Ricaços, clubes ingleses pagam 'merreca' a funcionários comuns
City é um dos clubes da elite inglesa que não paga o 'mínimo justo' aos funcionários comuns - Getty Images
O novo acordo bilionário fechado pela Premier League com a TV reacendeu a polêmica do 'salário mínimo' no futebol inglês. Serão 5,1 bilhões de libras (R$ 22,4 bilhões) por três anos de acordo, mas, ainda assim, apenas o Chelsea entre os 20 times da elite paga a funcionários comuns - de limpeza, segurança e manutenção, por exemplo - o valor dado como mínimo necessário para uma vida digna no Reino Unido.
A lei estabelece que o menor valor pago a um trabalhador nos quatro países que compõem a união política - Escócia, Inglaterra, Irlanda do Norte e País de Gales - seja de 6,50 libras por hora (R$ 28,42), é o chamado minimum wage.
No entanto, uma entidade independente, a Living Wage Foundation, defende um mínimo maior: 9,15 libras (R$ 40,05) em Londres e 7,85 libras (R$ 34,36) no restante do território.
A fundação atualiza os valores anualmente e leva em conta a necessidade de gastos de uma família de quatro pessoas, composta por pai, mãe e dois filhos, estes em idade escolar e sem atividade remunerada, com, entre outros, alimentação, vestimenta, educação, saúde, transporte e recreação. O levantamento sempre considera 40 horas semanais de trabalho por indivíduo.
Durante a entrevista que deu nesta quarta-feira para falar sobre o novo contrato fechado com as emissoras Sky e BT, o chefe-executivo da Premier Lague, Richard Scudamore, foi pressionado sobre o motivo de as equipes, que agora ganharão ainda mais dinheiro da TV, não fazerem o que faz o Chelsea, que desde janeiro paga a seus funcionários o Living Wage e também exige que empresas contratadas para a prestação de serviços façam o mesmo.
Nos questionamentos, os jornalistas fizeram questão de lembrar que jogadores e técnicos, por outro lado, ganham valores que são verdadeiras fortunas.
O dirigente apressou-se em tirar qualquer responsabilidade de Liga sobre o assunto e o colocou como uma questão política.
"No fim do dia, há uma coisa chamada living wage, mas há também o minimum wage, e os políticos têm o poder de aumentar o salário mínimo. É uma questão totalmente voltada para os políticos, não somos nós [os clubes] que temos que fazer", respondeu Scudamore.
Questionado se não se sente mal ao ver clubes pagando a alguns jogadores até meio milhão de libras (R$ 2,19 milhões) por semana, o dirigente foi enfático: "Não, isto não me incomoda."
"A realidade é que assim como na indústria do cinema, na indústria do pop, o talento, ao talento absoluto é pago um valor desproporcionalmente alto. Essa é a realidade em qualquer indústria de talento. As estrelas que entram em campo na Premier League são estrelas mundiais, é um mercado mundial. Eu não defino a taxa deste mercado, ela é definida pelo mercado mundial", seguiu argumentando Scudamore.
No novo acordo, que valerá para as temporadas 2016/2017, 2017/2018 e 2018/2019, o lanterna do Campeonato Inglês, por exemplo, receberá pelos direitos de TV 99 milhões de libras, ou, pelo câmbio atual, o equivalente a R$ 435 milhões. Logo, dinheiro para time que joga a elite do futebol no país não falta.
A discussão sobre o não pagamento do salário mínimo considerado digno no futebol da terra da rainha já havia sido retomada no dia 31 de janeiro, quando o "The Guardian" noticiou que o Manchester United pagou ao seu ex-técnico Alex Ferguson 2,165 milhões de libras (R$ 9,49 milhões), em 2014, como embaixador do clube.
No sábado, o colunista do jornal Ian Jack usou a reportagem, acrescentou que o contrato do aposentado Ferguson prevê não mais do que 20 dias de trabalho por ano e dividiu todo o valor ganho por ele, o que deu 108.250 libras por dia, o equivalente, pelo câmbio atual, a R$ 474,5 mil, e questionou com veemência como os clubes ingleses não podem pagar o Living Wage.
Até o momento, nenhuma das outras 19 agremiações da Premier League - o Chelsea é a exceção - se manifestou sobre o assunto após a divulgação do novo acordo pelos direitos de transmissão.