Condenado pelo STF, Roberto Góes (PDT-AP) faltou a sessão plenária, foi a evento em que Del Nero assumiu a confederação e justificou como "tratamento de saúde"
Condenado nesta semana pelo STF por peculato, o deputado federal Roberto Góes (PDT-AP), presidente da Federação Amapaense de Futebol, faltou a 21% das sessões da Câmara dos Deputados no ano passado. Uma dessas faltas, em 16 de abril de 2015, foi para viajar ao Rio e comparecer à posse de Marco Polo Del Nero como presidente da CBF – com a passagem de ida paga por sua cota parlamentar. O deputado justificou sua ausência do trabalho em Brasília com um atestado médico, mas postou fotos do evento no Twitter.
[caption id="" align="aligncenter" width="690"] O deputado Roberto Góes com Del Nero em imagem publicada em seu Twitter no dia da posse (Foto: Reprodução/Twitter)[/caption]
Em uma das fotos, o deputado aparece ao lado de Del Nero. Em outra, está ao lado dos também deputados e também cartolas Vicente Cândido (PT-SP) e Marcus Vicente (PP-ES) – que chegou a assumir rapidamente a presidência da entidade em dezembro do ano passado, durante a primeira licença de Del Nero. Enquanto isso, no plenário da Câmara, era realizada a sessão ordinária nº 74, que teve início às 14h e terminou às 18h59.
Em 2015, Góes teve 26 faltas (21% das sessões), 25 delas justificadas – 21 registradas como "licença para tratamento de saúde". No dia 9 de junho, o deputado também justificou sua ausência no plenário apresentando um atestado médico. Mas foi até a Câmara Federal acompanhar o depoimento de Marco Polo Del Nero na Comissão do Esporte sobre as denúncias de corrupção na Fifa. Dias antes, José Maria Marin e outros cartolas tinham sido presos em Zurique a pedido da Justiça dos EUA.
[caption id="" align="aligncenter" width="690"] Góes com os também deputados George Hilton, Vicente Cândido e Marcus Vicente na CBF (Foto: Reprodução/Twitter)[/caption]
A audiência de Del Nero começou às 14h29 e terminou às 19h23. Góes acompanhou o depoimento do presidente da CBF e, outra vez, publicou uma foto no Twitter. Às 17h em ponto, o deputado pediu a palavra e elogiou Del Nero:
– Votei em vossa excelência com muito orgulho [na eleição para presidente da CBF]. Sua vinda aqui foi sensacional. Tenho certeza de que essa turbulência, essa marola... Essa aproximação com cada parlamentar e o respeito que o senhor tem com a Câmara mostra a vontade de buscar alternativas para melhorar o futebol. O que é da Justiça, a Justiça vai se atentar – discursou.
Ao mesmo tempo acontecia a sessão extraordinária nº 144, que começou às 16h30 e se estendeu até 18h51 – à qual o deputado faltava com a justificava de "licença para tratamento de saúde".
O GloboEsporte.com pediu à sua assessoria do deputado, por mais de um mês, esclarecimentos sobre os tratamentos de saúde que o obrigaram a faltar nas sessões de 16 de abril e 9 de junho. Não houve resposta.
A Câmara dos Deputados alegou proteção ao sigilo médico e não forneceu dados sobre o tratamento realizado pelo parlamentar. Indicou apenas que os dois atestados foram entregues nos dias 13 de maio e 10 de setembro de 2015, portanto semanas depois das faltas.
A assessoria da Câmara informou que os atestados médicos usados para justificar faltas são entregues a uma junta médica para perícia antes de serem aceitos.
[caption id="" align="aligncenter" width="690"] Documento da Câmara mostra as justificativas das faltas do deputado-cartola Roberto Góes (Foto: Reprodução)[/caption]
Passagem aérea
Segundo prestação de contas de Góes, disponível no site da Câmara, uma passagem aérea foi emitida em nome do deputado, no dia 15 de abril de 2015, véspera da posse de Del Nero, para o trecho Brasília-Rio de Janeiro, por R$ 672,93.
[caption id="" align="aligncenter" width="690"] Passagem emitida em nome de Góes, pela Câmara, na véspera da posse de Del Nero (Foto: Reprodução)[/caption]
O Departamento de Finanças, Orçamento e Contabilidade da Câmara, após solicitação via Lei de Acesso à Informação, confirmou que o bilhete, de número 957.2109.034947, previa viagem para o dia seguinte.
A passagem é relacionada ao voo 3023, operado pela TAM, com saída às 7h55 de Brasília e chegada ao Rio, pelo aeroporto Santos Dummont, às 9h42. A viagem foi paga com verba da cota parlamentar.
Por meio de sua assessoria de imprensa, Góes informou não se lembrar do caso específico, mas disse que em eventos como esse a CBF costuma custear passagens e hospedagens aos presidentes de federação.
Procurada, a CBF respondeu que é "hábito" o pagamento de passagens, mas que não se pronunciaria sobre o episódio em questão.
O GloboEsporte.com procurou novamente a assessoria do deputado para questionar o motivo de ele ter comprado um bilhete ao Rio com viagem para o mesmo dia da posse de Del Nero, apesar de a CBF fornecer passagens. Mais uma vez, não houve resposta.
Góes foi eleito deputado federal em 2012, com 22.134 votos, a votação mais expressiva do Amapá. Em 2010, foi preso pela Polícia Federal em uma etapa da Operação Mãos Limpas, que investigava esquema de desvio de verbas federais. Ele ficou detido por dois meses.
Réu em seis ações penais e investigado em outros sete inquéritos no STF, Góes foi condenado na última terça-feira pelo desvio de dinheiro público na época em que foi prefeito de Macapá, entre 2008 e 2012. A pena, de dois anos e oito meses de prisão, foi convertida em prestação de serviços comunitários – mas cabe recurso.
O deputado continua tendo boas relações com a cúpula da CBF. Na semana passada, viajou à Cidade do México para o Congresso da Fifa como representante da entidade ao lado do Coronel Antonio Carlos Nunes, vice da entidade. E publicou uma foto ao lado do novo presidente da FIFA, o suíço-italiano Gianni Infantino, eleito em fevereiro.
Em seu gabinete, Góes tem como assessora parlamentar a filha do governador do Amapá, Waldez Góes, seu primo. Luna Góes recebe R$ 12.940 mensais. O deputado cumpre seu terceiro mandato consecutivo na Federação Amapaense de Futebol, onde seu filho, Netto Góes, é diretor-administrativo.
As faltas a sessões de plenário com votações são descontadas do salário dos deputados, a não ser que essas ausências sejam justificadas. Cada deputado recebe R$ 33.763,00 mensais, além de outros benefícios, como a cota parlamentar – que, no caso de representantes do Amapá, é de R$ 43.374,78.
* Colaborou Martín Fernandez
[caption id="" align="aligncenter" width="690"] Góes com o presidente da Fifa, Gianni Infantino, no dia 12 de maio, no México (Foto: Reprodução/Facebook)[/caption]
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Fonte: Ge.com