Postado por - Newton Duarte

Bom para poucos e confuso para muitos

Bom para poucos e confuso para muitos

O Bahia perdeu a oportunidade de revolucionar seu plano de sócios. Ao invés de um plano inclusivo e massificado, que de fato fizesse o Bahia seguir o caminho adotado por Palmeiras e Corinthians, clubes que romperam a barreira dos 100 mil sócios recentemente, o que foi lançado a toque de caixa na segunda é um plano com alcance e pretensão menores do que a já reduzida capacidade de 40 mil da Fonte Nova e que se mostra vantajoso para uma fatia reduzida de torcedor: o fanático e o que tem vontade e bolso para empenhar no mínimo R$ 70/mês na compra de ingressos antecipados para o setor Super Norte - o mais barato, mais longe do campo e atrás do gol.

Após nove meses criando expectativa, o Bahia tratou o que era para ser um dos principais atos da diretoria como se fosse uma notícia como outra qualquer no site oficial. Sem evento, sem alarde, deixando o torcedor com mais dúvidas do que certezas. E não apresentou nada irresistivelmente sedutor. Pelo contrário: um monte de planilhas de Excel que força o torcedor a fazer contas e mais contas. Não há prazer.

O plano denominado Arena Tricolor é um pacote de ingressos que só pode ser adquirido por sócios. Portanto, o torcedor que quiser adquiri-lo tem que ser sócio do Bahia, com mensalidade de R$ 40 que agora, a depender do sexo e da distância que o torcedor mora de Salvador, varia de R$ 20 a R$ 40 para um adulto. Quem só quer participar da esfera política, paga um desses valores. Nada muito diferente do que já era antes, exceto pela redução de preço para mulheres, crianças e idosos. Quem também quer ingresso, paga a partir de R$ 70.

Em 2015, o Bahia fará 36 jogos no ano, média de três por mês. Ir ao Super Norte avulso custa ao não sócio R$ 90/mês, considerando que ele vai a todos os jogos em casa. No primeiro semestre, custava R$ 60/mês. Para o novo sócio, custará R$ 70/mês após este primeiro mês de preço promocional.

Acrescente-se que quem já era sócio do Bahia e não pretende adquirir o Arena Tricolor saiu prejudicado. Até então, este sócio tinha 50% de desconto em qualquer setor da Fonte Nova, exceto Lounge; o novo plano só dá direito a pagar metade no Super Norte, ou 25% a 30% de desconto no Norte. Parece confuso? Está mesmo. Não contagia.

Além de um estádio novo e próprio, qual o segredo dos 126 mil sócios do Corinthians e dos 129 mil do Palmeiras? Saber atender a variados perfis, desde quem quer pacote premium a quem só quer bater no peito e se sentir parte do clube. É isso  que falta no plano do Bahia, um modelo bom para poucos e pouco atraente para fazer um não sócio se associar.

No plano do Corinthians, há categoria com anuidade de R$ 160 dividida em 10 suaves parcelas de R$ 16 (média: R$ 13,33/mês). Uma isca e tanto. E dá desconto progressivo a depender do número de jogos que o torcedor for no mês. O ingresso avulso, sem desconto,  custa R$ 50 nesse setor mais barato, atrás do gol. Se o sócio for a um jogo no mês, paga R$ 40 pelo ingresso; dois, R$ 37,50 por ingresso; três, R$ 35 por ingresso.

Se esse sócio corintiano for a um jogo no mês, terá custo de R$ 53,33, quase o mesmo de quem não é sócio e paga R$ 50. No Bahia, quem já era sócio pagará R$ 55 no Super Norte para ir a um jogo por mês, enquanto o não sócio paga R$ 30. O Bahia não contempla esse perfil de público.

Para outro efeito de comparação, equiparei o Corinthians à média de três jogos por mês do Bahia. Lá, o custo anual do plano mais barato para ir a todos os jogos é de R$ 1.420 - 70% mais caro que os R$ 840 do Bahia. Não soa atraente mesmo com a renda per capita em São Paulo (R$ 1.516,21 / IBGE 2014) sendo  55% maior que em Salvador (R$ 973) e com o  Corinthians na briga por títulos. Mas e se o torcedor for convidado a pagar só R$ 16 por mês? Se associa sem fazer conta. Isso falta no Bahia.

O foco do plano de sócios do Bahia não está no cliente. Está em si mesmo. Parte da premissa de que é o torcedor quem deve agradar o clube para fazê-lo crescer, e não o inverso. Uma aposta nada atraente. Como o mercado se regula, o tempo mostrará se o plano será eficaz ou não. Arrisco que não. Afinal, o Bahia criou a expectativa de uma revolução e entregou ao seu torcedor nada mais que uma nova tabela de preços.