Postado por - Newton Duarte

A história tratada como lixo

Troféus de 59 e 88 do Bahia são achados em sacos de lixo, largados em sala

Taças foram encontradas num saco preto, empoeiradas e com sinais de ferrugem no edifício Mundo Plaza

A torcida prepara a voz: ‘59 é nosso, 88 também...’. O canto, uma referência às duas maiores conquistas do clube, certamente será ecoado no confronto de hoje entre Bahia e Internacional, às 21h, na Fonte Nova. As duas estrelas no peito sempre foram sinônimo de orgulho para os tricolores, mas atualmente se encontram abandonadas num saco de lixo.

Depois de 25 anos da segunda conquista nacional, justamente diante do Internacional, o troféu levantado em pleno estádio Beira-Rio por Bobô, Charles, Zé Carlos e companhia foi encontrado pelo CORREIO em destino bem menos glorioso. Não está no Fazendão, numa pomposa sala de troféus, exibido com orgulho. Foi parar no chão, dentro de um saco de lixo preto, juntamente com a taça de 1959, em uma sala inativa do escritório do clube, localizado no Edifício Mundo Plaza, no Caminho das Árvores.

O motivo de tamanho descaso? Os troféus deixaram o centro de treinamentos do clube por conta de uma ação que seria promovida pelo departamento de marketing da gestão Marcelo Guimarães Filho, programada para o jogo contra o Corinthians, dia 7 de julho. Mas o evento não aconteceu e as taças não voltaram para o seu devido lugar.

Sacha Mamede - que segue como diretor de marketing, mas segundo fontes da nova diretoria será demitido - afirma não saber da transferência. “Estou sabendo por você. Realmente íamos fazer uma exposição com o objetivo de aproximar mais o torcedor da Fonte Nova. Não estou sabendo das taças. Você precisa perguntar a outra pessoa”,

Procurado pela reportagem, o ex-presidente Marcelo Filho disse não lembrar o motivo da mudança. “Mas está na sala do clube, que é o mais importante”. Além das duas maiores glórias do Esquadrão, cobertas de poeira e ferrugem, outros troféus do futebol e esportes amadores estão em estado de corrosão. Eleito no dia 7, o presidente Fernando Schmidt informou que o acervo irá para um memorial que será criado na Arena Fonte Nova, com possibilidade de visitação para o torcedor. “Isso já está fechado”, assegura Schmidt.

Ídolos do Bahia ficam tristes e indignados com abandono dos troféus

Taças da Taça Brasil de 59 e do Brasileiro de 88 estão "guardadas" em saco de lixo dentro de sala no Mundo Plaza

"Fico triste". Essa foi a primeira frase de três ídolos do Bahia ao saberem o estado em que se encontram os troféus da Taça Brasil de 1959 e do  Campeonato Brasileiro de 1988. Léo Briglia, Bobô e Zé Carlos mostraram indignação quando receberam a notícia.

Artilheiro do primeiro título nacional com oito gols, Léo, 85 anos, quase não acreditou. Por telefone, de Itabuna, onde reside, o ex-jogador ficou revoltado. "Isso só pode ser coisa de algum doido, irresponsável. É algum maluco que não sabe o que é o Bahia", reclama.

Bobô, capitão do time da segunda estrela, pareceu perplexo. O ex-camisa 8 mudou até o tom de voz. "Estou abismado. É de doer. Isso representa a história do clube. O maior orgulho do torcedor do Bahia é ter as duas  estrelas no peito. Deixar o troféu em um saco de lixo? Essa pessoa não respeita a grandeza do Bahia", afirmou o ídolo e desafeto do ex-presidente Marcelo Guimarães Filho, sem citar nome. "Estou assustado, mas espero que a nova diretoria resolva isso. Os ídolos precisam ser respeitados. O Bahia precisa ser respeitado".

Outro destaque na conquista de 88, Zé Carlos destaca o feito do Bahia. Segundo ele, algo que talvez nunca se repita. "A gente vê a dificuldade que Bahia e Vitória enfrentam na Série A pra fugir do rebaixamento. O Bahia conseguiu isso, como um clube nordestino, e as pessoas não sabem qual adimensão, o que esse título significa".

Artilheiro do Esquadrão naquele campeonato, com nove gols, Zé Carlos vai além. "É o título que segura o Bahia até hoje. O que foi construído precisa ser valorizado. As pessoas precisam entender que elas passam, mas o Bahia fica. A história continua".

R$ 5,5 mil - A sala no Mundo Plaza está numa área de 70m² e gera ao Bahia um custo mensal de R$ 5,5 mil. O espaço foi alugado desde o dia 1º de dezembro do ano passado e está sem funcionalidade. Lá, nenhum móvel foi encontrado e a ausência de atividade é notada pelos fios soltos e parte do teto sem a devida cobertura. O diretor administrativo-financeiro, Reub Celestino, disse que "as salas serão ocupadas com funcionários do setor financeiro e de marketing".


Fonte: Miro Palma – Correio

Fotos: Evandro Veiga - Correio