O candidato: as principais ideias de Antônio Tillemont para gerir o Bahia

Em entrevista ao GE.COM, candidato à presidência do Tricolor responde a cinco perguntas estratégicas sobre seus projetos

Empresário, radialista e autodeclarado o único candidato a presidência do Bahia que realmente entende de futebol. Sócio do Tricolor desde 1976, Antonio Tillemont, 53 anos, foi um dos primeiros a assumir abertamente a candidatura para presidência do clube. Quando a comissão de intervenção ainda estava em seus primeiros passos, ele revelou que pensava em concorrer ao posto de cartola da agremiação. Aos poucos, o desejo foi ganhando forma e virou realidade após a assembleia geral que mudou o estatuto do Bahia, quando Tillemont oficializou os planos de se disputar a eleição do dia 7 de setembro.

Antônio Tillemont concedeu entrevista na sede social do Esporte Clube Bahia

Sócio da Antoniu’s, empresa que administra a carreira de vários atletas, Tillemont garante que não pretende usar o clube em benefício próprio. Ele afirma que a possibilidade de transformar o Tricolor em um braço da sua empresa é descabida. O radialista prefere ver a situação de outra forma: com mais de 20 anos empresariando atletas, ele possui vasta experiência para adaptar o clube ao mercado e voltar a levar bons jogadores para vestir a camisa azul, vermelha e branca.

Tillemont carrega a documentação de vários candidatos ao conselho

- Muitos falam que, se eu for eleito, vou contratar todos os jogadores da minha empresa. Não entendem que isso é um absurdo. Quero fazer uma administração transparente, diferente da que dominou o clube nos últimos anos - disse o candidato, como se mostrasse um cartão de visitas.

Para concorrer ao cargo de presidente do Bahia, Tillemont pediu afastamento da Rádio Metrópole, onde trabalhava como comentarista. Durante os dias que precedem a eleição, ele corre atrás de sócios interessados em compor a chapa para o conselho deliberativo. E foi enquanto recebia a documentação de um associado aspirante ao conselho que Tillemont recebeu a equipe do GE.COM, na sede social do Bahia, no bairro do Costa Azul, em Salvador.

- Se não se importa, vou resolver logo isso antes da entrevista. É rápido. Já converso com você – disse o radialista, que respira a eleição 24 horas.

Após preencher a papelada, Tillemont falou. E como falou. Levou mais de 20 minutos para responder às seis perguntas elaboradas em padrão para todos os candidatos à presidência do Bahia. Em cada declaração, um demonstrativo dos planos que tem para oTricolor. Priorizar a folha de pagamento, rever contratos, expandir a rede de observação de atletas e criar novas formas de receita são algumas das ideias do candidato.

Com os braços sempre em movimento - um deles com um relógio do Bahia, o outro com um crucifixo -, Tillemont desenha o Bahia que sonha em ajudar a construir. Fala em tomar ações imediatas, aplicar um choque de ordem no clube e, acima de tudo, da priorização do bem estar do torcedor.

Confira abaixo a entrevista com o candidato Antonio Tillemont

Caso eleito presidente, qual sua primeira ação?

Antonio Tillemont: É difícil dizer qual será a primeira ação. Acho que tem que ser várias ao mesmo tempo. Por exemplo, os funcionários que faltaram ao trabalho por quase 30 dias prejudicando o trabalho do interventor não tiveram comprometimento com o clube. Tiveram comprometimento com ex-dirigentes. Nesse tipo de caso, não tem o que discutir, é demissão. Qual enquadramento que será dado é que precisa ser estudado. Se é abandono de emprego ou se alguém cometeu alguma coisa passível de justa causa... Só não pode ter perdão com aqueles que não tiveram comprometimento com o clube. Essas pessoas desdenharam do Bahia.

O segundo ponto é que acho que algumas coisas no Bahia são inchadas, como o número de funcionários. No Mundo Plaza [sede administrativa do clube], tem mais funcionários do que mesas e cadeiras para trabalhar. Virou cabide de empregos. Está muito solto. Temos que equilibrar. O Bahia vai para a Cidade Tricolor, que tem o dobro do tamanho do Fazendão, e vai precisar de 150 funcionários para tocar o espaço da forma correta. Não pode contratar 150 novos funcionários ou deslocar pessoas para lá se não houver o enxugamento da folha. Essas são as providências iniciais para começar a equilibrar o clube financeiramente. Também vamos suspender os pagamentos nos primeiros 30 dias para avaliar os contratos, para ver o que está correto, quem realmente tem direito a receber.

Prioridade para pagamento hoje são os funcionários do clube, atletas profissionais e das divisões de base. Estão prestando serviço ao clube, trabalhando no dia a dia, e precisam ser tratadas como prioridade. Não teria uma primeira ação, mas um conjunto de ações que devem ser tomadas na área administrativa para começar a sanear o clube.

<<No Mundo Plaza, tem mais funcionários do que mesas e cadeiras para trabalhar. Virou cabide de empregos" - Antonio Tillemont>>

Qual sua relação com o clube?

Sou sócio há 37 anos. Sempre paguei em dia. Tenho minha primeira prestação até a última em uma pasta. Fui um dos fundadores da Torcida Jovem, a primeira torcida organizada, em 1976. Depois me tornei radialista e, com essa função, procurei me segurar para mostrar isenção. Tem gente que diz que não sabia que eu era Bahia. Então passei a imagem que queria passar. De não ser radialista torcedor. Sempre passei a imagem de imparcialidade. Sempre procurei contribuir com o Bahia. Tenho o chaveirinho de ‘contribuí para a construção do Fazendão’, que foi até na gestão do Fernando Schmidt. Tudo que o Bahia lançou para o torcedor eu tenho.

Acho que sou identificado com a torcida por ter vivido muitos anos na arquibancada. Depois que a Fonte Nova passou a ficar degradada, me afastei um pouco. Mas, quando inaugurou Pituaçu, eu voltei. Acho uma construção muito bonita, bem feita. Agora estou apaixonado pela Fonte Nova. Só acho que existe uma falta de critérios da Arena com relação ao Bahia. Acho o contrato malfeito. Fizeram por fazer. Não é admissível que o Bahia ganhe menos no contrato com a Arena que o Náutico, com todo respeito ao Náutico, que é um grande time do futebol brasileiro. É a mesma construtora da Arena Pernambuco. Qual foi o critério para se pagar R$ 15 milhões ao Náutico e R$ 9 milhões ao Bahia? O Bahia jogava na Fonte Nova e ficava com a renda. Hoje não acontece mais isso. O Bahia recebe 12 parcelas de R$750 mil, e o dinheiro que entra com bilheteria fica com o consórcio.

Além disso, acho que estão sendo muito crueis com relação ao torcedor. Em uma arena daquela, os ingressos realmente devem ser caros. É uma obra cara, gigantesca. O empresário quer recuperar o dinheiro que investiu. Mas acho que o torcedor precisava ser protegido. Precisavam ter o cuidado de negociar em nome da torcida do Bahia. E não negociar o TOB para a Fonte Nova. Passar um dinheiro do Bahia para a Arena Fonte Nova. No último jogo do Bahia, o terceiro anel não tinha uma pessoa. Porque não se cria uma promoção com preço mais módico para o torcedor que não tem condição ocupar esse espaço. Não adianta ter 10, 12 mil pessoas. Melhor ter 30, 40 e ganhar no grosso. Fora que lá dentro os preços são altíssimos. Uma pipoca é R$ 9. Na rua é R$ 1, e a pipoca é mais gostosa. São essas coisas que acho que não tiveram o devido cuidado.

Não sei se houve pressão externa, do tipo ‘se não jogar na Fonte Nova, também não vai mais jogar em Pituaçu’. Isso não posso garantir, seria leviandade afirmar. Mas pode ter acontecido. O jogo contra a Portuguesa, pela Copa Sul-Americana. Não deve constar no contrato com a Fonte Nova. Não se imaginava que o Bahia iria disputar essa competição esse ano. No contrato deve ter Campeonato Baiano, Brasileiro e Copa do Brasil. Então esse jogo poderia ser em Pituaçu para o Bahia ganhar um dinheiro a mais. Acho que faltou cuidado das pessoas que dirigiam o Bahia de proteger o clube e o torcedor.

O que deve nortear o próximo presidente?

Transparência acima de qualquer coisa. O clube sempre foi muito fechado em torno de um grupinho. Hoje algumas coisas estão vindo a público, por causa da intervenção que está procurando apurar. Conselheiros que eram funcionários e ganhavam R$ 20 ou R$ 30 mil, salário altíssimo para uma pessoa que não poderia ocupar esse cargo. Caso eleito, pretendo até tomar providências jurídicas para que essas pessoas que receberam sem o devido merecimento devolvam o dinheiro. Não sei se uma ação cível ou criminal, na pauta que se encaixar melhor. Tentar fazer com que o departamento jurídico cobre dessas pessoas o dinheiro do clube. Acho difícil, mas precisa ser feito.

Tillemont falou sobre o conjunto de ideias que tem para o Bahia

Tem que ter transparência. Colocar em 30 dias tudo o que foi gasto, com o que gastou e o que recebeu. Para ficar uma coisa bem transparente. O torcedor precisa disso, clama por isso.

A reforma estatutária, graças a Deus, já foi resolvida. Embora eu ache que com alguns defeitos. Essa composição de Conselho Deliberativo, por exemplo. Você tem que ter 100 nomes que apresentam uma série de documentos que a pessoa pode não ser eleito. Até conversei com Carlos Rátis sobre isso. Acho que poderíamos apresentar uma lista com 100 nomes, e os eleitos teriam 48 horas para trazer documentos para serem empossados. Se não apresentassem a documentação, passava para o próximo nome. Se cada um inscrever uma chapa de 100 e 3 ou 4 chapas trouxerem todo esse material? Pelo menos duzentos documentos seriam jogados fora. Só se elegem 100. Podia ter flexibilizado nesse sentido.

Não entendi o motivo também de colocar no artigo 76 que o presidente do mandato tampão não poder se candidatar na próxima eleição. Só vejo um motivo: beneficiar Schmidt. Ele tem a idade avançada, respeito muito, poderia ser meu pai. Não queria ser candidato, está sendo imposto a isso. Uma imposição de Governo. Para, ele está ótimo. Somente um ano e quatro meses. Para mim, não está. Mas eu aceitei as regras do jogo.

Na assembleia, alguns torcedores falaram para discutir esse artigo. Pedi para que não se discutisse nada e aprovasse o estatuto por inteiro. Isso é outra história. Um ano e quatro meses na frente. Tecnicamente, tem como reverter isso. Não estou dizendo que vou ou quero fazer isso. Tecnicamente, é só convocar uma assembleia, que não precisa ser pomposa como a da Fonte Nova, e perguntar se os sócios concordam com a extinção do artigo 76. Pode até ser na sede social do clube. Coloca uma urna, o sócio vem e vota. Falo isso porque o presidente que estiver aqui, quem estiver na presidência e estiver bem, a torcida não vai deixar sair. Eu pago para ver. Um clube sofrido como esse, com mais de dez anos de péssima administração.

<<Vou respeitar o resultado das urnas. Se ganhar, ótimo. Se não ganhar, vou parabenizar quem ganhou e preparar mais projetos para concorrer em 2014" - Antonio Tillemont>>

São essas coisas que eu acho que foram direcionadas para um candidato. Dificulta para uns e facilita para outros. Que democracia é essa? Teve um provável pré-candidato que só queria concorrer se ele fosse consenso. Era para o cargo cair no colo? Todo mundo só quer ganhar. Vou respeitar o resultado das urnas. Se ganhar, ótimo. Se não ganhar, vou parabenizar quem ganhou e preparar mais projetos para concorrer de novo em 2014.

Como resolver os problemas do Bahia, principalmente os financeiros, em um ano e meio, já que não poderá ter a reeleição?

Acho que com boa vontade, trabalho, dedicação se consegue. O Bahia antes não tinha união. A partir de agora, acredito que vá ter. Digamos que eu perca a eleição e vá fazer uma oposição desenfreada a Schmidt. O objetivo não é esse. É até ajudar o novo presidente no que for preciso. Vamos promover algumas ações.

Não vejo nada demais em copiar o que é bom. Se a auditoria comprovar que os cofres estão combalidos, podemos copiar o projeto Vasco Dívida Zero, lançar um Bahia Dívida Zero, para os torcedores contribuírem com o clube. O Bahia tem seis milhões de torcedores. Um real de cada um é R$ 6 milhões, já começa a resolver a situação. Alguns torcedores vão poder dar R$ 5 ou R$ 10, que já cobre aqueles que não podem dar nem mesmo R$ 1.

É planejar. A dedicação exclusiva é boa por isso. Você vai ficar dentro do clube trabalhando pelo clube. O Bahia vem sendo dirigido há quarenta anos por políticos. Só Petrônio e Francisco Pernet não eram políticos, mas foram coordenados por Maracajá, que era político que estava à frente. A torcida vai ter a chance de dizer se quer político dentro do clube ou quer o novo. Com boa vontade, discurso transparente, mostrando o que realmente está acontecendo, pode-se fazer um bom trabalho. Por exemplo, não me interessa saber o resultado da auditoria antes de ninguém. Na hora que receber, peço para o assessor divulgar para todo mundo e me dar uma cópia. Para não haver aquilo de divulga essa parte e essa outra não. Não pode proteger ninguém. Tem que divulgar tudo, mesmo que a imagem do Bahia fique um pouco prejudicada.

Acho que passa fundamentalmente por isso, boa vontade, dedicação e ter bons projetos. Acho o Bahia Dívida Zero uma boa ideia. A própria campanha de associação feita pela comissão de intervenção já dá um suporte interessante. O Rátis falou que colocou mais de R$ 1,2 milhão dentro do clube com essa associação. É ter boa vontade, com isso vai ter projeto e a torcida vai encampar.

Pretende manter o atual quadro do futebol?

Acho o seguinte, futebol hoje é muito difícil para corrigir em 2013. Tenho medo de mexer em uma coisa que está razoavelmente bem. Se dizia que o Bahia iria disputar o Brasileiro para não cair. O Bahia está em 7º [ no dia da realização da entrevista com o candidato], que é uma posição razoável pelo elenco que o Bahia tem. Tenho medo de mexer, causar uma insatisfação geral e a coisa sair do rumo. Tanto eu quanto Schmidt ou Rui vamos ter dificuldade para contratar agora. Não há disponibilidade no mercado. Não há opção sobrando para contratar.

Antonio Tillemont planeja aumentar a rede de observação do clube

Teremos que ser competentes no sentido de fazer uma coisa que o Bahia nunca fez. Com Angioni, o Bahia tinha um esquema com Carlos Leite, que indicava os jogadores. E estão preocupados com Tillemont, que tem dois. Um que está saindo, que é o Zé Roberto, e o outro é o Feijão. Tinha gente com 15 ou 16. Na época do Paulo Carneiro, o Orlando da Hora tinha 15 ou 16 jogadores no Bahia. Alguma coisa muito estranha estava acontecendo por trás disso tudo.

Eu, conhecendo o mercado, estou dizendo que vai ser difícil para agora. Prefiro ser competente e ter uma equipe boa de futebol para pesquisar bons nomes na Série B, onde tem jogador louco para disputar a Série A. Pode conseguir trazer bons nomes. Na Série A não dá mais para tirar ninguém. Só jogadores que atuaram menos de sete jogos. Tem que ter competência de pesquisa, o que o Bahia nunca fez. Já tinha os esquemas formados.

Agora tem que planejar bem para 2014, que é virada de ano, muitos jogadores ficam sem contrato com os clubes. Tem que começar a procurar por agora. Tenho visto bons jogadores na Série A de clubes do mesmo top do Bahia. Pode começar a planejar para 2014. Para ter um elenco reformulado, afastando aqueles que a gente sente que não têm mais o que dar. Fazer um trabalho criterioso para ter um elenco bom. O planejamento para 2014 será muito mais fácil do que agora, para 2013.

Você tinha relação com o presidente afastado?

Nenhuma. Encontrei com Marcelo Guimarães Filho umas três vezes durante todo esse tempo que ele esteve no Bahia. Uma vez no aniversário de 12 anos da Rádio Metrópole, ele estava lá, acho que uma vez no estádio de Pituaçu. Duas ou três vezes no máximo em quase seis anos. Os meus sócios, sim. Representavam a empresa e negociavam o contrato de nossos jogadores com o Bahia. Eu, pessoalmente, não. Me afastei do contato direto com os nossos jogadores por causa da saúde de meus pais. Meu pai morreu tem 15 anos, e minha mãe, há dois anos e meio. Minhas funções na empresa ficaram reduzidas, até perdi parte das minha cotas para fazer com que os dois trabalhassem mais e eu ficasse só com a parte burocrática, administrativa. Encontrei com Marcelo Guimarães Filho umas três vezes durante todo esse tempo.


Fonte e fotos: Thiago Pereira – GE.COM

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