Postado por - Newton Duarte

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Dor e esquecimento: tragédia da Fonte Nova completa sete anos

Sete torcedores do Bahia morreram quando parte da arquibancada cedeu no dia 25 de novembro de 2007, em partida contra o Vila Nova, válida pela Série C do Brasileiro

A Fonte Nova não é mais a mesma. Do estádio inaugurado em 1951 com o nome oficial de Octávio Mangabeira e expandido duas décadas depois, restam o formato e a memória. A famosa ferradura continua brindando o público com a imagem do Dique do Tororó. Os orixás permanecem abençoando o verde sagrado do futebol. Na arquibancada, a alma que transcendia do cimento deu espaço às cadeiras. Ela passou a ser internacional. Como uma bela anfitriã, transformou-se em Fonte dos Gols na Copa do Mundo. Virou atração mundial e o local preferido dos atacantes. Foi lá que Van Persie marcou o gol que concorre ao Prêmio Puskas 2014. Passou a ser referência de alegria e emoção. Essa é a memória recente do palco com a alcunha de Arena. Mas nada vai apagar o que se passou há exatos sete anos, na última vez em que a Fonte Nova abriu as portas ainda com o status de estádio e o nome do ex-governador da Bahia cravado em sua estrutura.

Queda de parte da arquibancada da Fonte Nova resultou na morte de sete torcedores em 2007 (Foto: Futura Press)

Nesta terça-feira, 25 de novembro de 2014, completam-se sete anos da maior tragédia do futebol baiano. Nesta data, em 2007, o momento era para ser marcado pela alegria do retorno do Bahia à Série B do Campeonato Brasileiro. O Tricolor enfrentava o Vila Nova quando, por volta dos 35 minutos, parte do anel superior cedeu. Aqueles que pulavam aos gritos de “Vamos para a Série B” perderam o chão. A queda foi de uma altura superior a 20 metros. Despencaram quase imperceptivelmente. O jogo continuou até o fim. Os mais de 60 mil tricolores presentes no estádio comemoraram como se nada tivesse acontecido. Muitos invadiram o gramado para externar a alegria pelo fim do martírio na então última divisão do Brasileiro. A euforia, aos poucos, foi se transformando em aflição com avanço do boato.

- A arquibancada caiu!

O boca a boca dava indícios de uma tragédia. O trio no lado de fora do estádio - contratado pela diretoria do Bahia - foi orientado a desplugar os equipamentos. Neste momento, não era apenas só um boato. A tragédia estava consumada. Sete corpos aguardavam a perícia em uma escadaria do lado externo do estádio. Márcia Santos Cruz, 27 anos; Jadson Celestino Araújo Silva, 25 anos; Milena Vasquez Palmeira, 27 anos; Djalma Lima Santos, 31 anos; Anísio Marques Neto, 27 anos; Midiã Andrade Santos, 24 anos, e Joselito Lima Jr, 26 anos, saíram de suas casas para ver o Bahia e não retornaram. Seus últimos momentos foram ao lado de milhares de tricolores. Vibravam, cantavam, sorriam e pulavam, quando o cimento utilizado para o impulso lhes faltou sob seus pés.

Além das sete vítimas fatais, dezenas de outras pessoas ficaram feridas. Estas tiveram a sorte de cair pelo lado de dentro do estádio. Do lado de fora, os corpos caíram uns sobre os outros. A cena de horror foi também a salvação de um torcedor. Jader Landerson, então com 17 anos, teve o impacto reduzido pelos outros tricolores e é considerado o único sobrevivente da tragédia. Hoje ele pode comemorar um renascimento, mas não esquece a fratura em três vértebras da coluna, a lesão em parte da coxa esquerda e o distúrbio causado pela pancada na cabeça.

Aos familiares das vítimas restou o suporte - muitas vezes falho - do estado. A Fonte Nova era administrada, na época, pela Superintendência de Desportos do Estado da Bahia (Sudesb). A autarquia, então comandada pelo ex-jogador Raimundo Nonato Tavares, o Bobô, havia recebido um relatório elaborado pelo Sindicato Nacional das Empresas de Arquiteturas e Engenharia (Sinaenco) que indicava o estádio como o pior entre 29 do Brasil. Nada foi feito. Ninguém foi responsabilizado pela tragédia.

Nesta terça-feira, sete anos após a morte de sete torcedores, a Fonte Nova estará vazia. Mero acaso do calendário. A data tem passado despercebida ao longo dos anos - assim como as vítimas no momento da queda. Os corredores estão vazios. Os refletores permanecerão apagados. Não haverá gritos na arquibancada. Nem de alegria, muito menos de dor. Mas não há como apagar o sofrimento de amigos e familiares das vítimas ao passar - a qualquer instante - no estádio que foi transformado em Arena. Sua estrutura mudou, mas sua história permanecerá viva na mente e corações dos baianos.