Aos 18 anos, o meia Ramires estreou como jogador no time profissional do Bahia e agarrou, quase que imediatamente, uma vaga no time titular, se tornando uma referência para os jovens da base e uma esperança para o futuro do clube. Porém, o garoto já havia se mostrado precoce em aspectos muito mais difíceis da vida. Aos 16 anos, em 2016, Ramires perdeu o pai e, a partir daí, se transformou no homem da casa, principal fonte de sustento da mãe e da irmã.
O jovem jogador precisou aprender a carregar este peso dentro de casa, ao adquirir tamanha responsabilidade, e dentro dos gramados, ao perder o seu grande incentivador. Seu pai, Edson Conceição, era quem o passava a confiança de seguir com o seu sonho de se tornar um jogador de futebol. Após a perda desta referência, Ramires pensou em largar o futebol.
Em entrevista exclusiva ao site Globo Esporte, o meia falou sobre os momentos difíceis passados após a perda do seu pai:
Eu que ajudo a sustentar minha mãe e minha irmã. Meu pai sempre falava que um dia eu seria o homem da casa, tinha que ajudar minha mãe e irmã. Mas nunca pensei que seria assim, com 16 anos. Foi uma perda muito grande na minha vida, mas graças a Deus ele deixou muitos ensinamentos. Ele que me incentivou, trazia para os jogos.
Ramires ainda completou:
É bastante difícil [perder o pai tão jovem]. Quando ele se foi, foi difícil, pensei até em parar de jogar bola. Era ele que sempre me levava para os treinos, me trazia para os jogos, falava para eu não desistir, que ia conseguir. Por isso não desisti.
Apesar de não ter visto o início avassalador de Ramires como profissional no Bahia, Edson Conceição não foi esquecido pela jovem promessa. Ao marcar no seu primeiro Ba-Vi, o meia comemorou dançando reggae, relembrando o seu pai, fã do cantor Edson Gomes.
Além disso, seu pai não pôde ver seu filho ser cobiçado por grandes clubes europeus. Segundo o Bahia, Ramires vem sendo acompanhado por representantes de Arsenal e Atlético Madrid. Além disso, um diretor do Borussia Dortmund assistiu o jogo entre Bahia e Fluminense, na Arena Fonte Nova, para observá-lo:
Eu vi, muito bom. Gratificante demais saber que tem grandes clubes vendo meu trabalho. Mas eu fico bem tranquilo, conversei com meu empresário. Estou focado no Bahia nesse final de temporada e começo de 2019. Mas é muito bom ver que meu trabalho está sendo visto por grandes clubes. O que for, a gente senta com o Bahia, empresário e ver o melhor para mim e para o Bahia. Querendo ou não, mexe, né? [ter alguém te observando] O clube que você sonha jogar, que viu na Champions League... Mas quando eu entro em campo, o primeiro toque na bola é aquela tensão na barriga, mas depois fico bem tranquilo.
O Bahia chegou a receber propostas por Ramires, que recentemente renovou com o clube até 2022. Porém, nenhuma das ofertas agradou ao Tricolor. Mesmo assim, o meia sabe que o tempo que ele irá permanecer no Fazendão é incerto, apesar de deixar claro que quer continuar na equipe em 2019:
Pretendo começar [2019] no Bahia. Mas não sei, podem acontecer várias coisas. O mundo do futebol é assim, muda muito rápido. Mas pretendo começar aqui no Esquadrão.
Morando no CT, mas por pouco tempo
Após este bom início e o assédio de equipes europeias, a vida de Ramires mudou bastante. O jogador já começou a ser reconhecido nas ruas, não apenas por torcedores do Bahia. Além disso, o jogador já passou a ser uma referência e uma inspiração para outros atletas da base do clube:
Mudou bastante. Nunca pensei que seria assim rapidamente. Pensei que seria gradativamente, mas foi bastante rápido. Mudou até a convivência com a galera daqui, que me pede para tirar foto. A galera já era bem receptiva, ficou mais ainda. Agora virei um exemplo para eles que pode alcançar isso, que não é impossível um garoto da base subir. É sempre bom o carinho que eles têm para mim.
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Mas Ramires mantém a simplicidade. O jogador vive há três anos com outros atletas da base no Fazendão, centro de treinamento do clube:
Estou aqui desde 2015. Foi o professor Edson Fabiano [ex-treinador da base do Bahia]. Na época, era treinador da base, do sub-16 e pediu para eu vir morar aqui porque estava me desgastando muito voltar para casa e chegar atrasado nos treinos. Ele conversou comigo, com minha mãe e pediu para eu vir morar aqui. Aqui é bem mais rápido ir para treino. Quando tem modificação no horário vejo rapidinho.
A família do jogador vive no bairro de Águas Claras, na capital baiana. Porém, após a mudança da rotina de jogos após a subida para os profissionais, Ramires vem tendo menos contato com a mãe e a irmã:
Era frequente ir sábado e domingo. Sábado tinha jogo da base, e quando acabava eu ia para casa. Agora, como têm jogos domingo, concentração, é difícil eu ir para lá. Durante a semana eu vou lá, mas é bem curto, umas duas horas.
Mas Ramires já pensa em deixar os alojamentos do Fazendão. Porém, o meia faz questão que a sua nova casa seja perto do centro de treinamento:
Estou vendo um apartamento para morar bem próximo daqui. Mas sempre vou vir ao Fazendão, que é minha segunda casa, a galera gosta muito de mim e me acolheu bastante na hora que mais precisei.
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Ramires ou Eric?
Foi no Fazendão que Eric dos Santos Rodrigues ganhou o apelido de Ramires, por conta da semelhança com o volante com passagens por Cruzeiro, Chelsea, Seleção Brasileira, e que agora atua no Jiangsu Suning, da China. Porém, o meia quer que todos se acostumem a chamá-lo de Eric:
Foi desde que passei aqui no teste. Só em Águas Claras mesmo que o pessoal me chama de Eric. Tenho carinho por Ramires, acho um excelente jogador, mas [prefiro ser chamado de] Eric mesmo. Falei com os dirigentes para mudar nome da camisa.
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Ramires, ou melhor, Eric pretende realizar seu sonho de jogar na Europa. Mesmo ainda se vendo atuando pelo Bahia na próxima temporada, o jogador sonha em atuar em um grande time europeu:
Gosto bastante do Iniesta, agora do Arthur que é brasileiro e do Philippe Coutinho, do estilo de jogo deles. [...] Penso jogar [na Europa]. Todo jogador tem o sonho de jogar na Europa, em grandes clubes. Mas agora estou bem tranquilo, conversei com Diego Cerri, dirigentes, que falaram para eu ficar tranquilo, continuar focado e não deslumbrar, que tem muita coisa acontecendo bastante rápido. Mas eu estou tranquilo no Bahia.
Mesmo não tendo certeza de quando irá realizar o seu sonho, Ramires já realizou o sonho de muita gente. Principalmente o do seu pai, que já se foi, mas estaria orgulhoso com o momento atual do filho:
Acho que meu pai estaria muito orgulhoso de mim, muito orgulhoso. Graças a Deus pude realizar o sonho dele, que era me ver jogador. Ele só tinha visto meu tio jogando. Disse que o sonho dele era me ver jogando.