Há 40 anos, Muhammad Ali e George Foreman paravam o mundo no Zaire
A "Luta na Selva", um dos combates mais memoráveis da história do boxe profissional, completa quatro décadas nesta quinta-feira
Foram poucos os momentos na história do esporte que cativaram e prenderam tanto a atenção dos fãs. O pênalti de Roberto Baggio, o último arremesso de Michael Jordan, os nove segundos de Usain Bolt, as últimas braçadas de Michael Phelps... Há exatamente 40 anos, um evento encabeçou essa lista: "A Luta na Selva", entre George Foreman e Muhammad Ali.
No dia 30 de outubro de 1974, o mundo parou para assistir o duelo entre duas forças do boxe mundial. Foreman era o dono do título dos pesados, extirpado de Ali em 1967 após o mesmo, apoiado em seus conceitos pacifistas, negar-se a defender os Estados Unidos na Guerra do Vietnã. O local era o Zaire, hoje conhecido como República Democrática do Congo.
- Flutue como uma borboleta, pique como uma abelha. Suas mãos não podem acertar o que seus olhos não podem ver - dizia Muhammad Ali antes da luta, com seu espírito provocador de sempre.
Em Kinshasa, capital do Zaire, no Estádio Tata Raphael, 100 mil pessoas aglomeravam-se para tentar acompanhar um milímetro que fosse dos golpes incansáveis que aconteceram naquela luta. Antes mesmo de entrarem no ringue, ambos os lutadores já escreviam seu nome na história.
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O cotidiano dessas 100 mil pessoas, e outras milhões que viviam no pobre país africano, não era motivo de celebração. Sob o regime ditatorial de Mobutu Sese Seko, a população via cartazes espalhados pela cidade que diziam: "Um presente do Presidente Mobutu ao povo do Zaire e em honra aos homens negros", já que o ditador financiou a realização da luta.
População do Zaire festejou muito a chegada das lendas do boxe à cidade, protagonizando a Luta do Século (Foto: AFP)
Antes das 4h, no horário do Zaire, Muhammad Ali, aos 32 anos e em busca da retomada do seu título mundial, entrou no ringue aos gritos de "Ali Boma Ye" (mate ele, Ali). Com seu roupão e calções brancos, parecia não se abalar com a festa criada à sua volta, olhando fixamente para o canto do ringue, onde seu oponente logo estaria.
Mais jovem, George Foreman era visto como um "monstro" no boxe. Sua envergadura e força eram, de fato, assustadoras e, aos 25 anos, seu vigor seria apenas mais um dos muitos obstáculos que Ali teria de ultrapassar. Esse era o homem que derrubou Joe Frazier e Ken Norton, os dois únicos lutadores que conseguiram derrotar Muhammad, até aquela data.
Quando a luta começou, Foreman passou a desprender seus golpes sobre Ali, que reagia pouco, mas falava muito. Os mais próximos do ringue disseram ouvir frases do tipo: "É tudo que você pode fazer?", "Minha mãe bate mais forte do que você", ditas pelo ex-campeão.
O mundo ficou perplexo com a falta de reação de Ali, que era massacrado por Foreman, assalto após assalto, batendo nas cordas e voltando ao encontro dos duros punhos do campeão. Porém, a cada soar de gongo, o dono do cinturão mostrava-se cada vez mais cansado. Ali começava a vencer a luta.
No oitavo round, Foreman simplesmente brandia seus braços em direção ao rápido desafiante que, realmente, voava como uma borboleta no ringue. De repente, como um raio, o punho do boxeador mais rápido do mundo acertou em cheio no rosto do campeão e o levou ao chão. Era fim de luta. Muhammad Ali retomava seu cinturão dos pesados.
- Eu admito. Ele pensou mais do que eu, ele lutou mais do que eu. Naquela noite, ele simplesmente foi o melhor homem no ringue - disse George Foreman, após a luta.
Assim que o gongo final soou, o ringue foi invadido por fãs, policiais e repórteres. Muhammad Ali, já tido como um dos maiores lutadores da história, tirava seu nome do rol dos grandes do esporte e o colocava em um novo patamar: o de lenda. Há 40 anos, a "Luta na Selva" passou a ocupar um capítulo especial nos anais do esporte, e seus participantes, serão eternamente lembrados.
