Premier League atenderá parte das demandas dos torcedores, mas eles querem mais
A reunião entre dirigentes da Premier League nesta quinta-feira, marcada por protestos de torcedores por ingressos mais baratos, acabou tendo frutos. Não exatamente aqueles exigidos pelos fãs do lado de fora do hotel em Londres em que ocorreu o encontro, mas que também atendem a outras demandas da Football Supporters’ Federation, entidade que cuida dos interesses dos torcedores na Inglaterra e organizou a manifestação. A liga reservará £ 1 bilhão dos £ 5,3 bilhões do novo acordo de TV para investir no futebol de fora da elite da primeira divisão, em alguns pontos que buscam dar maior equidade ao esporte no país.
Esse dinheiro será alocado para cinco pontos principais, embora ainda não estejam decididas as quantias para cada um deles: ajuda financeira aos clubes rebaixados da Premier League para a segunda divisão; compensação financeira para os times de outras divisões que não se encaixam no item anterior; investimentos na formação de jovens atletas; instalações; e envolvimento de torcedores, o que inclui os fundos usados por clubes para subsidiar descontos em ingressos de visitantes para suas torcidas. O anúncio, tratado pelo dirigentes como algo sem precedentes, não ficou isento de críticas, como a argumentação de que o aumento nesses investimentos poderia ser maior. Enquanto o acordo de TV deu um salto de 70%, o de investimentos teve apenas 40% – antes, a quantia era de £ 700 milhões.
Dependendo da quantidade de recursos separados para esse subsídio de jogos como visitantes, esta será uma das demandas da Football Supporters’ Federation a ser atendida no anúncio desta quinta. A outra pedida do órgão que representa os torcedores havia sido pelo pagamento do “living wage” pelos clubes da Premier League a todos seus funcionários. “Living wage” é um piso salarial parecido com o salário mínimo, mas que, em teoria, garante não apenas a sobrevivência, mas também uma vida minimamente confortável. Em Londres, o valor do “living wage” é de £9, 15 por hora, enquanto no restante do Reino Unido é de £ 7,85. O Chelsea era, até então, o único clube que havia se comprometido a pagar o “living wage”.
Infelizmente, a exigência para que todos os clubes paguem essa renda mínima resolve apenas parcialmente o problema. “É, definitivamente, um passo na direção certa. Entretanto, a vasta maioria do trabalho de baixa remuneração na Premier League é com empresas terceirizadas. Esse compromisso não resolve isso, o que justifica por que achamos a implantação do ‘living wage’ tão importante. O comprometimento que o Chelsea teve de ser o único empregador com ‘living wage’ na Premier League vai muito além disso”, explicou Rjys Moore, diretor da campanha pelo “living wage”, em matéria publicada pela BBC.
Torcedores estiveram presentes do lado de fora do hotel em que a alta cúpula da Premier League se reunia (Divulgação/FSF)
Maior parte dessas medidas resolve parcialmente os problemas apontados pela Football Supporters’ Federation, que teve representantes de todas as torcidas dos 20 clubes da Premier League durante o protesto desta quinta, mas a entidade deixou claro que não se dará por satisfeita. A liga cedeu um pouco, e os torcedores sabem que podem conseguir mais de suas demandas. “Isso não consertou todos os problemas que nós, torcedores, temos, mas ilustra uma atitude positiva de engajamento daqueles que controlam o futebol inglês. Como torcedores, precisamos manter os pés no chão para trazer benefícios verdadeiros às torcidas em todos os níveis do esporte”, dizia a FSF em nota em que celebrava o pacote anunciado pela Premier League.
Quando os protestos começaram a se intensificar no ano passado, os torcedores estavam muito longe de seus objetivos, mas se mostravam determinados a gastar o tempo que fosse preciso na causa. A vitória desta quinta-feira foi um passo difícil de se dar, mas é apenas o primeiro. Colher os frutos serve para comprovar que todo o esforço pode ser recompensado, e isso apenas reforça as próximas batalhas. Os ingleses que foram alienados do futebol durante o processo de enriquecimento do esporte nas últimas duas décadas querem reconquistar seu espaço, e há algo de muito nobre nisso. É quase uma aposta segura dizer que as demandas, com foco e organizadas, não cessarão enquanto isso não acontecer.
Nota Luis Peres @BahiaClub: Filas para comprar ingressos absurdamente caros, bares fechados obrigando o torcedor a pegar mais filas, transporte ruim, falta de segurança... E nenhum dirigente de clube se manifesta objetivando proteger o maior patrimônio do clube.
Um dia essa moda pega por aqui!
Mas, enquanto tiver torcedor que 'torce' mais pelos dirigentes e por estádios do que por seu clube, esse estado de coisas perdurará...
É tudo lamentável.