Após 26 anos, rivalidade entre Senna e Prost renasce em outra geração

Depois de vinte e seis anos, o automobilismo mundial reviverá uma das maiores rivalidades de sua história: Senna x Prost. Dessa vez, no entanto, o embate será protagonizado em uma modalidade diferente da Fórmula 1, a Stock Car, e em outra geração: Bruno Senna, sobrinho de Ayrton, e Nicolas Prost, filho de Alain Prost, serão companheiros de equipe, mas não na McLaren onde brilharam os ex-pilotos. Agora, os famosos sobrenomes defendem a Prati-Donaduzzi como os respectivos parceiros de Antonio Pizzonia e Júlio Campos.

Com duas participações na Stock Car – uma delas, em 2014, já ao lado do parceiro Pizzonia – aos 31 anos, Bruno comemorou a escolha de Nicolas, a quem carinhosamente trata pelo apelido.

“Será muito legal ser companheiro do Nico. Também será interessante comparar as diferenças de pilotagem na telemetria. De certa forma, vai lembrar as lutas entre o Ayrton e o Alain, que sempre travaram grandes duelos. Espero que seja assim também com a gente, mas que estejamos brigando pela vitória junto com o Pizzonia e o Campos”, declarou o sobrinho do tricampeão mundial da F1.

Juntos na Prati-Donaduzzi, Bruno e Nicolas darão novas cores à rivalidade entre Senna e Prost - Divulgaçao/MF2Divulgaçao

Nicolas, por outro lado, nunca participou da categoria e aceitou o convite da equipe ainda em dezembro, durante a prova de Punta del Este (Uruguai) da Fórmula E. Ainda assim, o francês garante que a conhecia bem e, em sintonia com a empolgação do jovem Senna, o filho de Prost também destacou a reedição da histórica rivalidade.

“Será uma experiência muito legal. Nós nos conhecemos já há algum tempo, e nos damos bem. Confesso que ainda fico arrepiado quando estou no pit lane e vejo o capacete dele (de Ayrton, utilizado por Bruno como homenagem). Me faz lembrar as disputas entre meu pai e Ayrton. Muita gente me pergunta disso, mas o que gosto de lembrar é que no final eles se tornaram bons amigos, embora não seja fácil ser amigo de alguém com quem você brigou nas pistas por mais de 10 anos”, afirmou Nicolas, aproveitando para comentar a categoria.

“Acompanho a Stock Car e sei que a categoria é competitiva, com os carros andando muito próximos. Há grandes pilotos no grid, como o Rubens Barrichello. Fui parceiro do Sérgio Jimenez na Fórmula 3 em 2006, e recordo que tivemos disputas legais. Mas há outros nomes fortes como Lucas di Grassi, Nelsinho Piquet, Jacques Villeneuve... O que me dá confiança é saber que estarei em uma equipe forte e com um piloto muito bom ao meu lado, como o Júlio Campos”, avaliou o francês, que atualmente reside em Genebra, na França – a quase 9 mil quilômetros de Goiânia, local da prova única em revezamento do calendário, marcada para o dia 22 de março.

A rivalidade entre Ayrton e Alain começou em 1984, no GP de Monaco - AFP

A rivalidade entre o Senna e o Prost da geração anterior teve início no GP de Monaco de 1984, quando o brasileiro, ainda novato, surpreendeu a todos ultrapassando os adversários (sob forte chuva) a bordo da Toleman. Na segunda colocação, restava apenas o francês para ser superado, na liderança. No entanto, a prova foi suspensa e Ayrton nunca engoliu o posto de segundo lugar. Em 1988, o tio de Bruno conquistou seu primeiro título mundial ao derrotar Prost de forma incrível na etapa do Japão – na época, ambos já eram companheiros de McLaren, o que só acirrou a rivalidade.

Anos mais tarde e com três títulos mundiais na carreira, Ayrton Senna dividiu os boxes com o tetracampeão Alain Prost pela última vez no GP da Austrália de F1 de 1989, quando o francês se despediu da McLaren às vésperas de sua mudança para a Ferrari.

Os dois travaram algumas das maiores disputas da história da Fórmula 1 entre as décadas de 80 e 90, somando sete campeonatos mundiais para a escuderia britânica – hoje defendida pelo inglês Jenson Button e pelo espanhol Fernando Alonso. Entre 1988 e 1989, a dupla venceu 25 das 32 etapas disputadas.

Mesmo após a ida do francês para a Ferrari, os conflitos ainda se estenderam por mais alguns anos. A reconciliação veio apenas após a aposentadoria de Prost, ao fim de 1993, quando Senna foi convidado para ocupar a sua vaga na Williams – escuderia que o brasileiro ainda defendia quando faleceu em um trágico acidente no GP de Ímola, em São Marino, em 1994. Emocionado, Alain Prost marcou presença no velório de Ayrton Senna.

Companheiro de Senna na McLaren até 1989, Prost veio ao Brasil para prestar luto à morte do tricampeão - AFP