Marcelo Sant'Ana concede entrevista coletiva nesta segunda-feira, evita falar de arbitragem, diz o que faltou ao Bahia e o que se pode esperar do time na Série B

Entre a tristeza pela perda do título do Campeonato Baiano no último domingo, para o Vitória, pelo menos uma coisa positiva o Bahia conseguiu naquela tarde: as pazes com a torcida. Após o jogo e o triunfo por 1 a 0, que não suficiente para conquistar o Baianão, os torcedores tricolores presentes na Arena Fonte Nova reconheceram o esforço dos jogadores e aplaudiram o grupo na saída do gramado.

Na tarde desta segunda-feira, o presidente do Bahia, Marcelo Sant'Ana, concedeu entrevista coletiva e elogiou a atitude da torcida. O público, por sinal, esteve presente em quase todas as respostas do mandatário tricolor nesta tarde.

Ontem [domingo], eu acredito que foi o meu melhor jogo enquanto presidente do Esporte Clube Bahia. A sinergia com a torcida, que é o fundamental no esporte, a gente conseguiu atingir. Acho que esse parâmetro é o que a gente tem que buscar sempre. Essa atitude, esse compromisso. Ontem a gente não jogou 100%. A gente jogou com a alma. E o torcedor sempre cobra isso, esse respeito, essa identificação. Quem está na arquibancada quer se sentir representado por quem está dentro de campo. A gente não conquistou o título, que é o objetivo principal do Esporte Clube Bahia, mas ficou evidenciado que o grupo, não apenas os 11 que estavam em campo, mas os outros jogadores, a comissão técnica, estavam com o mesmo objetivo, com a mesma determinação, com garra, vontade, com sangue no olho, sabendo que a gente está em débito com a torcida, e esse débito não está pago ainda. Mas, ontem, acredito que foi um cartão boas-vindas desse novo grupo que está sendo formado para que a gente possa orgulhar o torcedor.

O saldo positivo não ficou apenas por conta da torcida. Após o clássico do último domingo, a moral do técnico Doriva, que andava em baixa, voltou a subir. Antes da partida, alguns davam como certa a saída do treinador em caso de derrota. Nesta tarde, Sant’Ana voltou a afirmar que trabalha com prazos longos e destacou os resultados conquistados pelo treinador no início deste ano.

- O trabalho no Bahia a gente sempre avalia com médio e longo prazos. O Doriva, quando foi contratado, a gente passou quais eram as necessidades do Bahia, os objetivos. Claro que o troféu a gente não levantou no Campeonato Baiano, nem na Copa do Nordeste, mas eu acredito que a gente tem bons indícios para a temporada 2016. A gente teve o melhor início de temporada da história do Esporte Clube Bahia em resultados. O futebol, naquele momento, era questionado por alguns. No Campeonato Baiano, a gente termina sem o resultado, mas com um futebol que nos dá esperança de fazer uma grande temporada na Série B, que é o principal objetivo do Bahia. O Doriva tem toda a tranquilidade para trabalhar, toda autonomia. É cobrado como qualquer profissional do nosso clube. Isso é natural do futebol. Então a gente segue avaliando. Mas a gente tem a tranquilizar de começar a Copa do Brasil e a Série B com o sinal positivo, principalmente dessa sinergia da torcida. Eu sempre disse, ainda na época que era candidato, que não tinha um grande jogador do Bahia no meu coração. O meu coração é pela torcida. Virei torcedor pela torcida. E essa sinergia a gente conquistou. E isso não depende apenas do técnico, dos jogadores, dos dirigentes. É um conjunto de fatores. Infelizmente, a  gente não saiu com o título, mas, felizmente, a gente saiu conquistando a torcida, que é nosso bem maior.

Satisfeito com o desempenho do Bahia no clássico, Marcelo Sant’Ana não se deixou abater nem pelas provocações do rival. Após a partida na Arena Fonte Nova, jogadores do Vitória como o goleiro Caíque e o zagueiro Victor Ramos usaram uma máscara que mostrava o rosto do presidente tricolor em lágrimas. Com bom humor, Sant’Ana entrou no clima da zoação.

Eu acho que tem muita gente no Vitória que me ama, que pede para vir para o lado de cá. Mas a gente tem que respeitar. Se eles acham que é a melhor maneira de comemorar um título, é uma individualidade. Eu prefiro comemorar com as pessoas que estão próximas a mim. Se eles gostaram de botar uma máscara querendo se passar por mim, acho que isso é um amor, mas um amor platônico e não vai ser correspondido, não. Mas, pelo menos, é amor, né? [risos]

Confira outros trechos da entrevista coletiva de Marcelo Sant'Ana.

ARBITRAGEM DO BA-VI

- Eu sou um jornalista afastado momentaneamente. Então não quero ficar falando de arbitragem. Eu acredito que o campeonato acabou ontem. A gente tem que olhar a vida para frente. A gente tem um compromisso que é a Série B. Não quero ficar opinando sobre essas coisas. Acho que, individualmente, cada um tem direito a sua opinião. Em 2015, quando o Bahia não subiu, eu disse que, se num campeonato de 38 rodadas, Botafogo, Santa Cruz, América-MG e Vitória chegaram à frente, eles têm que ser parabenizados. Se o Vitória chegou na frente no Campeonato Baiano, ele tem que ser parabenizado. Houve erros, não houve erros, houve escalação irregular, não houve escalação irregular, eu deixo para quem é advogado, quem está em tribunal discutir. Para mim, não teve muita dúvida do que ser debatido. As situações foram muito claras. Por ser correto no futebol brasileiro, paga-se um preço. E eu estou disposto a pagar pela preservação dos bons valores, eu estou disposto a pagar. Se isso enquanto presidente vai me custar um título, dois títulos, minha responsabilidade eu vou assumir. Mas o Bahia vai sempre agir dentro da legalidade, da lei, sempre olhando a ética esportiva.

BRIGAS DURANTE O CLÁSSICO

- Eu acredito que o clássico ontem foi bem jogado pelas duas equipes, cada uma com sua estratégia. O Vitória tem um técnico competente, o Mancini, que jogou com o regulamento. O Bahia mostrou que tem um técnico competente, o Doriva, mexendo na sua configuração tática, em algumas peças. Eu acredito que, no esporte, você não pode ter a maldade de entrar para machucar o colega de trabalho, de entrar para quebrar uma perna. E isso eu não vou compartilhar. E a questão de expulsão, claro que, quando você está numa guerra, a intenção é começar com 11 e terminar com os 11. E em algumas situações, se tiver que algum soldado ser sacrificado pelo bem maior, faz parte da busca pelo objetivo, tendo lealdade, ética, que o Bahia não abra mão. E teve uma expulsão por parte do Bahia, outra do Vitória. Isso mostra a vontade dos jogadores. A gente fala do profissionalismo, e esse profissionalismo a gente fala que algumas vezes, quando perde o ponto, vira algo plastificado. Ontem, o Bahia buscou a qualquer custo, dentro da ética e do respeito, o resultado. Às vezes, tem força um pouco maior, uma jogada mais ríspida. Mas nada que fira ou arranhe o espírito esportivo. A torcida do Bahia aceitou a não conquista do título pela entrega dos seus atletas. A torcida do Vitória soube comemorar. Acredito que o esporte tem que ser feito dessa maneira. Não tive conhecimento de alguma notícia que teve briga fora do estádio. Isso é o principal, para dar parabéns ao torcedor. A gente ama o esporte e vive do esporte, isso tem que ser preservado. Claro que tem que a frustração de quem não ganhou. Tem uma comemoração às vezes exagerada de quem ganhou. Mas isso é normal. A provocação, curtição, isso tudo é legítimo. E a disputa dentro de campo. Se os jogadores, às vezes, disputam, brigam, claro que a gente não recomenda esse comportamento, mas todo mundo é humano. É melhor, às vezes, passar um pouco do ponto lutando pelos seus objetivos do que ser passivo e omisso. Acredito que a gente teve um bom clássico, e qualquer excesso fica no âmbito esportivo.

O QUE FALTOU AO BAHIA

- Acredito que a gente está tentando corrigir alguns erros que cometemos em 2015. Erros de todas as espécies. A gente está buscando aproximação maior com o torcedor, a gente está tentando aparar arestas, seja em época de eleição, seja na temporada passada, ouvindo mais qual o clamor das arquibancadas. E essas correções aos poucos vão aparecendo. Claro que a gente precisa também de alguns resultados para que a gente sinta aquela chama acesa, mas eu acredito que esse Ba-Vi pode funcionar como esse cartão de visitas, como essa nova página, na qual torcida e clube vão escrever as próximas histórias.

REUNIÃO COM ELENCO E RENATO CAJÁ

- Cajá está fazendo exame médico, tudo ocorrendo bem. Ele vai ser apresentado formalmente amanhã. Sobre a reunião com os jogadores, o que acontece no vestiário fica no vestiário. Eu tenho esse lema, aprendi isso com os atletas. O que a gente pode falar é que eu mostrei, enquanto presidente, o orgulho da partida que eles fizeram ontem. A garra, o compromisso, o respeito ao torcedor. Desde antes do jogo, quando eles tiveram a humildade de descer a pé do ônibus e a gente entrar no estádio e passar perto da torcida. O Bahia é grande por causa da sua torcida. Essa sinergia foi positiva. Acho que é a nossa conquista do baiano, essa aproximação. É a gente entender que é um clube só. E dentro do Esporte Clube Bahia, cada um tem um papel para que a instituição seja vencedora. Passando essa mensagem e desejando manter essa atitude de quem quer, de quem está com fome, de que é um time de homens.

O QUE ESPERAR DO BAHIA NA SÉRIE B

- Atitude, compromisso, hombridade. São três aspectos que o torcedor cobra sempre da gente. E isso tem que ter. Na parte técnica, alguns ajustes no elenco. Temos que qualificar alguns setores. Temos agora a chegada do Jackson, Renato Cajá, a gente sabe que precisa ainda fazer algumas correções. Num calendário como o brasileiro, a gente precisa de um elenco qualificado. Precisamos ter 14, 15 jogadores em cada partida tendo 100% das suas condições e a alma preparada para ir para o jogo. Mas, principalmente, manter essa sinergia. Eu ontem saí muito feliz com o comportamento da torcida do Bahia, dos jogadores também, que souberam reconhecer o que torcida feliz, numa atitude voluntária deles. Essa sinergia é o que a gente tem que preservar para a Série B. É o nosso bem maior, a nossa maior grandeza.

Em uma entrevista coletiva no dia 27 de março, Marcelo Sant'Ana falou sobre o possível caso de irregularidade envolvendo o zagueiro Victor Ramos (Clique aqui para saber sobre o caso VR3).

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Fonte: Bahia Noticias | Ge.com