Guto Ferreira aponta problemas no time, fala de projeto e explica motivo que o fez trocar Série A por Série B: "Parte financeira pesa. Mas não foi o fator principal", afirma

O Bahia está em crise. São quatro derrotas consecutivas na Série B, time fora do G-4 e média de público inferior a dez mil pessoas na temporada. Diante deste cenário, o técnico Guto Ferreira foi apresentado na tarde desta segunda-feira como substituto de Doriva, demitido após a derrota para o Londrina. O treinador é a esperança de recuperação de uma equipe que tenta, pelo segundo ano, o retorno à Série A. E ele chega familiarizado com momentos difíceis. Na primeira entrevista concedida como novo comandante Tricolor, Guto Ferreira lembrou que assumiu clubes com problemas, e colocou o resgate da confiança como ponto primordial para atingir o sucesso.

- No ano passado, na Chapecoense, tínhamos sido goleados em Recife [3 a 0 para o Sport], estava descendo do avião quando soube que a torcida estava nos esperando na entrada do aeroporto. Houve preocupação dos jogadores e disse para eles que iriamos passar e encarar. A responsabilidade era nossa. Fomos recebidos com apoio total, faixas de incentivo. Tivemos dois jogos na sequência. Empatamos com o Libertad [Sul-Americana] e ganhamos do Palmeiras [Campeonato Brasileiro]. A Chapecoense arrancou, se manteve na Série A, fez uma campanha histórica para o clube, que esse ano galgou o título catarinense e teve um início de Brasileiro muito bom. Pegamos a Portuguesa na lanterna, em 2013, uma equipe que tinha vindo da Série A 2, e o torcedor taxava o grupo de incompetente, vagabundo. Encontrei jogadores que já tinham tido destaque no cenário nacional. Nosso trabalho foi resgatar a confiança do grupo, trabalhar, fazer acreditar que o trabalho venceria. Dentro do campo conseguimos salvar a Portuguesa. Depois, a questão dos tribunais, vocês sabem... Na Ponte Preta, na Série B de 2014, chegamos na 13ª rodada, a ponte em 12º lugar. A cabeça era de salvar do rebaixamento. Com cinco rodadas de antecedência, muito trabalho, grupo confiante, conseguimos o acesso e brigamos pelo título até a última rodada. É o Guto? Não. O sucesso quem faz são os jogadores – comentou o técnico ao se apresentar.

Guto Ferreira assumiu que o lado financeiro pesou na opção por trocar a Chapecoense, que está na Série A, pelo Bahia, que está na Série B. Contudo, ele afirmou que o dinheiro não foi o motivo principal para fechar contrato com o Tricolor até o fim da temporada, com renovação automática até 2017 em caso de acesso.

- Acho que a gente não tem que ficar inventando coisa. A parte financeira pesa. Estava em um time de Série A. Mas não foi o fator principal. Fator principal foi o desafio, a oportunidade. Há muito tempo venho buscando oportunidade em grande clube, que tenha know-how de campeão brasileiro. De repente, o Bahia pode ser o ideal. Clube que está buscando se recuperar e é muito grande. Justamente por isso que topamos o desafio. Se quero estar na condição de treinador top em termos de país, tenho que trabalhar nos grandes. A primeira oportunidade está sendo dada pelo Bahia – afirmou.

Ao ser contratado, o novo técnico tricolor elogiou o projeto que lhe foi apresentado pelo presidente Marcelo Sant’Ana e o diretor de futebol Nei Pandolfo. Na apresentação, ele detalhou o que lhe oferecido como plano para o clube, e falou sobre a ambição tricolor para o futuro.

- Pelo que me foi passado, [o projeto] é o resgate de um clube tão grande, que em primeiro momento passa pelo acesso para a Primeira Divisão. Sei que tudo gira em torno do futebol. Nossa função é resgatar essa qualidade de futebol, fazer um time competitivo e trazer de volta para a Série A. Inicialmente, através disso, o clube se fortalece com o quadro associativo e através dos mais variados setores. Acontece que o projeto não para simplesmente em retornar à Série A. Primeiro passo é retornar. Depois é estar na Série A e brigar por títulos. Isso tem que ser percorrido etapa a etapa. Você não chega ao Recife sem passar por Alagoas antes. Cada momento, cada etapa, o clube se fortalece para chegar ao objetivo final. Onde me insiro nisso é em qualificar da melhor forma possível o time, com apoio do torcedor, retaguarda diretiva. Qualificar o carro chefe do projeto, que é a equipe dentro de campo. Conseguindo os resultados, tudo passa a fluir de maneira mais tranquila. Ainda desconheço a totalidade. Quando trabalhei no Inter, a partir da gestão Fernando Carvalho, vivenciei tudo isso. Cada peça na estrutura trabalhava para fazer o melhor. E o resultado foi dois títulos de Libertadores, campeão mundial e muitos estaduais. O primeiro passo é sonhar, o segundo é acordar e colocar em prática, ou não adianta nada. Tem que ser proativo, fazer acontecer – pontuou.

Confira outros trechos da entrevista coletiva do novo técnico do Bahia:

AGRADECIMENTO

- Agradeço a oportunidade de coordenar o projeto de tamanha grandeza, um dos maiores clubes do país. É uma responsabilidade grande, desafio grande. Minha vida sempre foi movida por esse tipo de desafio. E foi esse tipo de desafio que me moveu a trocar uma equipe de Série A, no meio da tabela, pelo Bahia. Acreditando no projeto, no trabalho. Tem caminhos vencedores e podemos contribuir com eles. Justamente por isso que contamos com o torcedor. Muitas vezes vim jogar contra o Bahia e a torcida é de arrepiar. Um dos motivos foi esse, poder ter essa energia do nosso lado, se multiplicando positivamente. Essa parceria sempre foi diferencial, mesmo nos momentos difíceis.

AVALIAÇÃO DO ELENCO

- Acho que existe um elenco competitivo. A maioria dos jogadores daqui com que trabalhei foram vencedores nos clubes que trabalhamos juntos. Aqueles que a gente conhece, tem um ou outro que não conheço, mas conheço em grande número. Existe um grupo competitivo. As carências que a gente detectar, tem uma condição já passada pela direção de onde e que existe condições de buscar. Não adianta só trazer nome, só joga no time do dicionário. Tem que trazer qualidade e pontual para não ter um grupo inchado.

ESQUEMA TÁTICO FAVORITO

- Não tenho um de preferência. Tenho utilizado dois sistemas nos últimos clubes que passei. Eles têm algumas características de mudança nomeio campo, em tempo de posicionamento, e criação. O 4-1-4-1 e o 4-2-3-1. Tenho usado mais isso. Para se usar esses sistemas, temos que ter bons jogadores de beirada, incisivos. Volantes fortes na marcação e com poder de criação. Dentro disso, não é mais importante o sistema. Importante é que aquilo que você consegue adotar, que transforme a equipe em competitiva, conquiste resultados e, principalmente, que a equipe tenha sempre o controle da partida.

Fonte: Ge.com