Postado por - Newton Duarte

Debate e bate-boca entre Paulo André e Eurico Miranda

Debate termina em bate-boca entre Paulo André e Eurico Miranda

Eurico Miranda disse que salários dos jogadores são muito altos e rebateu o Bom Senso

A Fenapaf (Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol) organizou, nesta segunda, um simpósio para debater possíveis mudanças no esporte nacional, na esteira das discussões levantadas pelo movimento Bom Senso nos últimos tempos. A conversa, porém, terminou em bate-boca. Convidado pela organização como representante da federação carioca, Eurico Miranda, ex-presidente do Vasco,  trocou farpas com o zagueiro Paulo André, líder do movimento.

"Eu não vim aqui para elogiar o Bom Senso, a atitude de 'A' ou 'B'", começou Eurico. "Jogador se esquece de que ganha em um mês o que o trabalhador ganha em cem anos. Eles ganham mais de R$ 200 mil. E dizem que é o mercado. Mercado conduzido por eles", emendou o cartola. "Dizem que a culpa é do dirigente. Ele é o menos culpado" concluiu o ex-presidente vascaino em sua primeira fala.

Eurico ainda falou sobre seus tempos de dirigente, se gabando de ter dado condições às categorias de base do Vasco. Paulo André rebateu.

"Eu joguei no Vasco em 2002 e morava um um rato deste tamanho", disse o zagueiro. "Isso é mentira. Ele não sabe o que é rato. O Vasco revelou muita gente e não foi Paulo André não. Foi Romario e Edmundo", disse Eurico.

Paulo André ressaltou em sua fala que o Bom Senso pede um número mínimo de jogos para os atletas de times menores, que admite reduzir seus salários caso o mercado fique reduzido e alfinetou Eurico ao dizer que não há espaços para "coronelismos". O cartola, por sua vez, desafiou o zagueiro a apontar um atleta do país que tenha feito mais de 70 jogos no ano. Em 2013, o Corinthians, clube de Paulo André, já passou dessa marca mesmo tendo sido eliminado de maneira precoce na Libertadores e na Copa do Brasil.

"Para 2015, teve uma proposta da Globo e da CBF. Se somar todas as competições, você tem 103 datas. São quatro semanas de ferias e quatro de pré-temporada. Em 44 semanas restante no ano, você tem 88 datas disponíveis. Só que são 103 datas com jogos. É como pegar Campinas e querer colocar dentro de Jaú. É necessário que se mude", disse Paulo André sobre o assunto um pouco antes da provocação de Eurico.

O bate-boca foi contido pela organização e pelo próprio zagueiro, que evitou dar sequência à discussão. Além dos dois, outros dirigentes e representantes de diversas áreas ligadas ao futebol estiveram presentes no evento, que ocorreu no Museu do Futebol, no Pacaembu, entre eles Andres Sanchez, que deixou o local sem conversar com a imprensa.

Bom Senso FC: 'CBF está brincando com fogo', diz Paulo André

No início, o discurso adotado pelo Bom Senso FC - movimento com mais de mil jogadores que reivindica mudanças no futebol brasileiro - com a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) era cauteloso. Os atletas afirmavam não querer brigar ou bater de frente com a entidade e a greve era uma possibilidade bem distante.

Paulo André, zagueiro do Corinthians | Foto: Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians

Paulo André espera diálogo com CBF para evitar greve de jogadores durante campeonato

Dois meses depois, os jogadores mudaram de vez o tom do discurso. Protestos têm sido organizados a cada rodada do Campeonato Brasileiro, com os atletas manifestando de alguma forma sua insatisfação dentro de campo - seja cruzando os braços por um minuto, ou sentando no gramado após o apito inicial das partidas.

O que quer o Bom Senso FC

  • 30 dias de férias

Os jogadores pedem um período de recesso de 30 dias corridos entre o fim de uma temporada e o início da pré-temporada no ano seguinte.

  • Período de pré-temporada adequado

Os atletas alegam que um período de pré-temporada entre 4 e 6 semanas é imprescindível para que os jogadores suportem fisicamente a sequência pesada de jogos ao longo do ano.

  • Máximo de 7 jogos por mês

Os atletas dizem que viagens longas durante a temporada acabam sendo muito cansativas, o que faz com que os jogadores não tenham tempo de se recuperar para os jogos em um intervalo de 2 dias.

  • Adoção do fair-play financeiro em 2015

Seguindo o modelo europeu adotado pela UEFA, o Bom Senso FC pede que os clubes brasileiros sejam obrigados a ter maior disciplina financeira e que só possam competir com valores condizentes com suas receitas.

  • Formação de um conselho técnico com jogadores, atletas e executivos

O movimento pede que a CBF inclua uma comissão formada por atletas, treinadores e executivos nas discussões sobre campeonatos, calendários, regulamentos etc.

Agora, eles já admitem até a possibilidade de uma greve geral na primeira divisão do torneio nacional.

Em entrevista à BBC Brasil, o zagueiro do Corinthians, Paulo André, líder e porta-voz do movimento, deixou claro que, caso não haja pelo menos o diálogo para discutir as mudanças propostas, a greve dos atletas será inevitável.

"Eles estão brincando com o fogo, e os atletas estão chegando no limite de sua paciência. Nao sei se a greve é para agora, mas se continuar desse jeito, ela vai acontecer", afirmou.

Conforme o Bom Senso FC foi ganhando força, a postura da própria CBF com relação ao movimento também mudou. Se antes a entidade aceitava dialogar com os atletas e até elogiava a iniciativa deles, hoje o discurso é diferente.

O vice-presidente da confederação, Marco Polo Del Nero, aconselhou os atletas a conversarem com os clubes para pedir um "revezamento no elenco”, caso queiram jogar menos. Já o presidente da entidade, José Maria Marin, pediu ao Bom Senso para pensar nos times de divisões inferiores, que não têm calendário para jogar a temporada toda e sobrevivem dos longos estaduais no início do ano.

Restando ainda uma rodada para o término do Campeonato Brasileiro, o Bom Senso FC ainda aguarda um posicionamento da CBF com relação às reivindicações para definir os próximos passos do movimento.

Leia abaixo a entrevista de Paulo André à BBC Brasil.

BBC Brasil - Entrevistamos Alex (meia do Coritiba e um dos líderes do movimento) em outubro, quando o Bom Senso FC estava começando e, naquela época, o discurso de vocês ainda era de diálogo com a CBF. O que mudou de lá para cá?

Paulo André -No início, a gente buscou o diálogo, a gente buscou ser o mais transparente possível nas negociações com a CBF, fomos recebidos duas vezes na sede da entidade e na segunda reunião ficou claro que a CBF não tinha nada a acrescentar ou a discutir nos pontos levantados pelo Bom Senso. E essa falta de vontade de buscar um produto melhor para todos incomodou o Bom Senso e fez com que a gente começasse a se manifestar antes dos jogos para chamar a atenção do público e da própria CBF.

BBC Brasil - Como está o diálogo com a CBF agora?

Paulo André -Nós não tivemos mais reuniões, nossa comunicação com eles agora tem sido por meio de notas oficiais. Nesta semana as coisas esquentaram um pouco mais, a gente vê as declarações dos dirigentes, primeiro não reconhecendo a legitimidade do Bom Senso e num segundo momento dizendo que é impossível mudar isso, mudar aquilo, que não adianta só olhar pela visão dos atletas... Ou seja, eles não têm a menor ideia do que nós estamos falando, realmente não estão preparados para estarem no cargo em que eles estão. E nós mais uma vez - com os protestos aumentando a cada rodada - estamos tentando encontrar um senso comum que possa atender as nossas demandas, ou que possa pelo menos argumentar contra elas de forma eficiente, que nos convença para que a gente fique quieto e vá trabalhar.

BBC Brasil - A CBF tem argumentado que "se os atletas querem jogar menos, eles devem pedir um revezamento do elenco nos seus clubes”. O que você acha disso?

Paulo André -Essas declarações dos dirigentes da CBF demonstram toda a incapacidade técnica que esses políticos têm de tratar o futebol, a gestão do futebol profissional. Queria perguntar pra eles quem é que paga a conta de um elenco mais inchado pra que se limite o número de jogos dos jogadores, mas não do clube. Eles estão indo completamente na contramão de tudo o que é lógico e que é racional, de tudo o que é praticado em outros países e têm obtido sucesso. Infelizmente eles vivem nos tempos das pedras, onde eles acreditam que ninguém tem nada a acrescentar ao conhecimento que eles possuem.

BBC Brasil - Quantos jogadores estão no movimento agora?

Principais reivindicações dos atletas são sobre o calendário e o fair-play financeiro

Paulo André -Temos mais de mil assinaturas, praticamente todos os clubes das séries A e B aderiram. Temos também o apoio de seis clubes da Série A, o que é muito importante, e a gente acredita que os clubes serão o diferencial num momento de tomada de decisão pela CBF.

BBC Brasil - Quais são esses clubes?

Paulo André -Minha cabeça está um pouco ruim agora, mas são Bahia, São Paulo, Flamengo...tem mais três, mas não estou lembrando agora.

BBC Brasil - Vocês têm feito protestos em todas as rodadas ultimamente. Como surgem as ideias desses protestos?

Paulo André -As ideias surgem do bate-papo dos atletas, de forma inusitada, engraçada, porque cada um tem uma manifestação, uma vontade, e a gente tenta escolher a votada pela maioria, só que com alguns princípios básicos, de se respeitar o torcedor, de respeitar o espetáculo e o clube e só tentar demonstrar nossa insatisfação com a CBF. Eles devem aumentar na próxima rodada, e a gente não descarta a greve na semana que vem. A greve não tem nenhum tabu, não tem nenhuma dificuldade, é simplesmente uma posição de bom senso do movimento de aguardar até o último momento.

BBC Brasil - Até quando vocês vão esperar uma resposta da CBF sobre as reivindicações do movimento?

Paulo André -Essa cronologia é fundamental, lógico que não dá para mudar o futebol, o fair play e o calendário de um ano para o outro, mas é necessário que a gente sente numa mesa e resolva: em 2014 vai acontecer isso, em 2015 isso, em 2016 aquilo, dando prazo aos clubes, às federações e aos atletas para que se preparem. É evidente e eles nao podem negar que as mudanças são urgentes. O problema é que eles fingem que elas não são urgentes e que não são necessárias. Eles estão brincando com o fogo e os atletas estão chegando no limite de sua paciência. Não sei se a greve é para agora, mas se continuar desse jeito, ela vai acontecer.

BBC Brasil - Não seria grande o impacto de uma greve em pleno ano de Copa do Mundo no Brasil?

Paulo André -Grande é o despreparo dos nossos políticos do futebol, que nao previram que em 2014 teria a Copa do Mundo e não adaptaram o calendário. Grande é o despreparo deles para organizar a Copa do Mundo. A greve é o menor dos problemas deles e reflete essa incapacidade de gerir o futebol brasileiro.

Eurico acha cedo para Andrés Sanchez “sentar na janela” da CBF

A atual guerra política pela presidência da Confederação Brasileira de Futebol não empolga Eurico Miranda. Enquanto retoma seu espaço nos bastidores do Vasco, o ex-presidente cruz-maltino não considera os atuais postulantes ao cargo na CBF preparados para o posto, apesar de elogiar o ex-mandatário corintiano Andrés Sanchez.

“Sou amigo do Andrés, mas ele tem um caminho pela frente. Parodiando o grande filósofo cearense Romário, você não pode querer sentar logo na janela. Ele chegou há pouco. Foi um excelente homem no Corinthians, administrou muito bem o clube, mas a CBF tem de ser geral, e não específica para São Paulo e Rio. Isso aqui é um País continental”, afirmou, brincando ao se referir ao Baixinho.

Eurico Miranda afirma que, se tivesse direito a votar na CBF, não saberia qual seria seu candidato

Sanchez é apontado como principal nome da oposição da CBF. O outro dirigente especulado entre os opositores é o de Francisco Novelleto, presidente da Federação Gaúcha de Futebol, mas Eurico também não o considera preparado.

“Também não acho. Ele está na ponta do Brasil e não dá para ele saber o que está acontecendo lá”, afirmou, apontando com a mão direita para cima, em referência às regiões Norte e Nordeste.

Presidida atualmente por José Maria Marin, a CBF foi criticada por Eurico Miranda durante o evento nesta segunda-feira, deixando claro que o candidato da situação, Marco Polo Del Nero, também não o atrai. “Se eu tivesse direito a voto, não seria em nenhum desses que estão aí”, afirmou. “Não tenho candidato”, completou.

Apesar de toda a expectativa sobre o pleito para sucessor de Marin, nenhum dos nomes comentados oficializou a candidatura até o momento.


Fonte: Gustavo Franceschini/UOL - Renata Mendonça/BBC - Luiz Ricardo Fini/Gazetapress

Foto: Antônio Gaudério/Folhapress – Ag. Corinthians - Fernando Dantas/Gazeta Press