Postado por - Newton Duarte

Reverson rebate críticas à preparação do Bahia: O problema não é esse

Demitido no início do mês, Reverson responde críticas feitas por Guto sobre condição física dos atletas e diz que clube acelerou retorno de atletas lesionados

A derrota por 1 a 0 para o Vila Nova, em jogo válido pela 15ª rodada da Série B do Brasileiro, provocou um verdadeiro vendaval no Bahia. O técnico Guto Ferreira e o presidente Marcelo Sant’Ana deram declarações fortes, o trabalho realizado em diversas frentes foi questionado e várias peças foram derrubadas do tabuleiro tricolor: saíram o gerente de futebol, Éder Ferrari, o preparador físico, Reverson Pimentel, e seis jogadores (Thiago Ribeiro, Danilo Pires, João Paulo Penha, Hayner, Marcelo Lomba e Paulo Roberto).

Entre os problemas apontados por Guto para o desempenho aquém do esperado estava a condição física dos atletas. Logo após a partida, em entrevista coletiva, o treinador falou sobre o tema.

- [...] Primeiro, a melhoria da condição física, para ter condição de marcar mais forte e controlar o adversário. Na hora que tem a posse da bola, tem que ser mais agressivo, chegar de forma mais consistente. Isso não é em dez dias. É um trabalho progressivo – declarou o treinador no dia 5 de julho.

Edigar Junio teve o retorno acelerado pelo Bahia (Foto: Felipe Oliveira/Divulgação/EC Bahia) Reverson Pimentel fala sobre críticas feitas à preparação do Bahia (Foto: Jayme Brandão/ Divulgação/ EC Bahia)

No dia seguinte, Reverson Pimentel usava seu perfil em uma rede social para comunicar sua demissão e agradecer ao Bahia pelo período de um ano e sete meses em que permaneceu no clube. Portanto, ligar as críticas feitas pelo treinador à saída do profissional, em um intervalo de menos de 24 horas, foi quase que automático.

Só que Pimentel não concorda com as críticas que foram feitas à preparação física da equipe. Duas semanas depois de sua saída, ele falou com exclusividade ao GloboEsporte.com sobre o assunto.

- Hoje, o Bahia tem um departamento, de muito dinheiro que se investiu, porque não foi pouco dinheiro, que comprova que o problema não é esse – inicia Reverson Pimentel, para depois completar o raciocínio.

- Não concordo [que o problema do Tricolor seja a preparação física]. Se pegar, e o clube tem todos esses dados, os últimos 58 dias até a minha saída, da final do estadual, dia 8 de maio, até dia 5 de julho, a minha saída, a gente ficou 58 dias jogando a cada três dias. Foram 18 jogos. Se você fizer uma conta, a cada três dias e meio a gente estava entrando em campo. Sessenta dias sem treinar, sem conseguir dar uma carga, sem ter uma semana aberta para treinamento, é claro que o jogador acaba destreinando algumas capacidades. Porém, não quer dizer que ele esteja mal fisicamente, até porque os dados do GPS, as análises de jogos, o clube tem esse levantamento, os jogadores corriam mais no segundo tempo do que no primeiro – afirma.

A coletiva pós-derrota contra o Vila Nova não foi a única vez que Guto Ferreira se queixou da condição dos atletas. O treinador voltou a tocar no assunto após a intertemporada do Bahia em Porto Seguro e também ao avaliar o empate diante do Sampaio Corrêa, na última sexta-feira. Na ocasião, o treinador tricolor afirmou:

- A gente tem problemas físicos. Não é gás, não é correr. É força [...] – resumiu.

Para Reverson Pimentel, há aí um problema que remonta para a formação do elenco desenhado por Doriva, que tem uma característica de trabalhar diferente da do atual treinador. O Bahia de hoje tem poucos jogadores de força como gosta Guto, por isso o clube voltou com tudo ao mercado – são cinco contratações (nem todas oficializadas) nos últimos dias.

- Quando você monta um elenco, você consegue dar uma carga de força e melhorar a força. A característica do grupo do Bahia, eu vou te dar um exemplo: o Cajá não é um jogador de força. A gente consegue dar força, mas ele não é um jogador de força. A gente fez um trabalho, quando ele voltou da Coreia, a gente fez um trabalho por 15 dias e foi colocando ele para jogar. Cajá não teve lesão nenhuma. Lucas Fonseca ficou um ano na China, quatro meses parado, e a gente conseguiu recuperar poupando de um jogo ou outro, mas a gente conseguiu fazer todo o protocolo de condicionamento sem que ele sofresse lesão muscular. O Hernane não é jogador de força. Hoje, o jogador de mais força no Bahia é o Edigar Junio. É o jogador de mais força. O Luisinho não é um jogador de força, o Juninho não é um jogador de força – avalia.

Reverson Pimentel faz questão de ser político e se mostra preocupado em evitar atritos. Assim como não teve o seu nome citado diretamente nas críticas, não fez críticas diretas a ninguém. Sobre sua relação com Guto Ferreira, ele afirma que passou um relatório com os dados de todos os atletas, portanto o treinador conhecia a situação de cada um.

- Ele sabia que tinha alguns jogadores que existia um desgaste, que tinha alguns jogadores que a gente antecipou o processo da volta que a gente sabia a situação. Toda decisão que foi tomada, foi tomada pelo bem maior do Bahia. Porque não era o Reverson que tomava a decisão. Era toda uma equipe que tomava a decisão – revela.

Edigar Junio teve o retorno acelerado pelo Bahia (Foto: Felipe Oliveira/Divulgação/EC Bahia)Edigar Junio teve o retorno acelerado pelo Bahia (Foto: Felipe Oliveira/Divulgação/EC Bahia)

Perguntado se um desses jogadores liberado de forma precoce seria Edigar Junio, Pimentel admite que o processo de retorno do atacante não foi o ideal.

- Edigar é um jogador intenso, de força, um jogador de fibra rápida, um jogador que acaba tendo um trabalho maior de lesão. Quando a gente fez o retorno do Edigar, se você perguntar para mim se foi o processo ideal, não foi, mas a gente precisava do jogador, é um jogador importante. Ele conseguiu jogar alguns jogos que fisicamente não estava 100%, só que ele conseguiu jogar – diz Pimentel.

Durante o período em que ficou no Tricolor, um ano e sete meses, Reverson Pimentel elenca as melhorias que ajudou a desenvolver. Ele também responde se considerou injusta a sua demissão.

- Futebol, o que posso avaliar: o trabalho desenvolvido foi bom, de excelência, no qual a gente conseguiu implementar muitas coisas que o clube ainda vai colher (uma padronização de trabalhos das divisões de base que eu coordenava, um trabalho integrado com a fisioterapia, fisiologia e nutrição). Hoje existe uma equipe interdisciplinar no Bahia que você tem todos os dados. Hoje, o Bahia reúne... Por exemplo, a fisiologia e a preparação tem os dados de um ano e oito meses lá, de carga de treinamento, de carga de jogo. Isso não tinha antes. Equipamentos comprados. Não vejo a minha saída... Eu não fiquei triste porque eu sei que o futebol é resultado, e, quando ele não vem, às vezes você tem que arrumar um culpado – avalia Reverson Pimentel.

Confira outros trechos da coletiva de Reverson Pimentel.

AUTOAVALIAÇÃO

Quando você fica à frente de um clube da grandeza do Bahia por um ano e sete meses, seu trabalho não pode ser ruim. Passaram alguns treinadores e você permaneceu... Você fica esse tempo à frente de um clube que você conseguiu participar da melhora da estrutura, desempenhar um bom trabalho, de uma certa forma vê uma crítica ao seu trabalho, mas a avaliação do trabalho é boa, quando você consegue permanecer por tanto tempo em um clube.

FORÇA FÍSICA

Quando você faz um planejamento anual e você sabe que não tem espaço, você fala que é o problema do futebol brasileiro... Quando você fala em força, mas não tem tempo para trabalhar, você trabalha com uma carga reduzida, porque a cada três dias você tem que estar em campo de novo, você tem logística de viagem, você tem o estresse de viagem, e aí você não consegue dar uma carga alta. Porém essa carga alta tinha sido planejada para dar nesses dez dias, nas duas semanas abertas que vai ter agora, e teoricamente nos 16 a 18 dias que o Bahia vai ter na parada para Olimpíada. Você vai ter 40 dias para treinar. Aí sim você faria um trabalho para melhorar a questão de força. Porque, 58 dias não existe o atleta não destreinar um pouco. O que posso dizer? Contra o Ceará a gente foi superior fisicamente, contra o Vila Nova a gente foi superior fisicamente. Por que? Contra Vila Nova e Ceará, com as derrotas, a gente correu muito mais do que contra o CRB que a gente ganhou de 3 a 0, contra o Paysandu que a gente ganhou. A gente correu mais nesses jogos. O tempo todo nosso time terminava pressionando os jogos. Não só os dados da fisiologia, como os dados da DADE mostravam isso.

MELHORA À VISTA

Vai haver melhora? Vai. Quando você tem 40 dias para trabalhar e apenas três jogos nesse espaço, você vai melhorar, como também as outras equipes vão melhorar. Mas não quer dizer que nesse momento que a gente trabalhou o time estava mal fisicamente. Pelo contrário. A gente conseguiu suportar uma carga de 58 dias com 18 jogos, jogando de igual para igual com qualquer equipe, inclusive sem muitos problemas de lesão muscular. Nesse tempo, tivemos três: Moisés, que foi um jogador que chegou de outro clube, a gente colocou para jogar e machucou nos EUA; a de Edigar Junio e a do Tinga.

TRABALHO COM GUTO

Foi passado todo um relatório para o Guto, foi passado todo o GPS dos jogos, ele tinha esses dados, a gente tinha conversado com ele... O Bahia vinha com uma carga grande de jogos, 58 dias, sem poder ter uma carga pesada de treinamento. A gente sabia que só ia conseguir treinar, individualizar o trabalho, nesses dez dias de parada. Isso foi passado para ele, ele gosta de um time com características diferentes, uma equipe com mais intensidade. Isso gera uma adaptação. Quando você muda uma comissão técnica, cada comissão trabalha de uma forma. Mas foi passado para ele de todos os departamentos do Bahia.

POUCAS LESÕES

Quando você lida com o ser humano, o risco ele existe, mas a gente tenta ao máximo amenizar. Quando a gente iniciou o ano, tivemos três lesões musculares, de rompimento de fibra. O resto foi edema, jogadores que poupamos, tivemos as situações de joelho, tornozelo, que a gente não coloca como lesão muscular.

MAIS UM POUCO SOBRE FORÇA

O que posso afirmar é que a equipe, desde o momento que eu saí, ela não estava mal fisicamente. Mas como todo o futebol brasileiro sofre com o calendário, a equipe também sofre com o calendário. Você vê os jogos do Bahia. Contra o Criciúma não teve intensidade? Contra o Vila Nova? Só que aí entra o fator psicológico... São vários fatores que acabam também influenciando o resultado. Ele citou o trabalho de força. O trabalho de força eu sempre apliquei nas equipes que eu trabalhei, inclusive tenho cursos de trabalho de força, então tenho tudo isso. Inclusive os trabalhos de força hoje que foram aplicados nas categorias de base do Bahia teve coordenação minha, os jogadores que tiveram ganho de massa muscular na base do Bahia foram com coordenação minha. Então todos esses trabalhos foram aplicados e muito bem aplicados no Bahia.

Fonte: Ge.com