Postado por - Newton Duarte

Jorginho solta o verbo

Em entrevista, Jorginho solta o verbo, alfineta Souza e fala sobre intervenção

Nesta entrevista, Jorginho fala sobre o atual e o ex-clube. Queda de rendimento, intervenção, Joel Santana e Souza estão entre os aperitivos

Para matar a saudade


O Bahia reencontra hoje seu antigo comandante. Demitido após a goleada por 5x1 no Ba-Vi de reabertura da Fonte Nova, dia 7 de abril, Jorginho enfrentará o Bahia pela primeira vez após a saída. Ele assumiu o Náutico no sábado passado com a missão de salvar o time pernambucano do rebaixamento e será o adversário tricolor das 16h. 
O Náutico é o lanterna do Brasileirão, com oito pontos em 13 rodadas. No ano passado, Jorginho evitou que o Bahia caísse para a Série B. Pegou a equipe na 16ª posição, com 17 pontos, e comandou a quinta melhor campanha do returno da Série A. O time acabou em 15º, com 47 pontos, e se salvou.

Nesta entrevista, Jorginho fala sobre o atual e o ex-clube. Queda de rendimento, intervenção, Joel Santana e Souza estão entre os aperitivos.

Jorginho treinou o Bahia até abril; hoje comanda o Náutico na Fonte Nova 

O desafio que você tem com o Náutico agora é parecido com o do Bahia no ano passado?
Não tem semelhança. É completamente diferente. O Bahia tinha um time formado e alguns atletas cresceram muito quando eu cheguei. Aqui não tem time formado e a insegurança e instabilidade são muito grandes. O desafio com o Bahia perto do daqui era mamão com açúcar.

Após duas recusas, por que aceitou treinar o Náutico?
Eu prometi ao presidente que se não aparecesse nada que me interessasse e ele precisasse de mim, eu iria. Continuei a mesma coisa. Quem tem palavra cumpre.

Depois que deixou o comando do Bahia, você continuou acompanhando o clube de longe?
Sim, tenho acompanhado, inclusive os problemas políticos que tiveram, as pessoas que saíram, acompanhei tudo. Eu gosto do Bahia.

O Bahia conseguiu bons resultados no início do Brasileiro. Isso te surpreendeu?
Não. Depois do jogo contra o Vitória (5x1) eu falei que tinha que ter calma com esses garotos. O que aconteceu comigo é que eu quis mostrar às pessoas que tinham o comando do clube que, se tivesse que mudar o jeito de jogar, não tinha condição, não tinham peças. A característica dos jogadores é pra jogar dessa forma que está. Eu falava, mas eles não entendiam. Tem uma hora que você precisa mudar algumas coisas porque os times vão aprendendo a jogar com você. Se o time tem mais qualidade e atenção, já sabe como o Bahia joga e consegue dificultar.

Então o Bahia tem enfrentado dificuldade nas últimas rodadas porque os adversários já sabem como o time vai jogar?
Claro. O que não quer dizer que meu time vai conseguir vencer. Eu sei como o Bahia está, mas aí vem o momento, a capacidade no dia, a estabilidade... Meu time está muito nervoso e tudo isso pesa. Agora, você pega um Atlético Mineiro, com a qualidade que tem e que tava sobrando... É difícil. Eu vi o jogo.

Qual a sua opinião sobre a intervenção judicial no Bahia?
Se aconteceu, é porque alguma coisa estava errada. Senão, não tinha acontecido nada. Aprendi a ter um respeito muito grande pelo Marcelo Filho, me tratou muito bem. Marcelo não cumpriu de me segurar, mas é um cara muito gente boa e fico muito triste, principalmente porque o Bahia e a torcida ficam passando por apuros.

Paulo Angioni também saiu do Bahia após uma goleada para o Vitória, a de 7x3 em maio. O pedido de demissão foi surpresa?
Não me surpreendeu. O seu Paulo já tava ficando cansado de algumas coisas. Ele já estava há dois anos e meio, né? O futebol é visto como resultado depois de um jogo, as coisas que as pessoas fazem pela melhora do clube ninguém vê. Uma pessoa como o Paulo chega uma hora que começa a pensar, mas ele fez muita coisa boa pelo Bahia. O Bahia foi pra Série A depois dele chegar e se manteve lá.

Você foi demitido do Bahia após a goleada por 5x1 no Ba-Vi, na reabertura da Fonte Nova. Como é voltar contra o Bahia?
Sou estritamente profissional. Eu não vivo da emoção. Isso é bom para o torcedor, para a imprensa. Essas coisas vão ficar na história, mas eu sou profissional. Eu tomei cinco e amanhã dou de cinco, não fica nenhuma mancha.

Depois que você saiu, o Bahia foi goleado novamente pelo Vitória por 7x3...
Não fiquei surpreso, não. Quando o treinador (Joel Santana) chegou aí, ele disse a seguinte frase: ‘Ah, o primeiro tempo tava até bom, aí não sei o que houve no intervalo e veio desse jeito (com relação à goleada por 5x1)’. Agora eu sei o que houve com ele (Joel saiu após o 7x3). Ele não é benquisto por ninguém. Comigo foi um acidente de percurso, os jogadores queriam me ajudar tanto, já sabiam que eu podia sair e tentaram como uns malucos, porque são garotos muito gente boa. Os moleques merecem todo apoio e crédito.

Levaria algum jogador do Bahia para o Náutico?
Tem um monte de jogador que eu gostaria de trabalhar de novo, bastante mesmo.

Souza seria um deles? Tem sido pouco aproveitado e está sem crédito com a torcida...
Souza comigo aí foi o seguinte: chamei ele e conversei dizendo que começaria com Obina, pois queria dar oportunidade, mas que se ele me mostrasse, voltaria a jogar. Não tenho nada contra Souza. Aí tem a forma de conduzir as coisas, cada um comanda de uma forma. Souza hoje seria útil pra mim. Ele jogando de centroavante me ajudava muito, ele dentro de campo. Souza dentro de campo me ajuda, treinando, jogando todos os jogos, não se machucando muito. O Souza que joga é uma pessoa interessante. Ele é uma pessoa boa, só faz mal pra si mesmo. Ele que se enforcou aí.

Então te interessaria ter Souza no Náutico?
O problema é o seguinte: como eu conheço Souza por inteiro, aí vem o custo-benefício. O Náutico não tem a menor chance de pagar Souza e se ele viver a mesma vida daí, o custo-benefício seria muito alto. Se Souza jogasse todos os jogos do campeonato e treinasse todos os treinos, seria interessante. Mas isso acontece?


Fonte: Daniela Leone - Correio*

Foto: Almiro Lopes/Arquivo Correio