Em novo calendário, CBF 'ignorou' a própria comissão de médicos

O presidente da CBF, José Maria Marin, acompanhado do coordenador médico José Luis Runco

"Mas foi divulgado?", pergunta Serafim Borges ao ESPN.com.br.

Ele é médico do Flamengo e da seleção brasileira e reagiu surpreso ontem à tarde, ao ser indagado pela reportagem sobre as suas impressões a respeito do calendário nacional de 2014 anunciado na semana passada e que vem gerando debate após a formação de um movimento dos atletas que reivindica mudança de datas.

Serafim é membro também da diretoria da Comissão Nacional de Médicos do Futebol (CNMF), criada em 2010 com aprovação em Assembleia Geral da CBF e que deveria servir, conforme apresentação no site da entidade, para "fornecer o conhecimento e a capacidade para proteger a saúde de todos envolvidos no futebol brasileiro".

Não tem sido assim.

Ao longo da quinta-feira, o ESPN.com.br conversou com outros dois membros da Comissão de Médicos, que confirmaram também não terem sido procurados pela confederação antes do lançamento do calendário que tem atraído tantas críticas.

"Não houve nenhum contato. Nada. Nunca. Só teve um dirigente até hoje, em mais de 35 anos de carreira, que convocou médicos e fisioterapeutas para uma reunião para perguntar como poderia ser feito o calendário, o tempo de pré-temporada, descanso, que foi o Eduardo José Farah (ex-presidente da federação paulista)", revela o coordenador do departamento médico do Corinthians, Joaquim Grava.

Entre as maiores preocupações dos atletas, estão as férias reduzidas, o curto período de preparação e o elevado número de partidas em um espaço menor de tempo. Com a Copa do Mundo no meio do ano, os jogadores correm o risco de terem apenas quatro dias de pré-temporada antes do início dos estaduais.

"O futebol brasileiro não faz pré-temporada. Faz aquecimento. Vai ser excelente quando tiver pré-temporada. O ideal seria de quatro a seis semanas. Mas como vai fazer isso? É complicado. Existe o mundo virtual e o mundo real", analisa o rubro-negro Serafim Borges.

"Nessas condições, teriam que ser no mínimo 15 dias", completa Michael Simoni, que, assim como Grava, integra a CNMF e fazia parte do departamento médico do Fluminense até 2010. "É um ano diferente, a CBF tem seus motivos, a Copa do Mundo. As pessoas têm que entender que é um ano atípico. Desde 1950, nunca aconteceu. São 63 anos de hiato", prossegue.

Movimento por mudanças no futebol brasileiro tem 75 jogadores, incluindo astros

Ele defende a criação até mesmo de um fórum de discussão para debater o tema com o envolvimento de profissionais de outras áreas.

Na próxima segunda-feira, o grupo formado por 75 atletas batizado de ‘Bom Senso F.C.' irá se reunir em São Paulo para conversar sobre o assunto e definir as lideranças para um encontro com o presidente da CBF, José Maria Marin. Eles divulgaram nesta semana um manifesto assinado por representantes de praticamente todos os times da Série A.

Segundo o ESPN.com.br apurou, uma movimento nos bastidores já está acontecendo e, na semana que vem, mesmo sem ter sido incluída pela CBF na discussão, a Comissão Nacional de Médicos do Futebol deverá se posicionar sobre os riscos à saúde dos atletas. A entidade é presidida por José Luis Runco, coordenador médico da seleção e do Flamengo.

"Acredito que é um grande desperdício os profissionais que trabalham com o esporte nunca serem consultados. O técnico de futebol nunca é ouvido, o preparador físico, o médico, o fisioterapeuta. Eles (os dirigentes) colocam como se fosse uma ditadura e você tem que obedecer", afirma Joaquim Grava.

"Quando foi feito o calendário, nenhum de nós foi consultado. Nem o Runco. Na criação da entidade, não havia uma prerrogativa que forçasse a nos escutar em uma situação como essa, uma exceção, mas, de qualquer forma, tem que partir deles (CBF)", explica Michael Simoni.

A Comissão de Médicos tem o seu quinto encontro marcado somente para o final do ano, em São Paulo. A categoria deverá se reunir antes disso, no entanto, provavelmente em Curitiba, durante o Congresso de Ortopedia, em novembro.

No Brasileiro, os médicos são obrigados a enviar para a CBF um relatório com as lesões sofridas pelos jogadores ao fim de cada jogo.

A Comissão de Médicos mantém vínculo com a CBF e foi lançada em 2010


Fonte: Marcus Alves, do ESPN

Foto: Divulgação