As peças são até as mesmas, mas a forma de jogar, nem tanto. Pelo menos na maior parte dos jogos. Desde a saída de Guto Ferreira e chegada de Jorginho ao Bahia, os jogadores têm buscado se adaptar ao estilo do novo treinador. A equipe reativa de Guto, com sólido sistema defensivo e que buscava na transição ofensiva em velocidade a construção das suas jogadas deu lugar a um time mais cadenciado, baseado na troca de passes e domínio da posse de bola.

À exceção de algumas partidas pontuais, como contra a Ponte Preta,quando Jorginho implementou uma atuação diferente dos seus primeiros jogos (veja mais detalhes sobre esse ponto no final do texto), é possível encontrar diferenças entre as equipes montadas pelos dois técnicos. Embora Guto e Jorginho tenham uma base do time titular quase idêntica, os números mostram formas de atuação diferentes.

Uma das diferenças claras no perfil dos dois técnicos é o tempo que seus jogadores passam com a bola. Nos três jogos em que esteve à frente do Bahia no Campeonato Brasileiro, Guto viu a sua equipe ficar menos com a bola que todos os adversários, uma média de posse de bola de 48%. E não importa se dentro ou fora de casa. No jogo contra o Atlético-PR, por exemplo, em que venceu por 6 a 2, a partida acabou com 49% a 51% de posse para o Furacão.

[caption id="attachment_36064" align="aligncenter" width="730"] Guto Ferreira deixou o Bahia no início do Brasileirão (Foto: Felipe Oliveira/Divulgação/EC Bahia)[/caption]

Com Jorginho, fica claro que o Bahia busca ficar mais tempo com a bola. Dos dez jogos em que ele comandou o time, o Tricolor superou os adversários em posse de bola em cinco, uma média geral de 52,1%. Contra o Fluminense, o domínio de campo foi tão amplo que a partida terminou em 69% de posse de bola para o Bahia, contra 31% para a equipe carioca.

Com mais posse de bola, é natural que o time de Jorginho troque mais passes que o de Guto. E os números também mostram isso. O Tricolor atual troca, em média, 363 passes certos por jogo, contra 245 da equipe treinada Guto Ferreira. E, consequentemente, o time de Jorginho também erra mais. São 41 erros de troca de passes por partida contra 32. O atacante João Paulo explicou a diferença entre os trabalhos dos dois técnicos em entrevista recente.

- A filosofia dele [Jorginho] é diferente da do Guto [Ferreira]. O Guto era mais agudo... Ele [Jorginho] gosta mais de trabalhar a bola, gosta mais de posse de bola, de chegar com clareza ao gol. Com Guto era mais rapidez, mais contra-ataque. É uma mudança para a gente. O Guto ficou aqui bastante tempo, a gente se adaptou ao jeito de jogar do Guto. Agora estamos começando a pegar o jeito de Jorginho. Peço paciência. A gente vai conseguir chegar no que o Jorginho quer e almejar um grande campeonato – disse João Paulo.

Embora com menos tempo de bola, o time de Guto conclui mais as jogadas. Nos três primeiros jogos realizados pelo Brasileirão, o Bahia alcançou uma média de 14,3 finalizações por jogo, contra 12,5 nos dez últimos. Talvez por isso, a média maior de gols no time de Guto: 2,3, quase todos resultados da goleada por 6 a 2 sobre o Atlético-PR. Após o jogo contra o Fluminense, pela 12ª rodada, Jorginho avaliou o estilo de jogo implementado por ele na equipe.

- O Bahia tinha uma forma de jogar. O Bahia disputou Série B, o Campeonato Baiano, a Copa do Nordeste. Esse nível de competição, não tem nada a ver com o Brasileiro. O Bahia tinha uma forma de jogar, mas para um nível que era extremamente baixo comparado ao que nós temos. Por isso estamos precisando de reforços. O Bahia, se realmente deseja algo a mais, ao meu ver, a minha forma, a forma da equipe jogar hoje, é uma forma mais ousada. Mas, ao mesmo tempo, a gente tem que ter o cuidado necessário com a nossa defesa. Nós tomamos alguns gols, mas em um jogo que foi o do Palmeiras [4 a 2 para o Verdão], e o do Corinthians, que não foi uma realidade. Aquele jogo era para a 1 a 0. Não foi para 3 a 0 de forma alguma. Cheguei aqui com jogadores no departamento médico, com dificuldades, a equipe tinha vencido um jogo e perdido outros dois jogos porque estava completamente concentrada em um outro campeonato ou em dois outros campeonatos, que, ao meu ver, não são tão importantes quanto esse, tão difíceis. Estou muito tranquilo em relação a isso. Sei que a equipe melhorou muito na posse de bola. A equipe hoje consegue ter posse de bola contra o Fluminense, Palmeiras, Flamengo, com um jogador a menos – contra o Flamengo, especificamente. Não é uma questão de me defender. É que as coisas estão acontecendo. A equipe não tem dado chutão o tempo todo, quando a gente vê algumas equipes que vêm jogar contra a gente e fazem ligação direta o tempo todo. Nós saímos jogando. Estamos com o futebol com qualidade. Futebol você tem que fazer gol. Se não faz gol, não consegue conquistar esses pontos. Por isso você precisa ser ousado. E eu acho que a gente está em um bom caminho. Estou muito tranquilo quanto ao meu trabalho.

[caption id="attachment_36065" align="aligncenter" width="730"] Bahia de Jorginho tem maior média de troca de passes que o de Guto Ferreira (Foto: Reprodução / Footstats.net)[/caption]

Novo perfil?

Não é possível dizer se esse estilo de jogo de Jorginho vai perdurar no Bahia. Diante de uma sequência de sete jogos sem vencer, o treinador fez mudanças na equipe titular e no modo de o time jogar na última partida, contra a Ponte Preta. Além de montar a equipe titular com um centroavante de ofício, neste caso Rodrigão - algo que Guto usou pela última vez nas semifinais da Copa do Nordeste, com Hernane -, Jorginho fez mudanças na forma de jogar. Reativo, o Tricolor teve menos posse de bola (45% a 55%) e conseguiu o resultado positivo. Empolgado com o desempenho de Rodrigão, autor de dois gols no jogo, Jorginho deu a entender que o atacante era a peça que faltava para o time engrenar.

- É um jogador que a gente observou bastante antes de tomar a decisão. Sabíamos que ele era forte, jogador de área, e que, além de grande, ter estatura boa, tem velocidade. No outro jogo, mostrei para eles, contra o Fluminense, que aos 40 minutos do segundo tempo ele deu um pique para recuperar a bola. Isso aconteceu também com o Mendoza. Acho que essa característica desse jogador faltava para a gente. A gente até tinha jogador com essa característica, mas que, infelizmente, antes de eu chegar, na época do Guto, ele não havia se encaixado bem, que era o Gustavo. Jogador que tem essa característica de presença de área. Já o Rodrigão, talvez por ser baiano, se adaptou totalmente ao grupo e fez dois gols.

[caption id="attachment_36007" align="aligncenter" width="730"] Rodrigão marcou dois gols na estreia como titular no Bahia (Foto: Estadão Conteúdo)[/caption]

Com estilo reativo ou não, o Bahia de Jorginho volta a campo neste domingo para enfrentar o Avaí em busca de um resultado positivo para se distanciar ainda mais da zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro. O jogo, marcado para as 19h (horário de Brasília), está com ingressos à venda.

Fonte: Globo Esporte