Três jogadores atuaram nas cinco primeiras partidas do Bahia em 2018: Élber, Vinícius e Zé Rafael. Porém, Zé é o que atuou mais minutos: cerca de 385. O camisa 10 do Bahia foi titular em quatro partidas e entrou no segundo tempo contra a Jacuipense. Este número impressiona, pois o Tricolor atuou cinco vezes em 12 dias.
No ano passado, Zé Rafael também jogou muito. O meia entrou em campo em 60 das 68 partidas do Bahia em 2017, sendo titular em 55 delas. No Brasileirão, ele jogou 36 dos 38 jogos, sendo titular em 35, ficando atrás apenas do goleiro Jean, que disputou todas as partidas.
Em entrevista ao site Globo Esporte, Maurício Maltez, fisiologista do Bahia explica o motivo de Zé Rafael conseguir jogar tanto e não se desgastar: ele tem um biótipo diferenciado.
Ele é um atleta diferenciado, porque consegue manter uma performance física em todas as partidas. Com o monitoramento, a gente consegue monitorar todas as ações que ele desenvolve durante os treinos e jogos. É um equipamento moderno, que consegue detectar as distâncias percorridas, o número de ações em alta velocidade, os sprints, que são essas ações de potência em curto espaço de tempo. Hoje, temos a certeza de que o Zé Rafael é um atleta diferenciado porque ele consegue manter performance, e uma performance muito elevada. Em diversas partidas, é o atleta que mais corre em volume e em intensidade, então, em distância percorrida e o número de ações em alta intensidade
Maltez também falou sobre a recuperação acelerada do jogador após as partidas. O profissional explicou que, apesar de Zé Rafael ser o jogador com o melhor rendimento físico, seu corpo não se desgasta muito:
O que mais me impressiona, enquanto fisiologista, é a performance do Zé pós-jogo. A recuperação dele é muito rápida. O futebol hoje dispõe de uma tecnologia de quantificação de uma enzima, a CK, que participa do processo metabólico anaeróbio. O que é isso? Um processo metabólico que consegue fornecer energia para a musculatura, para o corpo, de uma forma rápida, para que o atleta possa desenvolver essas ações de uma forma muito rápida e se recuperar de uma forma muito rápida. Então, essa enzima que participa do processo metabólico, a gente consegue monitorar pós-atividade, com 24 ou 48 horas pós-jogo. Geralmente, esses atletas que têm muitas ações de alta intensidade, eles extrapolam essa quantidade metabólica, e fica muita enzima CK disponível no sangue, portanto quando a gente vai monitorar isso e vê que a CK do atleta está muito alta, é porque ele fez muitas ações de intensidade, e isso gera um risco de lesão muscular
Maltez ainda completou:
Quando a gente faz o monitoramento do Zé Rafael, a gente imagina, porque isso acontece em todos os atletas, que essa enzima vai estar muito alta, extrapolada do valor de normalidade, que seria o valor de repouso. Com Zé, isso não acontece. Mesmo com o Zé sendo o atleta que mais desenvolve ações de potência, mais ações de velocidade, com maior volume, mesmo assim, ele apresenta o valor de CK bem abaixo da média, o que demonstra que ele tem uma recuperação muito rápida.
Porém, apesar deste grande rendimento, o treinador Guto Ferreira fez um alerta por conta do calendário inchado neste início de ano. O técnico do Bahia falou após o triunfo por 2 a 0 contra o Altos, na última terça (30), quando Zé Rafael marcou um dos gols:
Cinco [jogos] seguidos. Você não descansa. Com 60 horas [de intervalo entre os jogos], você cai no negativo. Com 66 horas, você está no negativo. Com 72, você zera. Nós estamos cinco jogos no negativo. Não estamos 100% no negativo porque eu mudei os jogadores. Todos eles, ninguém fez os cinco. Quem fez mais, talvez tenha feito quatro. Vinícius, Zé Rafael e Élber estiveram nos cinco jogos, mas fracionados. Se você contar, Zé que teve mais. Zé jogou quatro [jogos] inteiros e uma parte de um jogo. Isso é desgastante. Em algum momento, você vai pagar essa conta
Apesar de reconhecer a possibilidade de lesão, Maurício Maltez acredita que Zé Rafael corre um risco menor, por ser um atleta diferenciado:
Ameniza, obviamente, o risco de lesões, então a gente acredita que o risco de lesão muscular, para ele, é menor, mas claro, como qualquer atleta de rendimento, que envolve muitas ações, mudança de direção, potência, força, várias valências físicas, ele também corre risco, mas é diferente. Ele tem capacidades diferentes, o que para mim, enquanto fisiologista, me dá um pouco de tranquilidade