Um dia depois de assinar um acordo para reaver o Fazendão e comprar a Cidade Tricolor, o presidente do Bahia, Marcelo Sant’Ana, concedeu entrevista exclusiva para o A TARDE
Na conversa, valorizou o feito como sua principal conquista à frente do clube e disparou contra quem critica sua gestão. Além disso, falou sobre aproveitamento da base e as contratações para 2017.
Quando o Bahia se mudará para a Cidade Tricolor?
Depende do juiz da recuperação judicial e da homologação na Justiça. Num cenário positivo, dá para fazer no segundo semestre. O Bahia só pretende investir na Cidade Tricolor quando tiver a segurança jurídica completa da operação.
O Bahia prevê no orçamento gastar R$ 2 milhões com a Cidade Tricolor. Será suficiente?
Talvez tenhamos que investir um pouco mais. De qualquer forma, o Bahia precisa ter um centro de treinamentos de alto nível, e será mais barato torná-la de alto nível do que o Fazendão. Mas temos que terminar a Cidade Tricolor. A mobília é zero e existem áreas estragadas pelo tempo de inatividade, como os campos. Foram mais de seis meses sem luz, o que prejudicou a manutenção, obviamente.
O Fazendão será vendido? A aquisição de um terreno vizinho não visa à venda dele?
Vamos debater com calma o que os sócios pensam sobre o futuro dele. Com esse terreno, haverá um acesso mais simples ao Fazendão, pelo Jardim das Margaridas. É uma área residencial de um poder aquisitivo superior ao da entrada atual, então valorizaria o equipamento.
Como você encara a cobrança dos torcedores por reforços de peso e não apenas renovações do atual elenco?
Eu, como torcedor, também tenho desejos, mas como gestor sei que são impossíveis. Em outras gestões, o Bahia optou por trazer jogadores consagrados e que não foram bem. Temos que buscar o rendimento acima da exposição na mídia. E o time de 2017 ainda vai aparecer. Nós queremos contratar de oito a dez atletas.
Ao chegar no clube, você disse que queria um time que propusesse o jogo, mas o Bahia tem jogado mais em função do resultado. Mudou de convicção?
A gente tenta implementar essa filosofia, mas querer não é conseguir. Eu aprendi que a parceria do torcedor só dura enquanto tiver bons resultados. O time com Sérgio Soares jogava de maneira ofensiva, mas quando perdia vinham as críticas. Então, em alguns momentos, é preciso buscar o resultado mesmo.
Você vê Guto Ferreira como um técnico capaz de colocar essa filosofia no Bahia?
Acredito que Guto fez um trabalho muito bom. Dentro de casa foram nove triunfos e um empate com ele. Fora de casa, a gente queria um desempenho melhor, mas com conseguimos resultados melhores do que vínhamos tendo.
Quando você chegou, tinha a meta de em três anos ter 40% do elenco formado na base. Em 2016, porém, poucos pratas-da-casa tiveram chance e alguns foram emprestados.
Temos usado sempre os atletas da base no primeiro semestre e mantido para o segundo aqueles que correspondem. A gente deu dois anos de oportunidade no time principal a Jean, Gustavo Blanco, Yuri, Zé Roberto, Robson... Mais de um ano para Éder, Mário... E no ano que vem vamos fazer isso novamente com outros jogadores. Ninguém da base tem subido, ficado um mês e sido dispensado. Eles têm sido mantidos no elenco para que tenham tempo de transição. Agora, a preocupação da diretoria é com o resultado. Se os atletas da base forem capazes de dar resultado, excelente. Se não, a gente tem que buscar quem corresponda. O torcedor que cobra reforço é o primeiro a não acreditar na divisão de base. Os que a gente entende que precisam maturar a opção será por emprestá-los. Os que a gente acha que não têm condição nós vamos partir para a rescisão.
Quem vai continuar, quem será emprestado e quem sai?
Mário, por exemplo, vai começar a temporada conosco. Yuri está sob avaliação. Zé Roberto provavelmente vai jogar o Paulista (está emprestado à Ponte Preta até maio). Outros, como Gustavo Blanco, é interessante que sejam emprestados, mas a gente tem buscado equipes em que esses jogadores tenham chance de jogar. Jean vai continuar, Éder vai continuar, Rômulo a gente está analisando.
Você disse que o Bahia busca reforços dentro de uma faixa de idade (24 a 28 anos) e que tenham atuado com frequência nos últimos anos. O único reforço até aqui, Pablo Armero, tem 30 anos e só fez 29 jogos em dois anos e meio. Ele não está fora do perfil?
Está fora, mas é um jogador de alto nível. Na atual temporada europeia, ele atuou em três partidas como titular. Depois que a Udinese mudou de técnico, ele deixou de ser relacionado. Armero, no Flamengo, teve problemas de lesão e ficou fora por um bom tempo por conta da Copa América. Se você juntar isso, dá uns três meses dos seis que ele ficou no Flamengo. Esse perfil que disse a gente espera que a maioria dos reforços tenha, não significa que se não estiver dentro do perfil não será considerado. Armero tem 30, mas a gente também quer Moisés, que tem 21. Existem exceções. Acredito que Armero pode contribuir como uma liderança positiva, como uma inspiração para os mais jovens. Ele defendeu mais de 60 vezes seu país, jogou Copa do Mundo... Ele pode inspirar os mais jovens a buscar seus sonhos.
O Bahia continua à procura de um lateral esquerdo?
A gente entende que precisa. A preferência do Bahia é por Moisés, e vamos tentar ao máximo a permanência dele. O que o Corinthians quiser: empréstimo, compra de direitos econômicos. Se não for possível, vamos buscar outro.
O Bahia conseguiu na reta final da Série B definir um titular para cada posição, menos para a de terceiro atacante, na qual vários atletas passaram. É a deficiência Nº 1 para ser corrigida em 2017?
O jogador que a gente esperava que preenchesse essa lacuna foi Thiago Ribeiro, o que não aconteceu. Para resolver, a gente mudou o sistema algumas vezes, tanto com Doriva quanto com Guto. Não conseguimos. Foram muitos jogadores testados, de características diferentes. Vamos continuar no mercado em busca de jogadores para essa posição. Provavelmente Edigar e mais dois, para que Mário e outros garotos, como Marco Antônio e Kaynan também tenham oportunidades. Queremos encontrar jogadores de velocidade, de transição. Essa foi uma característica que faltou neste ano.
O que houve com Thiago Ribeiro? Ele chegava atrasado nos treinos, chegou a brigar com algum companheiro ou dirigente? O Bahia pensou em reintegrá-lo ao elenco?
Ele não quis ser reaproveitado. A gente foi muito claro: se ele quisesse voltar ao grupo, teria que falar isso para os companheiros e o técnico. E ele não se prontificou a falar, o que nós interpretamos como uma resposta muito clara. O que houve com ele foi baixo rendimento, inclusive nos treinos, e baixo comprometimento também. O Bahia entende que investiu muito no Thiago. Ele demonstrou inicialmente um interesse muito grande de vir. Falou com a direção do Atlético-MG, falou com o então técnico Diego Aguirre. Ele tinha uma proposta do São Paulo e decidiu vir para o Bahia. Isso nos encheu de esperança, parecia que vinha determinado a ter uma boa temporada. Só que aqui ele teve um comprometimento insatisfatório.
Informações dão conta de que o Bahia está em busca de um centroavante, e inclusive fez sondagens por Henrique Dourado (Fluminense) e Rodrigão (Santos). Seria precaução relacionada a uma possível saída de Hernane? O clube recebeu propostas por ele?
Hernane tem contrato (até o final de 2018) e o interesse do Bahia é que ele fique. O interesse do jogador e do seu empresário também é que ele fique o ano de 2017 inteiro no clube. Durante o ano recebemos duas propostas e duas sondagens por ele. Agora no final do ano recebemos sondagem de um clube do Brasil. Não falamos em nomes, mas o Bahia tem interesse num centroavante que dispute a posição com Hernane.
Como é a sua relação com o Vitória? Acompanha as notícias do rival?
Não acompanho nada do Vitória. Enquanto era jornalista, passei oito anos acompanhando 100% o noticiário do Vitória, mas desde que assumi o Bahia acompanho 0%. Porque eu só torço pelo Bahia, não me interessam notícias do Corinthians, do Sport, só me interessa o Bahia. Acompanhar coisas do mercado é normal, mas de qualquer clube. Teve a eleição do Vitória, mas não sei quem ganhou, vi zero debates. Não me preocupo com a casa dos outros, me preocupo com a minha casa.
Você foi alvo de muitas críticas, algumas até violentas, nos seus dois primeiros anos de gestão. 2017 será ano eleitoral. Acha que esse volume de críticas vai aumentar?
Eu tenho que trabalhar pensando no Bahia e tenho um ano ainda para isso. Mas o sucesso do Bahia incomoda muita gente. Incomoda os jabazeiros, a turma das trevas, quem chamou o Bahia de massa falida, quem chamou a torcida do Bahia de pobre. O Bahia bem faz com que essas pessoas, que têm interesses escusos, tenham menos espaço no clube. A maneira de atacar o Bahia é atacando a imagem do presidente. Deduzem que desgastando a imagem do presidente desgastariam o Bahia e teriam mais chances de voltar. Só que a torcida do Bahia é inteligente, tem vários meios de buscar informação com profissionais corretos. Para os mal-intencionados, só lamento, o clube não vai parar de evoluir.
A quem você se refere?
Acho que a torcida conhece quem passou pelo clube, quem não foi digno. O tempo vai dar conta da indiferença em relação a eles.
Sua gestão resolveu pendências históricas, como recebimento dos Transcons, patrocínio da Caixa e os Cts. Acha que falta mais reconhecimento da torcida quanto a isso?
O papel da gente é trabalhar pelo clube. A maneira como seremos reconhecidos pela torcida é o futuro que vai dizer. O presente tem as críticas mais acaloradas, mas o tempo colocará tudo no seu lugar. O mais importante é ter o Bahia como objetivo. Menos vaidade, mais humildade e trabalhar em prol da instituição. As pessoas passam e o clube vai ficar.
Vai ser candidato à reeleição?
Tenho que trabalhar pelo Bahia e tenho um ano para isso. A única coisa que posso sinalizar é que em 2014 saí candidato no dia 20 de novembro, meu aniversário, e a eleição foi no dia 13 de dezembro. Então, da minha parte não esperem nenhuma definição antes disso.
Fonte: A Tarde