Tem sido rotineira, neste início de Campeonato Brasileiro, a reclamação da diretoria do Bahia sobre supostos erros de arbitragem cometidos contra a equipe baiana. Em oito jogos disputados pelo time, o vice-presidente do clube, Pedro Henriques, critica a atuação dois árbitros em três deles: contra Vasco, Coritiba e, por último, na última rodada diante do Palmeiras. O Bahia foi derrotado em dois desses jogos e empatou um.

Para o dirigente, o Bahia foi alvo de decisões equivocadas da arbitragem não somente na competição nacional, mas também em torneios regionais, como o Baiano e a Copa do Nordeste. Em entrevista ao GloboEsporte.com, Pedro Henriques afirma que o clube tem sido prejudicado “rotineira e sistematicamente” e não descarta que haja algum tipo de influência externa nas decisões dos árbitros, devido a posturas políticas adotadas pela gestão tricolor.

- No nosso sentir, isso [erros de arbitragem que desfavorecem o clube baiano] acontece com muita frequência no Bahia. Coincidência ou não, o Bahia adota posturas bastante independentes. Isso sempre gerava um certo burburinho. A tente nunca foi abordado neste sentido, mas é aquela história... Quando você sempre fica ouvindo as mesmas coisas, você começa a ficar preocupado, principalmente quando você vê, reiteradamente, coisas estranhas acontecerem - afirma o dirigente.

Em entrevista ao GloboEsporte.com, o vice-presidente destaca os momentos em que acredita ter havido prejuízo para o Tricolor e explica declarações polêmicas que deu recentemente, como quando questionou se apenas o Flamengo tinha direito a rever através de vídeo lances marcados equivocados pela arbitragem, em alusão à partida do Rubro-Negro carioca contra o Avaí, pela sexta rodada do Brasileirão. Confira abaixo a entrevista completa.

GloboEsporte.com: Após o primeiro Ba-Vi das semifinais da Copa do Nordeste você questionou: “Precisamos nos alinhar com quem, votar pelo quê?”. Isso quer dizer que há benefício ou prejuízo a depender da posição política?
Pedro Henriques: Fiz um questionamento, que acho que foi bem claro. Naquela época, a maior repercussão que se encontrou foi no Vitória, que não foi citado, não foi mencionado. A gente respeita os profissionais que realizam seus trabalhos. Mas o fato é que a gente está agora há trinta meses de gestão, com a diretoria que a gente formou, e o fato é que rotineiramente a gente é prejudicado. Erros de arbitragem acontecem. É normal. Agora o que não é normal é que os erros se deem numa proporção tão desfavorável a um clube. E, no nosso sentir, isso acontece com muita frequência no Bahia. Coincidência ou não, o Bahia adota posturas bastante independentes. Isso sempre gerava um certo burburinho. A tente nunca foi abordado neste sentido, mas é aquela história... Quando você sempre fica ouvindo as mesmas coisas, você começa a ficar preocupado, principalmente quando você vê, reiteradamente, coisas estranhas acontecerem.

Para você, o Bahia foi prejudicado em quais jogos?
O Campeonato Baiano do ano passado, a forma como nós perdemos o título, foi um negócio absurdo. Vieram dois árbitros gaúchos, e os dois cometeram erros grosseiros, absurdos. Nos últimos Ba-Vi’s todos também, jogadores do Bahia sendo expulsos, pênaltis mal marcados, enfim... Uma série de circunstâncias que aconteceram também no jogo contra o Sport, e aí a gente começa o Campeonato Brasileiro. A gente está na oitava rodada. Em oito rodadas, posso afirmar que o Bahia foi claramente prejudicado em três. Bahia x Vasco, segunda rodada, estava no primeiro tempo ainda, Gustavo rouba uma bola do defensor do Vasco, se não me engano Jean. Ele parte para o gol, Jean o derruba fora da área. A regra diz que é chance clara e manifesta de gol, cartão vermelho direto. Nesse caso, inclusive, a CBF adotou uma nova sistemática, que é até positiva, de comentar as arbitragens de todos os jogos de todas as rodadas, e ela disse que efetivamente errou. Aí eu pergunto: o que aconteceu com o árbitro? Com os auxiliares? Vão fazer um curso? Vão ser advertidos? Vão ser retirados de rodadas? Qual a consequência do erro? Porque, quando um time erra, quando um atleta erra, ele é suspenso, o time é punido. E qual a consequência para a arbitragem? Esse foi um. O outro foi Coritiba x Bahia, foi uma coisa grotesca, absurda. Aquele rapaz poderia sair preso, Kleber, porque ele agrediu pessoas. Uma coisa é você ter o contato desportivo e machucar o adversário. Outra coisa é você deliberadamente agredir. E ele, deliberadamente, agrediu o Zé Rafael, dando uma cotovelada no rosto no início do primeiro tempo. Já era expulsão. O árbitro não só sequer deu cartão amarelo, como deu falta contra o Bahia. Aí depois, na sequência do jogo, Kleber dá um soco em Edson dentro da grande área do Coritiba, ou seja, pênalti, não marcado o pênalti nem uma advertência dada. Segue o jogo. E aí esse rapaz continua fazendo todas as provocações e, no final, acaba sendo expulso junto com um atleta nosso. E a CBF, dentro dessa nova metodologia de comentar as arbitragens, nesse jogo específico, se restringe a dizer que o árbitro acertou nas expulsões. Tenha paciência. É complicado. O próprio Globo Esporte, se não me engano, a manchete era “Um dia de fúria” de Kleber, porque ele estava completamente descontrolado naquele dia. Ele estava fora da “casinha”, como diz no futebol. Não sei se aconteceu alguma coisa de errado na vida dele, mas era uma pessoa completamente fora de si. E aí a CBF vem me dizer que o árbitro acertou? É brincadeira um negócio desse, é surreal. Neste jogo contra o Palmeiras, mais uma vez, o árbitro, inclusive, fala com os nossos jogadores que ele não ia voltar o pênalti, que ele não tinha certeza, mas que já tinha marcado e não ia voltar. Foi por isso que eu fiz o questionamento no final, da minha coletiva, de dizer “É só contra o Flamengo que pode voltar pênalti?”. O árbitro falou isso para os nossos jogadores. Aí realmente é complicado. O sujeito não tem convicção. Tanto não tem convicção que não deu cartão amarelo para Becão. Como é que não dá cartão amarelo? O jogador faz um pênalti, em tese, o adversário de frente para o gol, e ele dá um pênalti e não dá cartão?

Depois do jogo contra o Palmeiras você declarou: “A gente pede, por favor, olhem para o que acontece com o Esporte Clube Bahia”. O que está acontecendo com o Bahia?
O Bahia está prejudicado rotineira e sistematicamente. Eu não gosto de coitadinho, mas é a pura verdade. Só se fala de G-12, então campeonato só com 12 times. Pega carioca, paulista, mineiro e gaúcho, sobe o Inter de volta, desce todo mundo...As pessoas ficam valendo de gol irregular no Fla-Flu, gol bonito do Palmeiras. O segundo gol do Palmeiras foi bonito, mas irregular. A origem do gol foi com atleta impedido. E ninguém fala. O espaço que se ocupa na imprensa para falar dos absurdos que acontecem com o Bahia é menos de 1% do que se gasta para falar de qualquer outra coisa. Isso é fato, não tem discussão. As pessoas sabem mais sobre Real Madrid e Barcelona que sobre Bahia e Sport no eixo Rio-São Paulo. As pessoas sabem mais sobre a Premir League que sobre a Copa do Nordeste.

Sobre essa declaração, você também mencionou o Flamengo e questionou se somente contra a equipe carioca os árbitros voltam os lances. Alguns times são mais prejudicados e outros mais beneficiados pela arbitragem?
O que eu acredito que o Bahia é muito prejudicado pela arbitragem. Cada profissional tem que cuidar do seu time. Quando eu mencionei o Flamengo, não estou preocupado com o Flamengo, não. Eu acho que, se não foi pênalti, tinha que voltar mesmo, está certo. O juiz que voltou o pênalti lá contra o Flamengo foi correto, porque não foi pênalti mesmo. Mas deveria ter acontecido o mesmo aqui, porque para que diabos serve aquele infeliz que fica atrás do gol? Teve algum repórter, que eu estava verificando nas redes sociais, que falou: “O meu sonho é ter esse trabalho, porque o cara fica lá o jogo todo, ganha o dinheiro e, quando tem efetiva possibilidade de interferir no desenrolar da partida, não faz nada”.

Você credita os erros da arbitragem contra o Bahia ao nível dos árbitros no Brasil ou são deliberados?
Não posso afirmar que é deliberado. Eu não tenho prova. Incomoda. A constância com que os erros acontecem incomoda. Acho que a arbitragem tem que ser profissionalizada. Arbitragem é um bico no Brasil. Se o cara for viver de ser árbitro vai passar necessidade. Há uma incerteza na continuidade do trabalho dele. Não há profissionalização efetiva da categoria. Aí um cara que, sei lá, recebe R$ 10 mil para apitar o jogo vai decidir o destino de duas instituições de centenas de milhões de reais. Isso não faz sentido. O Brasil tem umas coisas que são ao contrário: "Ah, porque os dirigentes são abnegados". Como alguém vai se abnegar de gerir do orçamento centenas de milhões de reais. Eu não acredito nisso. Por isso que o Bahia tem uma linha de trabalho diferente. Todos os diretores dão dedicação exclusiva, são remunerados. Acho que isso é um passo para profissionalização. Não estou dizendo que quem pratica diferente é desonesto. Estou dizendo que não acredito nessa forma de trabalhar. Diante desse cenário de falta de profissionalização no futebol, você indo numa linha de contramão a isso e sendo constantemente prejudicado, você realmente fica com uma pulga atrás da orelha.

Você afirmou que o Bahia entrou com representações por conta dessas situações. Para quê serve essa medida? Houve alguma resposta?
Boa pergunta. Eu também gostaria de saber para que serve. Na prática, a gente não vê resultado. Tanto com o STJD, como com a Comissão de Arbitragem: "Ah, pode haver recomendação..." Sabe qual o efeito prático? O clube fica com mais antipatia perante as instituições. Esse é o efeito prático.

Acha que suas reclamações podem dar a impressão de desculpas para a derrota do time?
Eu sei que o papel que ocupo, assim como Marcelo Sant'Ana, é político. Mas as pessoas puderam nos acompanhar há trinta meses. Eu não estou preocupado com o que as pessoas pensam, efetivamente, quando eu vou para a frente da câmera ou pego o microfone para falar. Estou preocupado em falar o que acredito. Ah, vão dizer que é choro. Não estou preocupado com o que digam. Eu quero falar o que minha consciência manda. Quando faço isso, me sinto bem e fico tranquilo. Quem acompanha os jogos do Bahia, a torcida está vendo o que está acontecendo. Claro que tem muita gente que torce contra, claro que tem muita gente que torce o nariz para a nossa forma de conduzir as coisas e vão criticar. Honestamente não estou preocupado. Não estou fazendo isso para aparecer. Estou fazendo isso, porque me sinto bem fazendo. Enquanto houver alguma medida que eu ache que está indo de encontro aos interesses do Bahia não vou ficar calado.

O Bahia defende o uso do recurso de vídeo no futebol?
Obviamente, com certeza. É uma forma diferente, futebol moderno. Meu amigo, eu não estou preocupado se o futebol, como está na moda agora, se é Nutella ou se é raiz. Eu quero que o futebol seja justo. O futebol tem que ser decidido pelos atletas dentro das quatro linhas, não é por ninguém fora. Não é pelo juiz dentro. É pelos atletas. Quem tem que decidir jogo é o atleta. Se for gol irregular, a gente está vendo na Copa das Confederações, anula o gol, amigo. Se for regular, dá o gol. Qual o problema? “Ah, porque é diferente, para”. Até isso é positivo, se os profissionais de mercado souberem explorar. Enquanto o juiz está parando o jogo para os árbitros de vídeo conferirem, quem está transmitindo pode vender espaço publicitário, pode botar propaganda, pode fazer ações. Então tudo é uma oportunidade. O esporte que dá mais dinheiro no mundo num dia é o Superbowl. Quer jogo que pare mais do que o Superbowl? Não tem. Só que as pessoas têm medo de mudança. As pessoas não sabem ou não querem que as coisas evoluam no futebol.

Fonte: Globo Esporte