A Espanha finalmente venderá seus direitos de TV em grupo, na expectativa de mais equilíbrio
O Campeonato Espanhol conseguiu, nas últimas temporadas, afastar aquela impressão de que se tratava de uma liga de apenas dois times. A maior prova foi o vice-campeonato europeu do Atlético de Madrid. Houve, também, a contribuição das boas campanhas do Sevilla na Liga Europa. Mas é inegável que Barcelona e Real Madrid estão alguns bons passos à frente dos demais. Uma lei aprovada pelo governo, esta semana, pretende diminuir essa distância. E o instrumento são os direitos de televisão.
A Espanha é um caso peculiar na Europa porque negocia os seus direitos de transmissão separadamente, como acontece no Brasil desde a implosão do Clube dos 13. Isso significa que cada um vende o peixe que tem, e enquanto Real Madrid e Barcelona possuem um belo salmão, os outros clubes estão com sorte se tiveram uma pescada sem muitos espinhos. O resultado é que La Liga recebe muito menos dinheiro que as outras ligas. Em médio prazo, principalmente com o novo acordo da Premier League, clubes como Valencia, Sevilla e Atlético de Madrid podem começar a perder jogadores para os médios ou mesmo para os pequenos da Inglaterra.
Para tentar evitar que Carlos Bacca leve seus gols ao Crystal Palace (caso extremo), o Conselho de Ministros da Espanha aprovou uma lei que regulamenta a venda de direitos de televisão do futebol espanhol coletivamente. Quer que La Liga arrecade € 1,5 bilhão “em breve”, depois de juntar moedinhas para chegar a € 800 milhões em 2013/14, menos que a Itália, apesar de ter muito mais estrelas e times melhores. Serão, pelas expectativas, € 1 bilhão pelos direitos domésticos, e entre € 400 e € 500 milhões pelos internacionais.
O pulo do gato está na divisão dessa bufunfa. Os clubes de futebol receberão 92% desse valor. O resto será dividido entre uma ajuda financeira aos que forem rebaixados da primeira divisão, como acontece na Inglaterra, a própria liga, a Federação Espanhola e todos os jogadores. Do montante reservado aos clubes, 90% ficarão com os da primeira divisão e 10% com o resto. A partir deste momento da conta, os critérios técnicos entram em jogo.
Atualmente, Real Madrid e Barcelona levam € 140 milhões cada, aproximadamente 33% do total. Mas as novas regras ditam que 50% de todo o dinheiro sejam divididos em partes iguais pelos clubes da elite; o restante, de acordo com as campanhas das últimas cinco temporadas e também com a participação social, como o número de sócios. O ministro espanhol de Educação e Esporte, José Ignacio Wert, contou que a proporção está em 7 para 1 a favor dos principais clubes no momento. A ideia é reduzi-la até 3 para 1.
Deu para perceber que o governo teve que intervir para equilibrar a situação, embora essa situação costume ser rechaçada no mundo do futebol. Mas, neste caso, o acordo acabou ficando bom para todos, e talvez esse seja um caminho para o Brasil também percorrer porque os clubes daqui não parecem maduros o suficiente para resolver o problema. Não é fácil. O poder público já enfrenta uma difícil missão para aprovar a Medida Provisória da renegociação das dívidas com as contrapartidas planejadas pela comissão.
O que os gigantes acham disso? Bom, o Barcelona apoiou publicamente por meio do seu presidente Josep Maria Bartomeu, mas não porque quer o bem de todos e a felicidade geral da nação. Quer uma liga mais forte para alavancar a venda de pay-per-views. Sabe que a única forma de competir com a Premier League é se todos se juntarem para isso. Com o clube dele à frente, claro. O Real Madrid tem um papel de bastidores importante nesta história e a demora para a aprovação da lei é creditada ao lobby do presidente Florentino Pérez junto aos políticos da Espanha.
Mas, com o decorrer do tempo, eles vão perceber que também se beneficiam de ter uma liga mais forte. Colocar os seus craques em desafios mais difíceis todos os finais de semana ajuda a construir equipes melhores. Também cresce o respeito em relação a La Liga, à medida que haja bons jogadores em mais times. E se nem isso convencê-los, resta aceitar que o torcedor espanhol quer ver um campeonato cada vez melhor, e a vontade dele é absoluta.