Postado por - Newton Duarte

A perigosa e jurássica microvisão do ser humano no futebol

A perigosa e jurássica microvisão do ser humano no futebol

DIVÃ

É incrível como esses dirigentes de futebol insistem numa visão reduzida, minimalista e diminuta dos aspectos humanos dos jogadores de futebol.

Há momentos, confesso, que tenho vontade de desistir do esporte nesse país. Após 22 anos de pesquisa, estudo e atuação, é inevitável sentir um cansaço e desânimo diante desse empobrecido futebol brasileiro.

Duas semanas atrás, o jogador Fabrício, do Inter, teve uma crise nervosa dentro de campo ao ser vaiado pela torcida do time gaúcho que defendia. O atleta estava sendo perseguido inclusive fora de campo por alguns torcedores do Inter. Desligado do clube, o presidente do Colorado saiu-se como (mais) uma “pérola”: “Ninguém vai cuidar do Fabrício aqui porque isso aqui é time de futebol e não clínica de reabilitação”. Ou seja: para o cartola, a Psicologia serve para cuidar de gente maluca. Há algo mais clichê?

Hoje, foi noticiado que o presidente do Joinville declarou que, ao ser indagado se o clube contrataria uma psicóloga para ajudar no emocional do grupo que vem demonstrando não suportar momentos de pressão (o altíssimo número de expulsões é apenas mais um sintoma) – “Não adianta trazer alguém que trabalha com crianças para falar com os jogadores. No futebol, a melhor psicologia é o salário e a premiação em dia.”

Em menos de um mês, duas declarações que apenas expõem a dura realidade do combalido futebol brasileiro e a visão limitada dos dirigentes diante dos aspectos humanos. Na visão de boa parte deles, “pagar em dia é a melhor Psicologia’ que um clube pode oferecer. O que dizer sobre isso, a não ser lamentar profundamente pela ignorância, preconceito e desinformação?

Enquanto isso, na Alemanha, um grupo de 12 psicólogos – coordenados pelo Dr Hans Dieter atua na Bundesliga (liga de futebol alemão), promovendo estudos, pesquisas e uma realidade multi e interdisciplinar bem distante da nossa. O #eterno7a1 não foi um acaso do destino – como querem pensar alguns dirigentes brasileiros. Depois dessa tragédia, deveriam juntar umas 100 pessoas ligadas e influentes no futebol para uma reavaliação profunda nas diretrizes e metodologias de treinamento e concepção de atleta e ação esportiva – além dos programas de prevenção e promoção de novos ciclos de treinamento físico, tático, técnico e mental no futebol.

O que vemos, no entanto, são os eternos dinossauros ditando suas visões ignorantes no universo do senso comum social e, assim, deixando-o cada vez mais comum.

Não vou desistir desse caminho, embora tenha a convicção plena que essa voz poderia ganhar mais corpo com a ajuda maior dos amigos e colegas da área.

Enquanto isso, mais um gol da Alemanha.

*João Ricardo Cozac, psicólogo do esporte, presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte. Membro acadêmico, doutorando e pesquisador