Em nome dos "meninos do Fazendão", Doriva pede compreensão com a base

Treinador do Bahia diz que torcida precisa ter calma com os atletas lançados pelo clube. Em 2016, foram nove estreias em 16 partidas oficiais do Esquadrão de Aço

Treinador destaca necessidade de apoio à base (Foto: Felipe Oliveira/EC Bahia/Divulgação)

Evaristo de Macedo costumava dizer que "calça menino não veste em homem". A afirmação era uma saída para perguntas constantes sobre o lançamento de jovens jogadores no futebol. Com a frase, ele calava os críticos e, indiretamente, tentava arrumar mais tempo para que os atletas novos pudessem ser aproveitados no time principal. Algo bem diferente da postura proposta pela atual diretoria do Bahia desde que assumiu a função, em dezembro de 2014.

Com o slogan de “A vez do futebol”, Marcelo Sant’Ana prometeu dar destaque à divisão de base. O gerente de futebol, Éder Ferrari, chegou a vislumbrar o crescimento do aproveitamento dos pratas da casa em detrimento de novas contratações. O primeiro passo foi dado em 2015 e, neste ano, a continuidade da ideologia pode ser vista com Doriva.

Nas 16 partidas oficiais do Bahia em 2016, foram nove novidades da base no time principal. Marlon, Júnior Ramos, Luis Fernando, Dedé, Max, Felipinho, Mayron, Hugo Freitas e Geovane Itinga tiveram suas chances. Ao todo, com novos e antigos atletas criados pelo clube e o jogo contra o Juazeirense, quando o sub-20 atuou, a lista de crias do Fazendão sobe para 29 atletas.

Na teoria, muito sucesso. Na prática, nem tanto. Alguns destes escolhidos não agradaram os torcedores e têm sofrido com críticas constantes. Zé Roberto e Rômulo são dois destes exemplos. Para Doriva, é preciso ter paciência para fazer o projeto prevalecer. Da torcida e dos jogadores.

- Tenho sempre dito que o torcedor tem que ter calma. Se o torcedor quer atletas jovens, quer que o clube tenha política de trabalho de base eficiente, o torcedor tem que estar preparado para abraçar esses jogadores e dar tempo para que eles amadureçam. É o caso do Rômulo e do Zé. Eles têm potencial, mas precisam amadurecer um pouco mais. Estou apoiando eles, encorajando. Torcedor tem o direito de criticar, mas a gente procura conversar com os atletas, mostrar que faz parte do processo, que ele tem que trabalhar em cima disso, porque ninguém fica imune a críticas. Isso vai forjá-los para que eles amadureçam - afirmou em entrevista ao GloboEsporte.com.

Tem que acreditar nele e continuar acreditando, não deixar cair em momento algum. A gente tem tido a resposta positiva do Feijão e o torcedor tem visto isso.

Doriva,

técnico do Bahia

Para mostrar que o sucesso pode ser conquistado neste projeto, o treinador elencou um exemplo. Depois de dois anos praticamente sem chance no Tricolor, Feijão tem reconquistado seu espaço. Ainda longe de ser unanimidade entre os torcedores, o volante conquistou totalmente a confiança do treinador.

- Feijão é jovem, apesar de ter uma rodagem. Estava um pouco desacreditado. Acho que até ele não acreditava nele. E foi fácil, porque o ser humano precisa de encorajamento. A gente encorajou, mostrou que ele tinha qualidade, elogiou as virtudes dele, e ele foi crescendo, até ter a oportunidade e fazer aquele primeiro jogo contra o Santa Cruz, e ele fez um baita jogo. Eu, no dia a dia com o atleta, não estava inseguro, mas muita gente estava em relação à participação dele. Mas ele demonstrou que tem personalidade e potencial e que tem muita coisa ainda para acrescentar. Tem que acreditar nele e continuar acreditando, não deixar cair em momento algum. A gente tem tido a resposta positiva do Feijão, e o torcedor tem visto isso - opinou.

Ao longo do ano, em suas entrevistas coletivas, o treinador tem destacado alguns pontos em que os atletas podem evoluir. Um deles é a necessidade de jogar coletivamente. No último domingo, após o triunfo sobre o Bahia de Feira, pelo Campeonato Baiano, ele destacou este quesito. Um dos perseguidos pela torcida por não tocar muito a bola é Zé Roberto.

Além dele, outro jogador que chama a atenção por prender o jogo é Luisinho. O atleta foi alvo de uma conversa especial com o treinador. De acordo com Doriva, a ideia é que o atacante mantenha a coletividade apresentada quando o time não tem a posse da bola.

- Eu sempre prego que o futebol é coletivo, e a gente tem que jogar coletivamente. E o Luisinho é um jogador individualista. Ele é. Mas eu tenho cobrado dele a participação na parte coletiva, quando a gente tem a bola. Sem a bola, ele tem se dedicado com a dinâmica, fechando as entrelinhas, que a gente prefere que ele feche e depois saia para marcar o lateral. Ele tem feito isso muito bem. Mas nesse jogo ele estava prendendo a bola em demasia e estava demorando a servir os companheiros, a dar o último passe. E ele teve três ou quatro chances que a gente teve de fazer o gol se ele fosse um pouco mais rápido. A cobrança foi em cima disso - finalizou Doriva.