Interventor diz que situação financeira do Bahia é delicada: 'Quem mais me liga é credor'
O entrevistado desta semana da Coluna Esportes é o advogado Carlos Rátis, interventor do Bahia. Ele deu detalhes do recadastramento de sócios e se diz preocupado com a situação financeira do Esquadrão de Aço. “Quem mais me liga é credor (…) Existem débitos em todas as áreas”, revelou. Rátis afirmou que foram realizadas antecipações de pagamentos na maioria dos contratos firmados com patrocinadores, durante a gestão de Marcelo Guimarães Filho.O interventor também garantiu que o diretor Anderson Barros e o técnico Cristovão Borges possuem total autonomia nas suas funções. “Tudo em relação ao futebol quem toma as decisões é Anderson Barros e Cristovão Borges. Houve a contratação do jogador [William] Babio e ele [Anderson] nos consultou”, garantiu.
BN: Como está a vida de Carlos Rátis após o início da intervenção?
Carlos Rátis:Tenho recebido muito apoio de todos, torcedores e cidadãos que acreditam que o poder judiciário precisa ser respeitado. O maior patrimônio é a torcida, e que ela precisa ser respeitada. Sempre foram manifestações de apoio, me passando força. Até mensagens de empresários, inclusive declarando apoio dos funcionários. Isso é muito significativo. Todos estão acreditando que há um processo aberto e participativo.
BN: Qual o resultado do recadastramento dos sócios?
CR:O recadastramento é imprescindível. Em 2011, quando houve eleição 226 sócios votaram e três votos foram nulos. Foram eleitos 400 conselheiros. Trezentos titulares e 100 suplentes. Ou seja. Você tem uma eleição que nem o próprio candidato votou. A gente constatou que inúmeros conselheiros não são sócios. Um dado importante, pois não vamos permitir isso novamente. Por isso que o recadastramento é imprescindível para que a gente possa comprovar a situação de regularidade de cada sócio com o clube. Não vamos admitir que nenhum cidadão que não tenha relação com o clube, venha prejudicar os trabalhos da intervenção. Muitos que votaram nem eram sócios. Então estamos vendo a situação de um a um e a apresentação do título para que venha demonstrar a situação de regularidade ou não. Não queremos documento autenticado. Só a cópia basta, pois parte da presunção da boa fé. Até quarta-feira ( 7), último dia do recadastramento, 1339 sócios se recadastraram. Desses, 440 remidos. Dos 440, 74 estão com a documentação insuficiente. E a gente está ligando, mandando e-mail, carta registrada, para cada um, para se regularizarem. O que é essa regularização? Mostrar o título com o nome dele. Ou a carteira. Dos patrimoniais, 889 se recadastraram, mas 288 apresentaram irregularidades. Ou seja, se a gente somar todos os sócios que podem votar e se candidatar, teremos no máximo 728.
BN: O que será feito para solucionar esse problema?
CR:Estamos estudando. A própria urna eleitoral, que ingressamos com o pedido no TRE [Tribunal Regional Eleitoral], elá só admite eleição com dois candidatos. Óbvio que só existe eleição com com concorrência. Cada chapa precisa inscrever 400 candidatos, que são 300 titulares e 100 suplentes. Esses 400 é que vão escolher o presidente, pois a eleição é indireta. Se não temos nem o número mínimo, o que vamos fazer?Estamos estudando, colhendo pareceres, para que a assembleia ocorra respeitando a legislação. O que estatuto de 2008 diz? Os casos omissos serão resolvidos na forma do estatuto e de acordo com a legislação em vigor. E qual a legislação em vigor sobre esse assunto? A lei Pelé, que diz que quem tem direito a voto é o sócio, que esteja na situação regular. Ou seja. Não há carência.
BN: Então existe a possibilidade dos novos associados votarem?
CR:Já tem essa possibilidade. Estamos discutindo, pois é o papel da comissão tomar decisões que venham apresentar segurança jurídica, para que sejam consolidadas, pois não somos os donos da verdade. Pelo contrário. Estamos aqui para revelar fatos e chegar a conclusões socialmente aceitáveis. A gente está colhendo essas considerações, como essa linha. Essa tendência de aplicar a Lei Pelé, no que tange ao direito de volto. O estatuto vai ser mantido, ele é legal, mas o próprio artigo diz que nos casos de omissos, temos que partir para a legislação em vigor.
BN: Se houver uma mudança no estatuto na assembleia do dia 17, há tempo hábil para ele ser registrado para a outra assembleia do dia 24?
CR:A gente vai ter que correr atrás de ir no cartório de registro, que fica em Nazaré, viabilizar isso. Mas se não for 24, a gente faz 31. Nada vai ser feito de força atropelada. Tudo vai ser feito para que haja segurança no resultado das eleições. Se não for dia 31, joga mais uma semana, entendeu? O objetivo é o mais rápido possível. Eu venho deixando bem claro isso: o poder judiciário, e nós estamos aqui por designação do judiciário, no nosso entendimento não deve interferir no futebol. Não deve haver uma judicialização do futebol. Isso é muito importante frisar. Estou aqui falando mais dados da própria eleição de 2011, de um número de eleitores muito menor do que o de eleitos. Eleitos estes que não tinham nem a legitimidade de serem considerados como tais. E isso não pode continuar. Essa situação não poderia acontecer. Então o judiciário tomou as providências e a gente está aqui para realizar as eleições e acabou. Não estamos aqui para demitir, para constituir novos funcionários, tudo que estamos fazendo é respeitando a competência de cada órgão. Tudo em relação ao futebol quem toma as decisões é Anderson Barros e Cristovão Borges. Houve a contratação do jogador [William] Babio e ele nos consultou. Qual foi nossa resposta? ‘Professor, o que o senhor achar melhor para o clube você tem a nossa autorização’.
BN: Quem assina é você?
CR: Vai haver ainda a assinatura, mas quem vai assinar é a comissão de intervenção. Tudo em relação ao clube somos nós que assumimos. Mas é isso que eu quero deixar bem claro: As decisões sobre o departamento de futebol quem toma é o departamento de futebol, porque entendemos que não temos competência, nem formação para isso. Mas não podemos deixar o clube parar, deixar de funcionar. Então essa contratação ocorreu em face da opinião do departamento de futebol. É claro que tinha que ser analisado a questão financeira. Aí, por parte da comissão, não existiria autorizar o que fosse inviável.
BN: Você falou das cotas adiantadas e ontem os ex-diretores financeiros do Bahia te desmentiram e chegaram a criticar o seu comportamento...
CR: Tudo em relação à imprensa, a gente acaba não tendo sequer legitimidade em comentar. Primeiro que eles não me procuraram para prestar qualquer informação, não soube de que forma aquela informação foi prestada. O que eu andei dizendo, e estou reiterando aqui, a grande maioria dos contratos houve antecipação de valores.
BN: Na cota de televisão houve?
CR: Houve antecipação de valores. Agora quais são os contratos por questão de ética a gente prefere não dizer quais foram A, B, C.
BN: E em relação aos conselheiros. Foram 11 que apareceram na lista de trabalhadores do clube. E o estatuto prevê que eles têm que abrir mão do cargo para ter participação no Conselho Deliberativo. Você pretende fazer algo em relação a isso?
CR: Essa análise ainda está sendo feita pela comissão. A gente prefere não opinar sobre o assunto, porque primeiro a gente tem que constatar se há esse cruzamento. E após a análise do estatuto tomar providência, mas tudo tem que ser com cautela, tem que saber a situação de cada um. Então em relação a esse assunto a gente prefere só opinar depois de uma análise mais detalhada.
BN: A Revolução Tricolor, um dos grupos de oposição, apresentaram uma proposta de mudança do estatuto e informaram que havia mandando para a sua comissão. Você tem recebido propostas de outros grupos?
CR:Tenho recebido, sim. Até agora, formalmente, apenas da Revolução Tricolor.
BN: E a sua própria comissão tem uma proposta de mudança do estatuto?
CR:Na verdade, fizemos um estudo comparado dos estatutos para na assembleia colaborar. No sentido de buscar a melhor solução para ser discutida e deliberada pela assembleia. Mas não é o nosso papel criar o estatuto, e sim analisar as propostas e definir qual seria o melhor texto. Mas nós estamos fazendo um estudo de artigos que sejam adequados.
BN: Como está a situação financeira do Esporte Clube Bahia?
CR: A situação é muito delicada e muito difícil. Estamos ainda levantando quais são os valores que ingressam mensalmente no clube a partir dos contratos; Encontramos a maior parte dos contratos com antecipações. Isso acaba prejudicando o planejamento de pagamento. Entretanto, consideramos extramente viável e possível ter uma recuperação de saneamento a a médio e longo prazo. Os fornecedores estão nos procurando continuamente . Estamos aqui nesta entrevista e quem mais me liga é credor. Se eu for atender aqui, vou atender cinco ou seis. Existem débitos em todas as áreas. Débitos de meses acumulados. Como por exemplo o fornecimento de alimentação.
BN: Na lista dos funcionários divulgada pelo clube, aparecem o nome do ex-jogador e radialista Elizeu Godoy e de duas irmãs de Marcelo Guimarães Filhos. Eles cumpriam suas funções normalmente no Fazendão?
CR:Não tenho essa informação. Essa semana nós requeremos junto ao RH o levantamento dos funcionários ausentes e ainda não tenho essa informação.
BN: Existe isso no estatuto do Bahia mesmo que diretor não pode acumular cargo? E não seria esse o caso especificadamente do Elizeu Godoy?
CR: A legislação que deve ser observada não é só o estatuto. Tem que ser observada a legislação em vigor. Por isso que nós preferimos dar essa resposta com a análise detalhada. Analisando não só o estatuto, mas a Lei Pelé, seguindo todas as normas para haja uma avaliação pormenorizada.
BN: Como está a situação do funcionários ausentes?
CR:A jurisprudência afirma que 30 dias de ausência pode ser considero o abandono de emprego. Estamos buscando, no Fazendão, uma lista sobre quem está indo trabalhar, quem não compareceu, para tomar providências. Constituímos um advogado trabalhista, competente para isso, para resolver essas questões.
BN: Já existe alguma resposta sobre o processo de auditoria?
CR:Eles deixaram bem claro que não existe prazo. Estão se empenhando ao máximo para acabar o mais rápido possíveis. Disponibilizaram um bom número de auditores e , na próxima semana, divulgarão o primeiro relatório confidencial.
BN: Participar de uma intervenção não é novidade para você. Desta vez é diferente?
CR: Eu, na minha atividade como advogado, já acompanhei na condição de administrador judicial outros casos que buscam uma recuperação da empresa. Mas nada se compara ao Bahia por uma série de razoes. É uma instituição que apresenta complexidade impar. Relações diárias com empresários de atletas, por exemplo. Não só por isso. Mas também por acumular funções, já que houve destituição dos vice-presidentes, torna o trabalho ainda mais árduo,
BN: E a divisão de base...
CR:A divisão de base é um Bahia peculiar. É como se fosse um grande clube dentro de um grande clube. Alimentação, passagem aérea, realização de exame. Nesta semana, por exemplo, tivemos situações envolvendo o INSS e FGTS de atletas que estavam em atraso. Pessoalmente, na última quarta-feira, fiz pessoalmente o pagamento do INSS de dois jogadores da base que estavam há meses sem o recolhimento.
BN: O Bahia estava muito pior do que imaginava?
CR:Posso te garantir que o maior patrimônio sem duvidas é a torcida. Ela que mantém, consagra e dá força para instituição. Financeiramente é uma situação muito difícil. O Bahia precisa de um plano de recuperação a médio longo prazo em todos setores, para assim conseguir apresentar harmonia.
BN: Quais os pré-candidatos que já te procuraram?
CR: O Rui Cordeiro já nos procurou e tem interesse. Ele falou que já estaria lançando o site, indicando a sua campanha. O Antônio Tillemont também já nos procurou e se lançou como candidato. Até o momento, esses dois nos procuraram com essa intenção real. Os outros eu conheço pela imprensa. Todos os dados que eles [pré-candidatos] quiseram, nós vamos disponibilizar.
BN: Quando será quitado os salários?
CR: Vamos pagar valores para alguns jogadores hoje [sexta-feira]. São valores que estavam em atraso e por isso temos priorizado os atrasos de maior tempo. Valores de junho que venceram em julho. Na próxima semana já há um cronograma real de pagamento para todos.
BN: Muito se fala da participação de Sidônio Palmeira no processo de intervenção. Procede?
CR:Não só Sidônio, mas inúmeros torcedores que estão contribuindo de forma positiva para o nosso trabalho de intervenção. O que não vamos tolerar são setores, empresários ou agentes que venham nos prejudicar neste período. Tivemos reuniões com o César Oliveira, quando fomos convocados, e vamos para qualquer reunião que nos chamarem. Nós só queremos o bem da instituição.
Desejamos aos Tricolores um Feliz dias dos Pais
Votem CRISTÓVÃO para melhor Técnico do Brasileirão
Tabela interativa da Série A com atualização online
Fonte: Glauber Guerra, Claudia Callado e Felipe Santana / Bahia Notícias
Fotos: Claudia Cardozo / Bahia Notícias