Guto Ferreira fala sobre gols nos últimos instantes de partidas e descarta jogo fácil contra o Atlético-GO no próximo sábado, pela última rodada da Série B
A tranquilidade está longe de ser uma característica do Bahia nos últimos jogos. Contra Sampaio Corrêa e Luverdense, o Tricolor garantiu um triunfo e um empate, respectivamente, com gol nos acréscimos. Neste sábado, mais uma vez a emoção acompanhou o time baiano até os últimos instantes. Aos 42 minutos do segundo tempo, Renato Cajá marcou o terceiro gol no triunfo por 3 a 2 sobre o Bragantino, resultado que manteve a equipe três pontos acima do Náutico, primeiro time fora do G-4, e a um empate de confirmar o acesso para a Série A.
O drama para a conquista dos últimos resultados se tornou o tema principal da coletiva do técnico Guto Ferreira. O treinador avaliou o desempenho da equipe, falou do equilíbrio emocional do elenco e avaliou a postura demonstrada pelos jogadores de acreditar até o fim.
No segundo tempo, o Bragantino só fez o gol, quem jogou foi o Bahia. Eles, em uma mudança, houve uma inversão de bola, a equipe montada, o cara cruzou e saiu o gol. Se pegar “n” lances de contra-ataques que tivemos, vou concordar, faltou tranquilidade para colocar a bola para dentro. A equipe foi buscar forças, as mudanças foram positivas, e a gente conseguiu dar mais intensidade e fazer o gol. Aí fica aquele lance na cabeça do jogador, estar ganhando e tem medo de tomar o empate. Começa a ficar passivo e ocupa os espaços, toma o gol, não tem nada a perder e se atira à frente. Temos que achar o equilíbrio. Tivemos erros de marcação, corrigimos no segundo tempo, o Bragantino não jogou tanto. Tivemos muitas chances de chegar até a área, não finalizamos com qualidade, o que são outros 500. Tivemos mais posse e mais chegada. Estou certo? Tivemos a infelicidade de tomar o gol e a competência de fazer o terceiro gol. Isso que importa nesse momento
Guto Ferreira falou sobre o próprio comportamento na beira do gramado. Ele contou que, mesmo quando está nervoso, evita transparecer a tensão para o elenco. A responsabilidade é manter os jogadores calmos, o que só muda na explosão da comemoração dos gols.
Lógico [que fica nervoso]. Sou de carne e osso, tenho os mesmos problemas. Sou ansioso, olha o meu tamanho. Mas procuro me manter o mais sereno quando possível até para não transmitir isso para dentro do campo. A cada gol, a gente comemora para descarregar, colocar para fora o que sentimos para reequilibrar o que absorvemos. Para poder ficar um pouco mais calmo e pensar as coisas certas. Por isso que não é decidido de uma cabeça só. São quatro, cinco, o que fazer, planejamento do jogo. Antes de colocar o Mário, anteontem e ontem, fui conversar com todos da comissão. Desde fisiologista até o auxiliar de preparação física. Quem vivenciou o Mário antes da lesão. Ele treinou muito bem, fez gols em todos os treinos. Fica a intranquilidade de colocá-lo em uma partida decisiva sendo que ele não atuou ainda. Qual resposta ele vai dar? Falo que o cara que mostra no treino, a tendência é mostrar no jogo. Errou, errou, mas os acertos foram maiores e, graças à atitude dele, conseguimos fazer o terceiro gol.
Guto Ferreira também elogiou o desempenho da torcida. A partida deste sábado registrou um recorde de público do Tricolor no ano, com 44 mil pagantes.
Hoje foi demais. Não foi só a questão da quantidade de torcedor. Foi a postura. Ganhávamos de 2 a 0, sofremos o empate e a torcida começou a empurrar. O resultado foi para eles. Jogamos com 12. Isso inflama, faz tirar a força de onde não tem. Fica no subconsciente quando jogamos fora de casa. Eles sabem a força do torcedor, o que o torcedor sofre. Justamente por isso que essa responsabilidade faz com que eles faltem com algumas coisas, a ansiedade aflora mais. Temos que encontrar o equilíbrio. É um peso. Mas é um peso gostoso. Jogar no Bahia é maravilhoso. Trabalhar no Bahia é maravilhoso. Ter essa torcida maravilhosa ao lado é sem comentários.
Na próxima rodada, o Bahia enfrentará o Atlético-GO no estádio Olímpico, em Goiânia, a um empate de conseguir o acesso. O Dragão conquistou o título da Série B e carimbou a vaga na Primeira Divisão. Contudo, a possibilidade de ter uma partida fácil, com um rival desinteressado, foi previamente descarta por Guto Ferreira.
Você convive o dia a dia deles? Existe uma coisa chamada caráter, dignidade. As pessoas trabalham por isso. O fato de fazerem um campeonato tão bom os deixa leve, tranquilos para trabalhar. Ainda mais com a festa programada, o jogo das faixas. Eles têm “n” motivos. Com esse discurso, o São Paulo ano passado entrou para jogar contra o Corinthians na última rodada, contra ao time reserva. Perdeu foi de seis. Desculpe a maneira sarcástica de colocar, mas é que colocam a situação como se fosse fácil. Trabalhamos com pessoas. Falei na coletiva ontem, as pessoas têm mania de superdimensionar algumas coisas e desvalorizar outras. A realidade não é assim. O Oeste vai ter seu nível de dificuldade, o Náutico vai ter o seu, o Vasco também, e nós vamos ter um nível de dificuldade contra o Atlético-GO. São três equipes brigando por duas vagas, e estamos entre eles.
Com 63 pontos, o Bahia ocupa a terceira colocação. O Vasco, quarto colocado, tem 62 pontos, enquanto o Náutico, na quinta posição, tem 60 pontos.
Confira abaixo outras declarações de Guto Ferreira.
EQUILÍBRIO EMOCIONAL
Nosso elenco tem muita responsabilidade, se cobra muito. Nesse de se cobrar, pode não achar o ponto de equilíbrio. Passa por isso. Quando não tem nada a perder, você se atira. Quando se tem algo que se acha que está de posse... Falamos sobre isso. O Bahia não tem nada a perder, não alcançou a classificação. Tem que tirar essa coisa que está batida na cabeça diariamente. Alguns têm a maturidade para abraçar esse momento, outros oscilam. Um ou dois não vão tão bem, vem um erro, outro, as coisas não acontecem tão bem quanto gostaríamos.
JOGOS EMOCIONANTES
Que seja quatro dessa vez. Chegando, não vou ficar bravo. O mais importante, quando não estamos conseguindo, é ir até a última gota. Muito do equilíbrio da equipe, do posicionamento, passa pelo estado emocional. Passa por isso. Temos feito dinâmicas, conversas, treinos, tirado o pé às vezes, para o jogador encontrar o equilíbrio. A gente está jogando bem. Não estamos jogando tão bem quanto gostaríamos, mas estamos fazendo os resultados. Falta um jogo, quero resultado. Não quero nesse momento que a equipe jogue bem e falhe. O mais importante é a equipe não jogar tão bem e ser efetiva. E acho que a equipe não jogou mal.
AVALIAÇÃO TÁTICA E SUBSTITUIÇÕES
Justamente isso que chegamos no intervalo e ajustamos. A situação de o Victor Rangel não ficar no lado do campo, vinha jogar por dentro, criando superioridade numérica no meio, e com isso eles tinham mais posse. A gente estava na situação de fechar um pouco mais, e hoje a comunicação bastante comprometida, o posicionamento de algumas situações de Moisés, que podia ficar mais aberto. Eles abriram mão do lateral-direito, que jogava de ponta. Eles criavam desequilíbrio, superioridade numérica e invertiam. Eles deixavam a lateral direita aberta, foi onde criamos, atacamos e criamos situações. No segundo tempo, fechamos com o Victor Rangel, os volantes encaixaram melhor e começamos a roubar bolas, faltou a efetividade na hora dos ataques. A partir desse momento, ele tirou o Vitor e colocou o Watson. O Watson jogou aberto. Ele abriu mão da superioridade numérica e abriu a beirada. O jogo deu uma parada, voltou uma bola e teve a inversão rápida. Nosso time estava montado. O cara teve a felicidade de encaixar um chute e fazer o gol. Aí vem o desequilíbrio. A gente tinha acabo de colocar o Allano, o Victor Rangel estava cansado. O Victor não é velocista; se é, arranca e vai dentro. Teve um lance que ele rompeu a linha, quando chegou na área, se entra um pouco mais teria a chance de finalizar. No segundo tempo também. Ele dá o arranque e breca. Se é um velocista, mata o jogo. Mas é a peça certa para o momento certo. Veio a lesão do Misael. Uma série de situações que faltaram no contexto. O Mário entrou muito bem. Pode não ter feito as jogadas de fundo, mas as entradas por dentro com tabelas, achou o Cajá para a definição do jogo. Não foi um jogo igual ao Régis, de penetração nos espaços, mas de toque e aproximação. Precisava jogar de pé em pé com aproximação, e graças a Deus deu certo.
Fonte: Globo Esporte