Postado por - Newton Duarte

Para Marcelo Sant'Ana, o Vice não é o grande rival do Bahia

O Vitória não é o grande rival para o novo presidente do Bahia

Todo garoto sonha ser craque em seu time do coração. Marcelo Santana quis ser Bobô – "gênio" – Charles – "craque" – ou Paulo Rodrigues – "volante que jogava de cabeça erguida", ícones do campeão brasileiro de 1988.

Por falta de capacidade técnica, os projetos do garoto de sete anos não se concretizaram. Mas, aos 33 anos, ele conseguiu mais. É presidente do Bahia e já aponta que o seu grande rival não será o Vitória.

A eleição de Marcelo Santana surpreendeu jornalistas do Brasil todo que, com ele, cobriram a Copa do Mundo. Todos viam nele um companheiro trabalhador e muito alegre e não um candidato.

"E não era mesmo", diz o presidente. "Minha chapa só foi lançada em 20 de novembro, dia da Consciência Negra. Eu fui candidato porque não estava contente com a situação do Bahia e com outros candidatos.", explica.

O favorito era Antonio Tillemont, radialista em Salvador. "Radialista não tem problema. O duro é que ele também é empresário de atletas. Um conflito de interesses que me assustou".

Marcelo não via nenhum projeto de Tillemont e, então veio o raciocínio que tudo mudou. "Eu vi que era melhor do que ele. E recebi incentivo dos meus amigos. Então, resolvi sair e deixar o sócio decidir".

Fez um acordo com Rui Cordeiro, que também era candidato e foi à luta. Juntos, em 13 de dezembro, venceram com 1.718 votos, 42% do total. Tillemont teve 35%. Marcelo, que não foi jogador, estava eleito para dirigir sua paixão.

E paixão não vai faltar para Marcelo. Em campo, na torcida. No gerenciamento do clube, não. Ele fala muito mais em planejamento e foco do que em atitudes tomadas pelo impulso de um torcedor.

Com uma dívida altíssima a atormentá-lo, Marcelo Santana escolheu um rival para tentar fazer o faturamento do Bahia crescer. E, surpreendentemente, não é o Vitória, eterno rival.

"Nosso problema não é Vitória. O que temos de enfrentar são clubes de fora com torcida aqui. Baiano precisa torcer para time baiano, seja o Bahia ou o Vitória. Nosso interior ainda tem influência de times cariocas que chegavam aqui pela ondas curtas da Rádio Globo. Se esse não muda mais, precisamos garantir os novos, que não podem virar torcedores de times do Sul ou da Espanha e Inglaterra".

"Não queremos torcedores que amem os jogadores do Bahia. Queremos torcedores que amem o clube. Isso é muito importante", diz o jornalista. "Fiz MBA em marketing e branding. Estudei na Espanha e fiz gestão, técnica e administração do esporte pela Universidade do Futebol".

Marcelo, que nunca cobriu o Bahia como jornalista, defende que o futebol não seja encarado como um jogo e sim como uma unidade de negócios no ramo de entretenimento.

"O clube bem dirigido é que vai permitir ter um time que dê alegria ao torcedor. O amor e o respeito do torcedor são a essência do futebol, mas isso só se alcança com clube bem gerido. Caso contrário, a paixão continua, mas na segunda ou terceira divisões".

Para Marcelo, é quase impossível o Bahia voltar a ser campeão brasileiro, pelo desnível financeiro que o separa dos maiores clubes do Brasil. Mas absurdo tão grande é a coleção de campanhas fracas acumuladas nos últimos anos.

"Nas últimas quatro temporadas, o Bahia viveu a síndrome do cai não cai. Escapou três vezes e agora caiu. Isso é muito pouco diante do nosso potencial. O Bahia é para ficar entre os dez primeiros da Séria A", afirma.

Em 2015, o foco é subir. "A meta é essa. É obrigação minha, do treinador e dos jogadores fazer o Bahia voltar à elite, sem desculpas".

Ele colocou metas e prazos para os novos diretores do Bahia. Vai cobrar rendimento. Algumas decisões foram tomadas. "O Bahia não será mais aquele clube que contrata 20 para o Baiano, manda 15 embora e contrata 25 para o Brasileiro. Nosso elenco será de 30 jogadores e usaremos nossa base. São garotos que têm identidade com o clube, que têm o DNA do Bahia e que possuem ambição. É o nosso futuro".