Postado por - Heitor Montes

No meio da torcida, Nonato celebra acesso tricolor

Sétimo maior artilheiro da história do Bahia, Nonato faz as vezes de torcedor e prestigia time da arquibancada do estádio Olímpico: "O importante é o Bahia subir"

Acostumado a vivenciar dentro de campo as mais variadas situações defendendo a camisa do Bahia, o ídolo e ex-atacante do Esquadrão, Nonato, sentiu da arquibancada, no último sábado, uma sensação incomum Sentado entre os tricolores que foram ao estádio Olímpico para assistir ao jogo contra o Atlético-GO, que definiu a volta da equipe baiana à Primeira Divisão, o sétimo maior artilheiro da história do Esquadrão, com 125 gols marcados, teve que se contentar em apenas torcer. Ou mais ou menos isso.

Idolatrado pelos tricolores, Nonato foi tietado antes, durante e depois do jogo deste sábado. Dificilmente conseguiu assistir a cinco minutos de bola rolando sem interrupções para uma foto, um autógrafo ou, até mesmo, um comentário do tipo: "Você poderia estar lá", "Você era miseravão". Mas nada disso o fez perder a disposição em atender a todos com o mesmo carinho. Nonato declarou:

Legal esse reconhecimento da galera, de todo mundo. Tem dez anos que foi minha última passagem pelo Bahia, e o pessoal não me esquece. Igual ao que o rapaz falou para mim hoje, ídolo é eterno. Isso não tem preço. Esse carinho, reconhecimento

Logo na chegada à parte da arquibancada reservada para a torcida do Bahia no estádio Olímpico, Nonato foi cercado pelos tricolores. E não tinha como escapar. Quem viu o artilheiro chegar tratou logo de gritar para todos os demais ouvirem: "Olha o Nonato, olha o Nonato aí". E aí não teve jeito. Para todo lugar que o atacante ia tinha uma foto, um abraço, uma mensagem de carinho e até música com direito a provação ao maior rival do Bahia.

"Olê, Olê, os homens tavam p... A Bamor estava soltando rojão, a arquibancada toda sacudia, os tricolores não são moles não. Os submissos estavam comemorando já achando que eram campeões. Mas no fim do jogo, Nonato apareceu. Para minha maior alegria, o time do Leão se f..."

Quanto ao que estava para vir dentro de campo, Nonato estava contente com o carinho da torcida, mas admitiu que nada seria fácil para ele. Ainda mais se as coisas acontecessem como nas últimas partidas contra Sampaio Corrêa, Luverdense e Vila Nova, quando o Tricolor fez gols no finalzinho dos jogos. Nonato declarou:

Agora que a gente vê. A gente está sempre dentro de campo, vê o que o torcedor sofre. Agora estou tendo essa oportunidade de estar desse lado, assistindo. Não é fácil, ainda mais para mim, que jogo. O importante é que estou na torcida. Espero que o jogo de hoje não seja igual ao do Vila Nova, que passamos momentos de apuros. Esse jogo de hoje, com fé em Deus, vai dar tudo certo. Estou ansioso. Não tem jeito, sempre bate a ansiedade. Expectativa muito grande em todos nós pelo acesso do Bahia, clube de grande tradição, tem que estar sempre na Série A, seu devido lugar

BOLA ROLANDO, TIETAGEM E BRONCA

Com a bola rolando, entra em campo então o Nonato torcedor. Mesmo com tietagem ininterrupta da torcida, ele deu um jeito para assistir ao jogo e cumprir a sua tarefa. Nos primeiros minutos, tentou ver o confronto no calor da torcida, no lado mais cheio de tricolores da arquibancada. Impossível. Com dez minutos de jogo, decidiu ir para o lado mais vazio. Não foi 100% calmaria, mas de certa forma deu certo.

Sentado e muito bem acomodado, Nonato começou então a cumprir o seu papel de torcedor e fez à risca o que diz o manual: cantou, bateu palmas, xingou o árbitro, reclamou dos vacilos dos jogadores. Logo nos primeiros minutos, artilheiro que é, claro, não ficou feliz na demora de alguns jogadores para finalizar. Em um lance que Régis partiu livre pelo centro e decidir tocar ao invés de chutar, gritou:

- Abriu, chuta. Abriu, chuta.

Como todo torcedor, Nonato, claro, estava antenado com o que acontecia na rodada. Não demorou muito e perguntou para o torcedor quanto estava o jogo do Náutico. No primeiro gol do Ceará contra o Vasco, o atacante comemorou com os tricolores. A felicidade só foi maior no gol de Edigar Junio. Aí ele levantou da cadeira, foi abraçado e gritou. Em meio a euforia, Nonato, contudo, não esperava que o time tricolor vacilaria no fim da etapa final e sofreria o gol de empate aos 48 minutos. Sentado, não levantou, não falou com os torcedores, não expressou qualquer sentimento. Fez silêncio total.

- O primeiro tempo estava acabando né? Um vacilo - disse já no final da partida.

Nonato sofre com gol de empate do Atlético-GO, no fim da primeira etapa (Foto: Ruan Melo) Nonato sofre com gol de empate do Atlético-GO, no fim da primeira etapa (Foto: Ruan Melo)

NERVOSISMO E COMEMORAÇÃO

Mesmo com o gol sofrido no final do primeiro tempo, tudo ocorria bem para o Bahia. O Vasco continuava perdendo para o Ceará, assim como o Náutico, que era derrotado por 2 a 0 pelo Oeste. Ocorria. Não demorou muito para o Vasco virar o jogo. E o pior. Aos 26 minutos, o Bahia sofria a virada do Atlético-GO. Só o resultado da partida do Timbu mantinha o Tricolor na Primeira Divisão.

E aí que Nonato ficou mais nervoso e impaciente. Agora sempre em pé, virava as costas e baixava a cabeça a cada erro do time. Para o árbitro, só palavrões. Poucas vezes o atacante abriu o sorrisão da etapa inicial. Quando abriu, foi graças a uma brincadeira de um torcedor que gritou:

- Toca para o Nonato, toca para o Nonato.

Mesmo com o time com dificuldade para marcar, o artilheiro mantinha esperanças no segundo gol do Bahia para não ter que depender do resultado dos outros jogos.

- Ainda acho que vai empatar - disse esperançoso o ídolo tricolor.

Mas se o empate não viesse, valia confiar no jogo do Náutico.

- Não tem mais jeito não [do Náutico virar o jogo sobre o Oeste]. Já passou dos 20 minutos lá - disse Nonato.

Mas não bastava a confiança no acesso, tudo tinha que se concretizar. Ao acabar o jogo do Bahia, Nonato voltou a sentar para aguardar a definição da partida do Náutico. Abaixou a cabeça, tirou o boné (dado por um torcedor) e apenas torceu. O momento de tensão não demorou muito e logo ele pôde levantar e celebrar com a torcida o acesso tricolor.

Alívio, né? Todo esse jogo, acabamos perdendo, mas, graças a Deus a gente tinha outras oportunidades de subir. O importante é o Bahia subir. Claro, poderia ter vencido, teria sido melhor, mas o importante foi o acesso. O importante de tudo isso é a alegria do torcedor

Fonte: Globo Esporte