A velocidade máxima de 41 km/h alcançada por Mendoza em uma distância de 75 metros, de acordo com o Fantástico, é acima da média. Claro que o colombiano sempre foi reconhecido por sua velocidade, mas a carreira impressionante que ele deu para marcar o segundo gol do triunfo sobre o Vasco, no último fim de semana, impressionou. O zagueiro vascaíno Ramon que o diga. Quando achou que tinha a jogada sob controle, viu o atacante do Bahia lhe tomar a frente como uma flecha, parando somente depois de empurrar a bola para o fundo da rede.
A avaliação da aceleração de Stiven Mendoza, considerada incomum, é do Departamento de Análise e Desempenho do Bahia, na figura do fisiologista Maurício Maltez. É uma política do clube não liberar informações sobre os dados dos seus atletas, portanto ele não confirma a distância nem a velocidade alcançadas pelo colombiano, porém faz questão de deixar registrado que foi acima da média.
- Dessa vez foi um pouco acima do que é normal, porque ele teve uma distância maior percorrida. Quando você tem uma distância maior... Ele conseguiu desenvolver uma velocidade um pouco maior, embora ele seja um atleta que atinge velocidades muito altas – afirmou o profissional.
A disparada de Mendoza se torna ainda mais impressionante quando comparada a um feito de um tal Usain Bolt, o atleta mais rápido da história. A velocidade máxima atingida pelo jamaicano quando conquistou a medalha de ouro nos jogos olímpicos de Pequim foi de 43,9 km/h. Ele foi campeão dos 100 metros rasos com o tempo de 9s69 – um ano depois, no Mundial de Berlim, o "Raio" pulverizaria essa marca correndo para 9s58.
Estaria Mendonza, então, apto para participar dos 100 metros rasos? A pergunta é irresistível, e até mesmo o atacante tricolor entrou na brincadeira ao ser questionado pela reportagem do GloboEsporte.com.
- Posso falar que sou rápido, mas às vezes tem uns caras que estão preparados para correr os 100 metros. Eu ainda tenho que praticar muito, mas vergonha não passaria – falou o colombiano.
E Mendoza completou com uma brincadeira.
- Como vinha falando com o pessoal, isso foi com a bola no pé. Imagina correndo livre, sem a bola no pé? – indagou.
Brincadeiras à parte, futebol e atletismo guardam suas particularidades. Uma delas, como lembra Maurício Maltez, é que atletas que disputam as provas de velocidade partem do chão, portanto precisam de um tempo maior para atingir a velocidade máxima, cerca de 30 a 40 metros depois da largada.
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Os números de Mendoza impressionaram dentro do clube, pois ele conseguiu manter essa velocidade. Esse é, inclusive, o grande desafio dos corredores: manter a velocidade máxima pela maior distância possível. No caso do colombiano, além de não partir do chão, o que lhe confere vantagem, ele percorreu 75 metros, 25 a menos do que exige a prova mais tradicional do atletismo.
- A maior dificuldade, às vezes, é que você atinge uma velocidade, mas não consegue manter por uma distância maior. É o que a gente chama de resistência de velocidade. Quando vai chegando nos 80, 90 metros, tende a diminuir. Além de conseguir velocidades elevadas, ele [Mendoza] consegue fazer uma manutenção dessa aceleração – ponderou Maurício Maltez.
Se Mendoza alcançaria um bom desempenho nos 100 metros? O fisiologista do Bahia até acredita que sim, concordando com o próprio Mendoza, mas alerta que ele precisaria encontrar a mesma motivação que tem para marcar um gol.
- Provavelmente sim, mas ele teria que encontrar os mesmos fatores motivacionais que o futebol possibilita. Você correr atrás da bola na intenção de fazer o gol é diferente de correr simplesmente por correr. Provavelmente sim, mas é uma questão comportamental – afirmou.
Há outra boa discussão aqui. Se Stiven Mendoza conseguiu alcançar os 41 km/h contra o Vasco, por que não é capaz de fazê-lo o tempo inteiro? A resposta está no tipo de futebol praticado na atualidade, com menos espaços para percorrer grandes distâncias. O Brasil demorou a compactar suas linhas em relação ao que já se fazia na Europa, mas hoje já dá mostras de um jogo muito mais organizado e compactado.
O que não diminui a importância de Mendoza, importante tanto na recomposição quanto nos contra-ataques, arma essa muito utilizada pelo Bahia reativo de Preto Casagrande.
- Como os espaços são mais reduzidos, ele não mostra essa capacidade de atingir, nem tão pouco mantê-la. Como foi 70 metros, ele conseguiu mantê-la [...] É um bom atleta para isso [contra-ataque]. Pensando nessas variáveis, quando a gente, comissão técnica, conversa para tentar um atleta para jogar no plano de jogo, a gente pensa nisso – explicou Maurício Maltez.
Confira outras aspas do fisiologista tricolor sobre Stiven Mendoza.
Acima da média
- No ponto de vista de atingir a velocidade, independente se é esta ou não [velocidade de 41 km/h], é um atleta por característica que, de fato, tem um comportamento muito acima da média no que atinge de velocidade final, de pelo menos 30 metros. Se tem uma distância acima de 30 metros, é um atleta diferenciado em relação ao que ele alcança. É o que a gente chama de aceleração. Ele consegue atingir uma aceleração de forma bem acentuada. Se fizer comparação com os 100 metros, que você sai do chão para alcançar uma aceleração, você precisa de 30 a 40 metros para atingir o máximo. No futebol, você não parte do chão. Você atinge a aceleração máxima no espaço mais curto. Quando compara ele com outros atletas, ele tem um potencial diferenciado.
Mendoza conseguiria manter a velocidade máxima por mais tempo?
- O que impressionou nesse momento, foi ele conseguir essa manutenção. Se ele conseguiria manter mais, não consigo cravar isso.
Acelerar e desacelerar
- É um atleta de muita velocidade. Não posso te dar isso. É um atleta de muita velocidade e muita aceleração. No curto espaço de tempo, ele consegue desenvolver uma aceleração, tanto de acelerar e desacelerar.
Fonte: Globo Esporte