Em entrevista exclusiva ao CORREIO, Nei Pandolfo, ex-diretor de futebol do Bahia lamentou a demissão repentina
Apesar da conquista do acesso, a demissão. Nei Pandolfo falou com exclusividade ao CORREIO sobre sua saída do Bahia. Surpreso com a decisão do clube, o agora ex-diretor de futebol tricolor comentou que teve outras propostas, mas pretendia cumprir o contrato até o final de 2017.
Acredito que você tenha sido pego de surpresa com a demissão. Como foi comunicado?
Eu conversei com o Pedro (Henriques, vice-presidente), Marcelo (Sant’Ana, presidente) estava retornando, a gente ainda vai voltar a falar. Eles me comunicaram em função do planejamento. O clube acha que não estava contente e eles resolveram fazer a mudança. Eu me surpreendi mais em função do “time” (tempo, em inglês), do horário. Eu tive proposta, fui consultado, cheguei até a comentar com o pessoal, mas como tinha contrato, renovação automática e tudo mais, eu costumo cumprir meus contratos, nem me movimentei nesse aspecto. Infelizmente, na virada do ano, fui comunicado. Poderiam ter me avisado mais cedo, acho que essa foi uma das questões que mais me incomodaram. Mas faz parte do processo. Meu planejamento pessoal era fazer o Bahia voltar à primeira divisão e o objetivo principal foi alcançado. Muita gente concentra somente em contratações. Uma série de situações importantes que aconteceram no clube, um avanço estrutural grande foi implantado, atualização de fisioterapia, fisiologia, toda uma série de conceitos que a gente acha importante. A gente participou muito disso. Os resultados da base, sendo campeão em todas as categorias, chegando à final (da Copa do Brasil sub-20). Todo um trabalho que envolve o futebol que não é só contratação. Isso acaba sendo esquecido no trabalho.
O presidente disse que houve ruídos internos. Você teve problema com alguém da diretoria? Houve algo específico para a demissão?
Eu pessoalmente não consigo identificar. Tenho um jeito de ser, cada um tem um jeito. Sou mais discreto, fico no dia a dia do futebol, vou à beira do campo, acompanho comissão e atletas e fico próximo da diretoria. Talvez o relacionamento próximo com uma parte da torcida, do Conselho, talvez não agrade a esse pessoal todo. Como eu sou mais quieto, mais fechado, às vezes aparenta que eu não estou dando importância, quando na verdade, eu sou mais fechado e gosto de centrar no trabalho no dia a dia. Talvez isso não agrade algumas pessoas que gostam de ter atenção total. Mas é um jeito de ser, né? Eu já estou com 55 anos, dificilmente vou mudar meu jeito de trabalhar. Passei quatro anos no Santos, fiquei dois no Sport e saí por opção. Eu costumo ficar muito tempo nos lugares e me adapto bem. Por algum motivo, acabei não agradando e temos que respeitar o clube, sempre levo isso comigo. Mas vejo que o saldo foi muito positivo.
Você se sentiu pressionado a fazer grandes contratações por parte do presidente e/ou do vice-presidente?
A pressão por contratos de impacto existe em todos os clubes. Sempre tem esse tipo de cobrança e depende muito do mercado, do momento e da oferta. Eu preciso até fazer uma conta. Se pegarmos no Brasil todos os clubes que estão na primeira divisão, colocando os atletas que estavam para renovar o contrato como Edigar, Eduardo, Anderson, Renê (Júnior), que deve estar finalizando, e outras quatro, cinco que estão chegando e estavam encaminhadas, o Bahia deve ser o clube que mais vai contratar neste início de temporada. E mantendo uma base que eu acho importante. Então acho que deixo um legado nesse aspecto. O próprio Marcelo comentou hoje (ontem) da política da Chapecoense, da Ponte Preta, um pouco mais enxuta, tentando revelar valores e aproveitando as oportunidades do mercado. Então a gente segue a linha que o clube orienta, entendeu? Em nenhum momento houve diferença de formato. Se me falarem: “Pode buscar um jogador conceituado que nós vamos pagar”, a gente vai buscar. Dentro do clube não houve problema nesse aspecto, pelo menos da minha parte.
Você esteve com Marcelo Sant’Ana no final do ano? A relação interpessoal era boa?
Não passamos o fim de ano juntos, mas passamos dezembro bastante próximos, principalmente com Pedro e Marcelo. Inclusive entre Natal e Réveillon, que houve férias gerais, a gente acabou conversando muito sobre possíveis contratações. Na véspera de Réveillon a gente estava falando sobre isso. Então acredito que não tenha sido algo decidido no Réveillon, acredito que já estava decidido há mais tempo. O que mais me chateou foi isso, não a questão de sair. Acho que já tinham formatado isso de alguma forma e demoraram de me avisar. A nível profissional é ruim. Atinge família, aluguel de casa, matrícula do meu filho. São componentes pessoais que poderiam ser um pouco mais justos nesses aspecto. Mas vida que segue, faz parte do processo. Tive um ano difícil, mas muito feliz com o Bahia e profissionais que lá trabalharam.
Você recebeu propostas de São Paulo e Sport?
Eu me reservo a não falar, até porque os clubes já estão se ajustando e vai criar só um cenário ruim. Não quero entrar em detalhes, mas houve consulta de mais de um clube. E o Bahia também está sendo correto comigo. Tem um contrato e cláusulas e estão cumprindo com isso também.
Algo a dizer ao torcedor?
É uma torcida fantástica, maravilhosa, que tem que continuar viva e forte assim. É um clube que está se estruturando cada vez melhor, é muito bem administrado, eu não tenho dúvida disso e, se continuar nesse caminho, o Bahia retoma o posto que já teve em outras épocas entre os melhores clubes do Brasil.
Fonte: Correio 24 Horas