Da 'corneta' à redenção: a guinada de Anderson Talisca, craque do Baianão

Meia supera vaias e críticas da torcida para se tornar o principal destaque do Bahia em 2014. Com gols decisivos e assistências precisas, ele é o craque do Baianão

Domingo, 1º de dezembro de 2013. Ameaçado de rebaixamento no Campeonato Brasileiro, o Bahia aposta suas últimas fichas diante do já campeão Cruzeiro. O cenário do confronto não é dos melhores: estádio Mineirão lotado por torcedores ávidos por mais uma vitória cruzeirense. Até os 45 minutos do 2º tempo, o placar acusa empate em 1 a 1. Péssimo resultado para o Tricolor na luta contra a degola. Eis que brilha a estrela de Anderson Talisca. De pé esquerdo, meio desajeitado, ele marca o gol que enche de alívio tricolores pelo Brasil afora. É o gol da permanência na elite do futebol brasileiro. Mais do que isso. É o gol da redenção de um garoto formado nas categorias de base do Bahia, com talento reconhecido e futuro promissor, mas que sofria com a falta de paciência de boa parte da torcida. Começava ali a virada na vida de Anderson Talisca, o principal destaque do Esquadrão nos quatro primeiros meses de 2014.

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Antes de começar a deslanchar com a camisa azul, vermelha e branca, a relação de Talisca com a torcida não era das melhores. Não foram poucas as vezes em que o garoto de 20 anos deixou a Arena Fonte Nova sob vaias. A cada resultado ruim, a cada exibição abaixo da média da equipe, era ele, ao lado do lateral Madson, o principal alvo dos protestos tricolores.

Anderson Talisca é o destaque do Bahia em 2014

Só que Anderson Talisca nunca abaixou a cabeça para as críticas. De personalidade forte, ele assimilou a cobrança da torcida e entendeu rápido que, para se tornar ídolo no Fazendão, teria que conviver com a ‘corneta’ vinda das arquibancadas. Apesar da pouca idade, o discurso sempre foi de veterano. Como em setembro do ano passado, na metade do Campeonato Brasileiro, quando respondeu assim em entrevista coletiva, após sair mais uma vez questionado da Fonte Nova:

- O torcedor cobra de quem ele espera alguma coisa. Essa cobrança da torcida para mim é normal. E vida de jogador é isso – afirmou.

Com palavras que lembram jogadores de currículo extenso, Talisca voltou a desabafar em janeiro deste ano, quando se defendeu sobre o rótulo de 'marrento' que lhe havia sido dispensado. Na explicação, a meta de uma carreira: deixar sua marca no futebol.

- Eu estava sendo criticado por uma coisa que nunca fui. Quem me conhece sabe. Não sou marrento, mas não quero ser mais um no futebol. Quero fazer diferente. Faço sempre querendo acertar o melhor. Nunca fui de abaixar cabeça para ninguém. Quando tenho metas, procuro alcançar. Não tenho medo e faço tentando acertar – disse, na ocasião.  

ASSISTÊNCIAS, GOLS E REDENÇÃO

Com atuações decisivas, Talisca ganhou a confiança da torcida

E Talisca fez valer o discurso. Hoje, ele é a principal esperança dos tricolores. Não é para menos. O meia é o artilheiro do time na temporada, com seis gols marcados. É também o líder de assistências: foram, ao todo, seis passes que resultaram em gol. Não é só isso. Anderson Talisca chamou para si a responsabilidade da equipe. Quando o time vai mal, é ele quem bate no peito, pede a bola e tenta decidir. Foi assim que ele salvou a pele do técnico Marquinhos Santos em jogos neste primeiro semestre.

A cereja do bolo veio no Campeonato Baiano. Decisivo em diversas partidas, Talisca conduziu com personalidade e competência o Bahia ao 45º título estadual de sua história. Não à toa ele foi escolhido o melhor jogador da competição, em eleição realizada pela Federação Bahiana de Futebol. Os dois gols de falta contra o Vitória da Conquista, o belo tento anotado contra o rival Vitória no jogo de ida das finais do Baianão e o golaço de falta decisivo contra o Galícia são lances não saem da cabeça do torcedor, e que certamente enchem de orgulho o meia do Esquadrão.

Logo após a conquista do título baiano, ainda no gramado de Pituaçu, Anderson Talisca era só alegria. E desabafou. Acusado de ‘marrento’, ‘chato’ e displicente na marcação, o meia, sempre contido nas declarações para a imprensa, mandou um recado em alto e bom som:

- [Esse título] Significa muito para mim. Eu sempre ouvi dizendo que o Talisca era marrento, era chato, que não voltava para marcar... Mas eu sabia que eu não era nada disso. Hoje pude provar - afirma.

Se o título estadual tem um significado especial na vida de Talisca, ser reconhecido como o craque do Campeonato Baiano é uma prova do futuro promissor de uma das principais joias das categorias de base tricolor dos últimos anos. O prêmio também faz aumentar a expectativa e, por consequência, a responsabilidade do jovem meia do Bahia diante da torcida. Só que assumir a responsabilidade não parece ser problema para Anderson Talisca.


Fonte: Rafael Santana / GE.COM

Foto: Reprodução - Felipe Oliveira / EC Bahia / Divulgação e Thiago Pereira