Postado por - Newton Duarte

Um ano de Gestão de Marcelo Sant'Ana

Com necessidade de recomeçar, Sant’Ana completa um ano no Bahia

Gestão de presidente completa um ano em meio a busca por técnico e reforços. GloboEsporte.com relembra fatos ocorridos durante a primeira temporada do cartola

Passava das 19 horas do dia 13 de dezembro de 2014 quando o resultado da eleição se tornou público. Na Arena Fonte Nova, em meio a vários torcedores e jornalistas, Marcelo Sant’Ana era declarado o novo presidente do Bahia, eleito por 41% dos sócios aptos a participar do processo eleitoral. No primeiro discurso, a preocupação com a situação de funcionários, com a profissionalização do clube e o com o departamento de futebol. Eram prometidas a retomada da credibilidade no mercado e a reconstrução do departamento de futebol. Nascia a esperança de dias melhores para uma agremiação outrora gigante, mas que parecia condenada a viver de glórias antigas.

Marcelo Sant'Ana completa um ano como presidente do Bahia (Foto: Reprodução / Facebook)

Um ano se passou desde as primeiras palavras de Marcelo Sant’Ana como presidente do Bahia.  O futebol teve início promissor, mas fraquejou na Série B do Campeonato Brasileiro, principal competição de 2015. Após 365 dias do resultado da eleição que definiu o sucessor de Fernando Schmidt, o clube apresenta visível evolução administrativa, acompanhada da necessidade de um novo recomeço. Sem técnico ou reforços contratados, sequer há tempo para comemorar o primeiro aniversário do mandato. É tempo de trabalho, não de exposição.

Nas últimas semanas, o GloboEsporte.com procurou Sant’Ana por meio da assessoria de imprensa do Bahia para obter uma avaliação sobre o primeiro ano na presidência do clube. Uma entrevista por e-mail chegou a ser proposta. Mas, até o fechamento desta matéria, não houve resposta para os questionamentos realizados pela equipe de reportagem. O silêncio tornou-se estratégia. Bastante midiático, o presidente tricolor tem evitado os microfones. Falar se tornou ação de segunda ordem. A prioridade é extinguir a sensação de que, apesar dos passos dados, o clube segue na estaca zero.

PRIMEIROS PASSOS E O PRIMEIRO VEXAME

Logo ao ser empossado presidente, no dia 17 de dezembro de 2014, Marcelo Sant’Ana anunciou Marcelo Barros como diretor executivo do Bahia, o responsável por administrar dívidas e tornar viável uma estrutura acostumada ao caos econômico. Ainda em dezembro, Alexandre Faria e Sérgio Soares foram confirmados como diretor de futebol e técnico, respectivamente. Em fevereiro, foi a vez de Jorge Avancini assumir a diretoria de mercado. Sant’Ana se cercava dos profissionais que julgava necessários para levar o Tricolor a outro patamar.

Bahia anunciou Jael no início da temporada, mas atacante não desembarcou no Fazendão (Foto: Reprodução)

Os reforços chegaram ao Bahia em janeiro, acompanhados do primeiro vexame. O atacante Jael foi efetivamente o primeiro atleta anunciado pela gestão Sant’Ana. O histórico com a camisa do Bahia e a idolatria da torcida aumentaram a expectativa em torno do jogador. A negociação, contudo, resultou em uma situação vergonhosa.

Jael foi anunciado oficialmente juntamente com Adriano Alves, Tchô e Willians Santana. Logo após o anúncio, o empresário do atacante, Raudinei Freire, informou que a negociação ainda não havia sido concretizada. Dias depois, o Bahia divulgou nota em que confirmava que o atleta não voltaria a vestir a camisa tricolor. No fim das contas, a carroça havia sido colocada na frente dos bois.

O episódio serviu de lição. Desde então, o Bahia passou a anunciar jogadores apenas quando o contrato estava de fato assinado. Tornou-se comum acompanhar reforços que treinavam no Fazendão, mas ainda não haviam sido oficializados pelo clube. Após o vexame, a carroça e os bois foram colocados em seus devidos lugares.

ALEGRIAS E FRUSTRAÇÕES

A primeira experiência em campo do time formado na gestão Sant’Ana foi o amistoso contra o Shakhtar Donetsk. E o resultado superou qualquer expectativa. Azarão, o Tricolor venceu o clube ucraniano por 3 a 2, com gols marcados por atletas revelados nas categorias de base, e iniciou um período de bons resultados. Na Copa do Nordeste, o time avançou para a segunda fase pela primeira vez em três anos de disputa. No Campeonato Baiano, a equipe de Sérgio Soares cometeu erros, mas também se classificou sem grandes dificuldades.

Bahia conquistou o título de campeão estadual desta temporada (Foto: Felipe Oliveira/Divulgação/EC Bahia)

Entre abril e maio, o Bahia se colocou como candidato aos títulos das duas competições. Foi quando as primeiras frustrações em campo surgiram. Na partida de ida da Copa do Nordeste, derrota em casa para o Ceará por 1 a 0. No Campeonato Baiano, tropeço diante do Vitória da Conquista por 3 a 0. Na segunda partida contra o Vozão, novo revés, desta vez por 2 a 1, e a segunda colocação no torneio regional. A recuperação veio poucos dias depois, no estadual, quando o Tricolor venceu o Bode por 6 a 0 e faturou o título.

A campanha nas primeiras competições do ano aumentou a confiança na possibilidade de conquistar uma das vagas para a Série A no fim da temporada. Mais do que isso, existia a expectativa de que o Tricolor brigasse pelo título nacional. Dentro de campo, no entanto, os jogadores não conseguiram corresponder. O Bahia patinou durante a Segunda Divisão, não venceu nenhum Ba-Vi em 2015, teve o técnico Sérgio Soares substituído por Charles Fabian na reta final e terminou o ano como 9º colocado do torneio, longe do regresso para a elite do futebol nacional.

O fracasso fez com que Marcelo Sant'Ana mudasse o rumo do departamento de futebol do Bahia. Alexandre Faria foi demitido e Nei Pandolfo contratado para planejar o elenco da temporada 2016. O presidente optou pela correção de rumo para tentar alcançar o que não conquistou no primeiro ano à frente do clube.

QUEM CHEGOU E QUEM SAIU

Antes de ser eleito, Marcelo Sant'Ana prometia contratar poucos jogadores e utilizar bastante as categorias de base. Os jovens atletas criados no clube realmente tiveram espaço na gestão do novo presidente, mas o Bahia não economizou em buscar peças no mercado. No total, foram 23 contratações em 2015, número pouco inferior ao do ano passado, quando foram anunciados 26 novos jogadores.

Bahia contratou vários jogadores para as laterais, mas nenhum se firmou (Foto: Divulgação/EC Bahia)

Apesar do elevado número de atletas que desembarcaram no Fazendão, o aproveitamento foi baixo. O departamento de futebol tricolor não conseguiu acertar nas laterais. Tony, Marlon, Adriano, Cicinho e João Paulo chegaram para tentar solucionar os problemas pelos lados do campo, mas não conseguiram dominar o setor. Dos jogadores que chegaram após o início da Série B, Eduardo e Roger foram os que tiveram melhor rendimento e assumiram a titularidade. Alexandro foi contratado como esperança de gols, mas não conseguiu render o esperado e deixou o clube menos de dois meses após ser apresentado.

Além das contratações equivocadas, a negociação de Titi para o futebol turco prejudicou o sistema defensivo do Bahia. Até a saída do zagueiro, o Tricolor tinha uma das melhores defesas da Série B, com dez gols sofridos. Ao lado do experiente defensor, Robson havia subido de produção e se tornado titular inquestionável. Sem Titi, o time passou a ter sérios problemas com a bola aérea e terminou a Segunda Divisão com 41 gols sofridos. Bruno Paulista também foi negociado no meio da temporada. O volante deixou o Bahia com destino ao Sporting, de Portugal, por 3,5 milhões de euros, o que correspondeu a pouco mais de R$ 13 milhões. O dinheiro foi utilizado para saldar dívidas e manter o clube com os salários em dia.

A demissão de Sérgio Soares foi um ponto mal conduzido pela administração tricolor. No início da gestão, Marcelo Sant'Ana defendia a continuidade do planejamento elaborado para a temporada, o que incluía a manutenção do técnico independente de pressões externas. O plano foi seguido apesar das atuações ruins na Série B. Após a derrota no Ba-Vi do segundo turno, na Arena Fonte Nova, o presidente concedeu coletiva e reforçou a ideia de que o treinador não seria descartado. Na rodada seguinte, o empate com o Paysandu provocou uma mudança de postura. Sérgio Soares foi demitido, e o auxiliar Charles Fabian efetivado. Semanas depois, Sant'Ana foi entrevistado na rádio Metrópole, de Salvador, e afirmou que a decisão de trocar de técnico havia sido tomada antes mesmo do clássico. No fim da Série B, quando as chances de subir de divisão deixaram de existir, Charles foi afastado e entrou de férias. O Bahia encerrava o ano sem treinador, com o elenco despedaçado e a certeza de que algo havia se perdido no caminho.

DESAFIOS PARA 2016

Com o primeiro aniversário recém-completo, a gestão Sant’Ana carrega consigo uma lista de desafios para 2016. O primeiro é  manter o principal jogador do time. Kieza tem contrato com o Shanghai Shenxin, da China, e está no Bahia por empréstimo válido até o fim deste mês. A diretoria tricolor fez proposta para manter o jogador e aguarda uma resposta. A questão financeira trava o acerto.

Bahia negocia para ficar com Kieza em 2016 (Foto: Felipe Oliveira / Divulgação / E.C Bahia)

A busca por um treinador é outro ponto a ser resolvido. Vários nomes foram especulados para comandar o time em 2016, mas a diretoria mantém o silêncio. Até o momento, técnico e reforços permanecem como pontos de interrogação no Fazendão. Mas o mistério tem prazo de validade. A pré-temporada do clube tem início marcado para o dia 4 de janeiro. A busca por contratações é também uma corrida contra o relógio.

Trabalhar com um ano de experiência é o trunfo de Marcelo Sant'Ana para 2016. Sem alarde, ele tenta direcionar o clube para o caminho do sucesso em campo, acompanhado da eficiência administrativa. Assim, no próximo ano, ao completar o segundo aniversário de mandato, ele poderia enfim comemorar, talvez até com direito a bolo. E ao apagar as velas, em vez de pedir, poderia agradecer pela chance de, apesar dos pesares, recomeçar.