Postado por - Newton Duarte

A culpa é do Bahia: Escobar virou narrador após gol do Tricolor

Alex Escobar revela que decidiu ser narrador após gol do Bahia

Repórter falou ainda sobre seu sonho de infância

Quem tem acompanhado os jogos da Copa do Mundo no Brasil pela Globo já percebeu que Alex Escobar foi escalado para uma nova posição, a de narrador. E sua tática para ter uma boa atuação é clara: não se levar tanto a sério.

“O primeiro passo para virar narrador é deixar de se achar ridículo. Você tem que se soltar, deixar sair o grito de gol é muito difícil. O grande desafio para quem quer narrar um jogo de futebol é se despir de todos os preconceitos e tentar não imitar os colegas”.

Seu estilo mais irreverente ao microfone tem ganhado elogios, especialmente de uma parte do público. “Notei que a mulherada está gostando muito. As mulheres veem o futebol de uma maneira muito diferente dos homens, mesmo as que se interessam pelo esporte recebem melhor o meu bom humor. Porque eu não tenho pretensão de fazer humor, mas quero muito fazer uma narração bem humorada, descontraída. Não sou um humorista, mas uma pessoa de bom astral todos os dias, graças a Deus”, comemora Escobar.

As críticas a tamanha descontração, no entanto, insistem em chegar... “Não me incomodo porque eu já esperava. As pessoas não estão familiarizadas com o meu jeito de fazer, nem com o fato de eu ser narrador e acabam pensando que é uma aventura, que eu estou quebrando um galho ali. Mas acho que elas vão se acostumar e me aceitar aos poucos, é assim mesmo. O esporte é lazer, não é um momento tenso. É assim que eu encaro e é a minha forma de contar a história que está acontecendo”, diz.

Repercussão 

Na TV Globo, a repercussão foi “maravilhosa”, conta Escobar, desmentindo notícias que têm circulado sobre uma insatisfação da emissora com sua performance como narrador. Ele diz que seu despenho na partida entre Colômbia e Grécia no dia 14 de junho, sua estreia no Mundial, foi particularmente reconhecido. “Continuo esperando as críticas, acho que elas vão demorar a cessar, talvez não parem. Ninguém nunca foi unanimidade, nem vai ser. Mas esse jogo teve uma repercussão diferente, muito acima do que eu imaginava, tanto entre meus amigos, colegas de empresa, nas redes sociais. Não sei se consegui passar uma segurança maior, uma alegria maior, ou se estava mais à vontade”.

O desafio, aliás, veio a convite do diretor-executivo da Central Globo de Esportes, João Pedro Paes Leme, no ano passado. Apresentador titular do Globo Esporte Rio e com a credencial na mão para comandar o Central da Copa durante o Mundial ao lado de Tiago Leifert e Caio Ribeiro (função que está acumulando), Escobar não escondia sua vontade de voltar a trabalhar em transmissões de futebol, nas quais atuou, no início da carreira, como comentarista.

“Já tinha uma carreira um pouco mais sólida como apresentador e era um risco mudar um pouco o caminho, embora eu ache que dê para fazer as duas coisas. Resolvi correr esse risco pela paixão mesmo. Quando o João Pedro me perguntou se eu queria arriscar narrar, eu respondi na hora: ‘Quero!’”.

Começou então um período de concentração: Escobar passou nove meses gravando pilotos antes de estrear. “Narrava os jogos sozinho, sem ninguém ouvir, em tempo real. Gravava e depois os diretores analisavam, me davam umas dicas. Quando eu acabei de gravar os pilotos, só o que eles me pediram foi para ser eu mesmo”, lembra ele, que estreou no posto em março deste ano, num jogo do Flamengo contra o Bangu pelo Campeonato Carioca.

Gol do Bahia

O grito de gol com a assinatura de Escobar veio meio por acaso, numa partida do Botafogo contra o Bahia pelo Campeonato Brasileiro em maio, ele conta:  “Gritei ‘Gol do Bahia!’ (de um jeito contido) e muita gente veio falar comigo que foi legal. Então resolvi que essa seria minha marca”.

A preparação em véspera de dia de jogo também é sempre a mesma, quase como a de um jogador de futebol. “A melhor coisa que se pode fazer pela voz é dormir bem. Nas vésperas dos jogos eu procuro dormir cedo, por volta das 22h. Acordo legal e dou uma corrida de manhã para jogar a ansiedade fora. E gosto de chegar nos estádios umas duas horas antes dos jogos, fazer um lanche, conversar com minha mulher, meu filho. Se você chega menos de uma hora antes do jogo, já entra com uma certa adrenalina negativa.

A outra adrenalina, aquele friozinho bom na barriga, é o que tanto fascina o novo narrador: “O maior prazer de narrar é poder contar uma história ao vivo e a oportunidade de estar de volta aos estádios, sentir o clima da torcida”.

Essa vibração ele sentia desde pequeno. Coisa de criança com uma imaginação fértil... “Todo menino que gostava de jogar futebol de botão, na rua ou no videogame, já narrou pelo menos uma vez uma partida de futebol imaginária. Eu gostava de fazer isso quando jogava com os amigos”, lembra Escobar.

Aviação

Um pouco mais velho, virou narrador ‘de verdade’: um vizinho de Bangu, bairro da Zona Oeste carioca onde ele nasceu, o chamou para narrar um campeonato do qual seu time, amador, participava: “Depois fui comissário de bordo e fazia quase todas as locuções dos voos, porque os colegas não gostavam e eu adorava. Tirava a minha onda de locutor ali, era a hora de exercitar. Numa dessas, um comissário amigo meu me indicou para trabalhar na Rádio JB FM com um cunhado dele. E assim larguei a aviação”.

O resto da história muita gente já sabe. Escobar seguiu para a Rádio Cidade, onde apresentou o Rock Bola. O sucesso do programa rapidamente o levou para os canais Premiere e SporTV, onde ficou como comentarista por 5 anos. Quando menos esperava, Escobar estava comentando a Copa da Alemanha, em 2006, pelo SporTV: “O que mais me marcou foi ligar para o meu pai do estádio da abertura. A gente fica meio escondidinho lá em Bangu, né? E meu pai sempre me levou a estádios, sempre me incentivou. Lembro-me de ligar para ele e falar ‘Pô, velho. Sabe onde eu estou? Em Munique, na abertura da Copa do Mundo’, foi muito marcante”.

A Copa da África do Sul, em 2010, já trabalhando na Globo, como apresentador do bloco de esportes do Bom Dia Brasil, também foi emocionante, ele garante. Mas, independentemente do resultado, o Mundial do Brasil “já é o mais gostoso de todos”: “É a Copa em que estou me divertindo mais porque a narração está me deixando com mais gás. Parece que eu estou começando de novo. E é na nossa casa, o que é bom demais...”.


Nota Luis Peres @BahiaClub: O Bahia é culpado disso. Pelo crime hediondo e gravidade das consequências, condeno o Tricolor à 'pena de morte'.


Fonte: Natália Boere (Agência O Globo) – Via Correio

Foto: Divulgação e João Miguel/TV Globo