partir do momento que você inicia uma temporada, você pode trabalhar um pouco melhor as ideias de jogo, a filosofia de como jogar, e acredito muito que a gente possa fazer melhor na temporada 2019. Fico feliz pela confiança da diretoria, pelo apoio da torcida, que foi fundamental para que pudesse sair de situações bem complicadas. E que a gente possa entregar para o torcedor, em 2019, um ao muito melhor do que foi 2018.

Você tem trabalhos mais longos no América-MG e no Goiás. Você espera repetir esse mesmo processo no Bahia?
Quanto mais tempo você fica no clube, você tem chance de minimizar seus erros, melhorar um pouquinho o grupo, gerir de uma forma diferente. Quando você passa pelas turbulências, momentos de desconfianças, você sai muito mais fortalecido, você cria um elo muito mais próximo com os atletas, comissão técnica, direção. Então, quando você fica mais tempo, você aprende a conhecer cada atleta, saber o que ele pode te entregar. Isso tudo ajuda muito.

Eu falo que ainda fiz bons trabalhos, apesar de terem sido interrompidos de forma prematura, mas isso, às vezes, é uma pressão que vem de fora, que não consegue controlar. Pelos clubes que passei mais tempo, eles também receberam essa pressão para mudar. Mas como as pessoas que estavam à frente tiveram paciência, a gente conseguiu caminhar mais. Mas também tenho nos trabalhos de tempos menores.... A maioria dos meus trabalhos, a exceção do América-MG e do Goiás, foram trabalhos de seis meses, sete meses, que, no futebol brasileiro, já é um tempo razoável. Exceção feita ao Atlético-PR, que foi apenas um mês. Foram trabalhos que me deixaram orgulhoso. No Santos, saímos do Paulista invictos. No Fluminense, tivemos momentos muito qualificados. Me orgulho muito desses momentos. Foram trabalhos que deixamos uma semente importante, de jogadores novos, novas revelações, que conquistaram uma chance enorme no mercado. Isso também faz parte do trabalho.

Qual é o grande desafio do Bahia para 2019?
O grande desafio do Bahia é se consolidar ainda mais no cenário nacional como uma equipe que está cada vez mais próxima desses gigantes do futebol brasileiro, que tem uma condição financeira absurda. O Bahia está se aproximando muito desse grupo, está conseguindo tirar essa diferença em termos financeiros, com muito trabalho, muita inteligência. Nosso objetivo é estar cada vez mais perto dessa elite. A gente tem como expectativa que isso possa acontecer na próxima temporada.

E Como Enderson Moreira se torna essencial nessa empreitada?
É difícil falar assim. Todos os profissionais, têm pessoas que podem substituir à altura. Tenho uma forma de ver o jogo, procuro montar minhas equipes para que possa jogar o jogo da maneira que acho interessante, sem tirar a tradição do clube, mas agregar algumas coisas que acho importantes. Difícil falar. Quero ser um participante ativo que possa contribuir com esse projeto do Bahia.

Qual foi seu pior momento no Bahia?
A chegada foi muito complicada. Sem conhecimento prévio dos atletas, momento complicado, time na zona do rebaixamento. Tinha terminado a primeira etapa de 12 jogos. Uma semifinal de Copa do Nordeste contra o Ceará extremamente difícil, muita dificuldade de conquistar bons resultados jogando fora. Depois, uma grande decepção, que foi a não conquista da Copa do Nordeste. Mas eu acho que ali também foi uma grande oportunidade para poder buscar um novo caminho. O Bahia estava caminhando para uma forma de jogar e achando que aquilo talvez fosse suficiente. Quando tivemos essa perda, ali começou a acender na minha cabeça uma luz de poder buscar uma coisa diferente. Um jogo que ficou marcado como uma mudança radical de projeto de jogo, foi contra a Chapecoense. A gente sentou, conversou muito e propusemos uma grande mudança. Ali, começamos a mudar a forma de o Bahia jogar.

Se eu entendi bem, você tentou manter a forma de jogar do seu antecessor, que já estava enraizada, mas viu que não estava dando certo e começou a colocar suas ideias de jogo?
Não é que as ideias de quem estava antes, que eu admiro muito, que é o Guto, um grande treinador... Não é que estava errado. Futebol te possibilita chegar por vários caminhos ao sucesso. Independe da forma que você joga. Basta que você possa acreditar nisso. Quando eu cheguei, a forma de a equipe jogar era diferente daquilo que eu tenho por característica. Então, num primeiro momento, você não pode fazer grandes modificações. É pouco inteligente da sua parte fazer grandes modificações. Fui fazendo aos poucos, primeiro conhecendo o que estava aqui, e aos poucos fui verificando onde podia modificar, porque a forma de a equipe jogar naquele momento, não é a forma que eu domino, que eu consigo entender muito. Era um pouquinho diferente. Tentei colocar mais do que é a minha forma de jogar. Quando a gente consegue convencer os atletas, esse é o ponto decisivo.

Enderson Moreira em campo pelo Bahia (Foto: Felipe Oliveira/Divulgação/EC Bahia) Enderson Moreira em campo pelo Bahia (Foto: Felipe Oliveira/Divulgação/EC Bahia)

Com a possibilidade de montar o elenco, quais as características que você busca? Um time de transições rápidas, de posse de bola...?
Primeiro, temos que enaltecer a montagem do elenco de 2018. Ótima montagem, jogadores de muita capacidade. As pessoas ligadas diretamente ao futebol foram muito assertivas na escolha e montagem do elenco. É claro que na montagem você tem alguns que funcionam melhor, dão mais certo, outros que ficam abaixo do que poderiam produzir. Eu quero contribuir com essa montagem. Diego [Cerri, diretor de futebol] é a cabeça pensante dessa montagem do elenco. Eu quero participar de uma maneira efetiva, com minhas opiniões, respeitando o que eles têm de conhecimento. Eu também tenho conhecimento bom de mercado. A gente minimiza o erro quando tem a construção com várias pessoas podendo opinar. Isso que a gente vai buscar fazer. Qual o perfil de atleta que eu busco? Quero montar uma equipe que a gente tenha características diferentes dos atletas. Que possa ter meias que sejam mais dinâmicos, meia mais técnico, mais finalizador. Quando você tem essas características, você pode moldar sua equipe de várias formas e pode também modificar a forma de uma equipe jogar, apenas trocando uma peça: um meia que chega mais, um meia que fica mais, um que é mais rotativo, um com mais presença de área. O que eu penso é que a gente possa trazer uma equipe com jogadores de características diferentes.

Você muito provavelmente perderá Léo e Zé Rafael; Gilberto também pode deixar o clube. Há atletas mapeados para essas posições?*
Existe jogadores mapeados em todas as posições. A gente já tem conversado sobre isso durante o ano. Não de uma maneira conclusiva. A partir de agora, começa a ter esse aspecto mais de tomada de decisão. A gente tem acompanhado bem o mercado, as possibilidades. A gente já sabia dessa possibilidade do Zé Rafael, do Léo, que não pertence ao Bahia. O Gilberto, a gente sabe que não tem nada definido. A princípio, a gente conta muito que possa permanecer. Mas sempre tem alguma possibilidade.

Qual foi a partida que mais te agradou?
Eu vou tirar algumas boas partidas. Eu acho que a gente teve uma boa partida contra o Grêmio lá. Até a expulsão, foi um jogo muito bem jogado da nossa equipe. Nós quase não demos oportunidade. Assim como o Atlético-PR lá, no jogo da Sul-Americana, acho que a gente fez um jogo diferente das nossas características, mas interessante. Contra o Atlético-MG, acabou sofrendo um gol no fim, empatamos logo em seguida. Mas tivemos um poder de criação bom. Acho que fizemos bons jogos no campeonato, o próprio Flamengo, o Ceará agora, a gente fez um jogo muito consistente, o Fluminense. O jogo contra o Atlético-PR, o jogo que o VAR nos tirou dois gols, acho que a gente não deu quase chance nenhuma.

O Ba-Vi não foi um divisor de águas?
O Ba-Vi, pelo momento, o resultado foi muito importante. A atuação foi convincente, um time muito energizado, que entrou para vencer mesmo, muito competitivo. Foi uma das grades atuações. Foi um resultado muito expressivo. Foi um jogo extremamente importante naquele momento.

O Bahia termina o ano com 75 jogos. Zé Rafael fez 67; Gregore, 63. Você não tem o poder de mudar o calendário, mas pode criar artifícios para reduzir esse número. Pode falar o que tem em mente?
A gente tem conversado sobre algumas coisas. A gente precisa pensar... No primeiro semestre, a gente não pode ter tantos atletas com um número tão excessivo de jogos. A gente precisa entrar no Brasileiro, no segundo semestre, com um time mais limpo em termos de minutagem. A gente tem que pensar alternativas para isso. Garantir uma boa pré-temporada, porque isso faz muita diferença. Esse ano, vou confessar que fiquei muito surpreso com a capacidade desse grupo de superar momentos que eu achava extremamente complicados. Eles saíram de alguns jogos que eu não via a capacidade de manter um bom nível de atuação daqui a três dias, e eles me contrariaram. Eles conseguiram fazer jogos de altíssimo nível mesmo com um desgaste enorme. A gente precisa pensar numa forma de não criar tanto desgaste, porque é muito perigoso numa competição como o campeonato nacional.

A maneira como Ramires chegou ao time te surpreendeu?
Eu acho que o Ramires, ele surpreende à medida que ele demonstra a mesma tranquilidade para executar suas ações no time principal como ele estava fazendo no sub-23 ou no sub-20. Isso surpreende um pouquinho. A naturalidade com que ele entrou na equipe. Mas eu já via uma capacidade de poder fazer uma coisa muito interessante no time principal.

Com essa loucura que foi a temporada, você teve tempo para acompanhar equipes de outras competições, como Série B ou Sul-Americana? Alguém lhe chamou atenção?
Ah, cara, falar a verdade para você, eu não tenho muito tempo mesmo. Às vezes, três jogos na semana... Eu gosto de contaminar muito pouco a minha mente com jogos que não vão interferir diretamente no que eu preciso saber, que são os adversários. Se eu pego uma semana que vou enfrentar o Cruzeiro, eu penso no Cruzeiro o tempo todo. Não consigo pensar no futuro adversário. Eu acompanhei alguma coisa, porque a gente é do futebol e sempre acompanha, mas não da forma como eu gostaria. Mas vi muita coisa, acompanho. Bahia, hoje, tem um departamento apropriado para isso, para buscar informações sobre atletas que estão se destacando. A gente consegue filtrar muita coisa.

Você consegue acompanhar os jogadores da base? Pode destacar alguém que pode aparecer com destaque em 2019, assim como Ramires?
Eu acho que sim. Acho que uma equipe como o Bahia, uma equipe grande, tem que sempre buscar na categoria de base bons atletas para o time principal. A gente tem essa expectativa. O Bahia está investindo muito nessas categorias, formação de bons profissionais, aquisição de jogadores de qualidade. A gente tem essa proximidade, que facilita para que possa visualizar esses atletas. Os do sub-20, sempre tem pelo menos dois ou três treinando com a gente. Sub-23 teve vários treinamentos em conjunto. Sub-17, já tivemos atletas presentes no time principal. A gente não deixa haver uma grande distância do time principal para as outras categorias. Infelizmente, não consigo acompanhar essas competições. Não tive tempo para acompanhar in loco. Do sub-23, assisti a alguns jogos. Do time sub-20, muito pouco. Do sub-17, quase nada. Mas a gente tem um profissional, que é o Claudinho, que está muito ligado a isso. Uma das funções do Claudinho é nos trazer informações sobre esses atletas mais jovens.

Da Série B, o Bahia tem Yuri. Da Série A, Juninho. Você tem planos para esses jogadores?
Eu preciso primeiro ter uma definição sobre o desejo de permanecer aqui, se preferem continuar onde estão, se querem um novo empréstimo. A gente está conversando sobre elenco agora. Sobre esses dois casos, a gente não bateu o martelo de forma definitiva. A tendência é que eles possam retornar, e a gente fazer uma avaliação.

Até onde o Bahia poderia chegar na Sul-Americana se não fosse o VAR?
Eu acho que a gente poderia chegar à final. Poderíamos estar hoje nos preparando para um jogo decisivo. A gente poderia chegar um pouquinho mais longe. A gente jogou para isso, acima de tudo.

Em 2016, o Bahia tirou Guto da Chapecoense e, no ano seguinte, perdeu o treinador para o Inter. Este ano, o Bahia tirou você do América-MG. O que uma equipe precisaria fazer ou oferecer para tirar Enderson do Bahia?
Fiz um jogo contra o América-MG, e muita gente fala: “Ah, mercenário”. Não tem nada disso. Eu não sou movido a questões financeiras, acima de tudo. São questões importante. É claro, sou profissional. Mas o que mais me motiva é ter um projeto bom, ter a possibilidade de desenvolver meu trabalho da maneira que eu acho que deve ser, com pessoas que eu gosto, com pessoas que eu acredito. Meu processo no América-MG chegou num ponto em que tudo o que a gente fazia não estava bom mais. Você eleva um pouquinho o patamar da equipe... Aqui no Brasil, eu falo o seguinte: você fica dois anos numa equipe, é como se você ficasse dez lá fora. As pessoas começam a ver aquilo que você já fez e é bom e está funcionando, já começa a achar que não é suficiente. Ela quer mais, e, às vezes, não tem como entregar mais. A partir do momento que eu comecei a perceber que algumas pessoas já não estavam satisfeitas com o nível de jogo que a gente estava apresentando, e era um bom nível, a equipe estava jogando bem, com uma perspectiva boa para a temporada, teve uma sondagem do Bahia, no momento em que eu estava fora do Brasil, no período da Copa. Eu pensei muito. A proposta do Bahia era um desafio muito bacana. A primeira coisa, eu queria treinar um clube do Nordeste. Eu ainda não tinha participado ainda. A segunda coisa, eu vi um clube se reestruturando nos últimos anos, muito sério nos seus compromissos. Achei que era uma grande oportunidade. Quando via que meu ciclo no América estava próximo do fim, se eu não saísse, provavelmente eles teriam me tirado, então eu só antecipei um pouco isso. Vim de coração aberto, sabendo que tinha feito uma escolha que não era por questões financeiras, era de coração mesmo, meu desejo de fazer uma coisa nova, diferente. Fiquei um pouco surpreendido com essa paixão do nosso torcedor, uma coisa maravilhosa, a forma como o torcedor do Bahia é apaixonado pelo seu clube. Eu tinha uma ideia, mas quando você começa a conviver aqui, você tem uma surpresa ainda maior. Vibrei muito com isso. Você também sofre muito nos momentos ruins, de pressão, de chateação, mas é um processo de conquista. Aos poucos, a gente foi mostrando o nosso trabalho, da comissão toda, e eles foram aceitando. Hoje, a gente percebe que há uma comunicação boa com o torcedor, eles entendem o que a gente quer fazer, para onde o futebol está caminhando, que a gente precisa caminhar para esse lado também. Junto com nosso torcedor, a gente pode, quem sabe, alcançar voos bem altos com esse projeto do Bahia. Estou muito entusiasmado, muito motivado, e cada vez mais apaixonado por essa equipe. Que de alguma forma a gente possa contribuir para que eles possam continuar sempre crescendo e quem sabe voltar a oferecer para esse torcedor um título nacional. Acho que esse é o grande objetivo do Bahia nos últimos anos. Voltar a ter uma conquista gigante como já teve.

*Pergunta realizada antes da confirmação da venda de Zé Rafael para o Palmeiras.