Postado por - Newton Duarte

Alemanha precisou derrubar a muralha Argelina; Raio-X e os Gols

Alemanha leva susto, mas letra de Schürrle abre vitória contra Argélia

Abaixo da média, time sofre bastante e precisa da prorrogação para bater a aguerrida Argélia no Beira-Rio e garantir jogão contra a França nas quartas

A Alemanha desconstruiu em 120 minutos qualquer status de favorita suprema ao título da Copa do Mundo. Sofreu além da conta, rendeu calafrios à sua torcida num Beira-Rio em que foi visitante e precisou da prorrogação para se classificar às quartas de final. A vitória por 2 a 1 sobre a Argélia, daquelas loucas e imprevisíveis, nasceu do pé esquerdo de André Schürrle, numa letra tão desengonçada quanto o futebol apresentado pelo time de Joachim Löw. Continuou com um chute de Mesut Özil depois de o próprio titubear frente ao goleiro M'Bolhi, quase herói da noite. E terminou com Djabou enchendo os argelinos de esperança, mesmo que restasse menos de um minuio nos acréscimos.

Pesou contra a atuação abaixo da média dos germânicos principalmente a ausência do zagueiro Mats Hummels, gripado. O setor ofensivo, apesar de terminar com quase 30 finalizações, também mereceu críticas, especialmente nos três primeiros quartos do jogo. Restaram os aplausos de reconhecimento à Argélia – e o choro de Feghouli ainda no gramado. Classificada em segundo no Grupo H depois de vencer a Coreia do Sul no próprio Beira-Rio, a seleção africana ganhou o respeito e a torcida da maioria dos 43.063 presentes.

Alemães comemoram o gol de Schürrle, que abriu caminho para a classificação

A Alemanha volta a campo na próxima sexta-feira. Fará um clássico europeu contra a França, às 13h (de Brasília), no Maracanã, num dos duelos mais aguardados do Mundial. Quem vencer enfrentará Brasil ou Colômbia na semifinal do dia 8, no Mineirão. Eliminados, os argelinos voltaram ao seu país nesta quarta-feira de cabeça erguida por quase terem se consagrado como outra zebra no Brasil.

Argélia perto do gol

O relógio passava da casa dos 20 minutos. Joachim Löw virou-se para o próprio banco de reservas e resolveu colocar metade dos relacionados no aquecimento. Estava claro que não era um protocolo: a Alemanha, dominada pela Argélia, sentia o perigo no cangote. Foram alguns bons minutos de apreensão por parte dos germânicos. Os africanos, organizados defensivamente e diretos quando conseguiam recuperar alguma bola, criaram as melhores chances – abusaram da ausência do pilar da defesa no time de Joachim Löw, o gripado Hummels. Tiveram, inclusive, um gol corretamente anulado, marcado por Slimani de cabeça aos 16.

O camisa 13 argelino, melhor em campo na vitória sobre a Coreia do Sul e no empate com a Rússia, parecia incansável. Puxava a marcação, aguardava uma titubeada qualquer dos inconstantes Mertesacker e Boateng para agir, colocou Neuer para dar um carrinho salvador na intermediária... Ele tinha ainda a companhia de Feghouli, o craque do time, e Soudani, dono de bons passes. Faltou mesmo um gol que o trio de arbitragem brasileiro, comandado por Sandro Meira Ricci, não anulasse.

Alemanha demora, mas reage

A Alemanha, com pinta de toda-poderosa, praticamente não se movimentava, salvo um aguerrido Thomas Müller e outra rara exceção. Também não finalizava, consequência natural de um time que não poderia sequer culpar o calor tão citado na primeira fase no Nordeste. Fazia um frio de quase 10ºC no Beira-Rio, algo próximo do que os alemães estão acostumados. E a seleção europeia só foi reagir já no fim, quando Kroos percebeu que o espaço na intermediária permitia a finalização. Numa delas, M'Bolhi deu rebote, mas Götze não aproveitou.

M'Bolhi voa para evitar que a Alemanha abrisse o placar. Goleiro teve grande atuação

Löw enxergou um time viciado, embolado e que facilitava a marcação dos africanos. Pôs Schürrle, um ponta, no lugar de Götze. Melhorou ao ponto de oferecer ao seu torcedor alguma esperança de bom futebol. Schürrle, duas vezes, Höwedes e Lahm quase abriram o placar. A Argélia estava reduzida aos contra-ataques e cruzamentos, mas uma ou outra troca de passes foi o suficiente para arrancar gritos de "olé" das arquibancadas. Ainda assim, conseguiu se sustentar – o ímpeto inicial dos alemães diminuiu.

O jogo entrava num tom de marasmo. Mustafi se lesionou e ofereceu a oportunidade de Löw mudar o time. Entre Klose e Khedira, ele optou pelo conservadorismo. Lahm voltou à lateral, sua posição de origem, mas faltava o homem-gol para receber seus cruzamentos.

Lá e cá

A Argélia voltou a gostar da partida. Feghouli, Slimani e Soudani flertaram com o gol do heroísmo e transformaram o jogo num lá e cá empolgante. Müller, pela direita, fez linda jogada que terminou com cabeçada de Schweinsteiger para fora. O camisa 13 foi para a área no lance seguinte e obrigou M’Bolhi a operar um milagre. Em seguida, dominou na área e emendou de direita para fora.

Schürrle corre para o abraço depois de a sua letra parar no fundo das redes

O clima era de tensão – mas também de gargalhadas, quando Müller caiu sozinho numa falta ensaiada de frente para área. Neuer, com saídas precisas do gol, quase como um líbero, evitou o pior para a Alemanha. Schweinsteiger, do outro lado, desperdiçou ótima oportunidade em cabeçada. Era noite de prorrogação.

Argélia não resiste

Os aplausos ao apito final já indicavam um sentimento de dever cumprido por parte dos africanos. Torcedores de rostos pintados viraram-se para as câmeras tremulando suas bandeiras. O Beira-Rio estava feliz por poder assistir a mais 30 minutos e manter o sonho de ver outra zebra passear pelo Brasil.

Durou pouco mais de um minuto. Após a saída de bola, a Alemanha recuperou a posse rapidamente e em três toques Müller já invadia a área. O cruzamento saiu um pouco atrás do planejado, mas Schürrle, de letra, conseguiu desviar para as redes: 1 a 0 e enorme alívio para os europeus.

Thomas Müller tenta surpreender a Argélia em cobrança de falta – e consegue

Mais leve, a Alemanha manteve o pique. Müller quase ampliou em finalização de fora da área. Khedira, lá atrás deu enorme susto ao furar a bola pós-escanteio – Mostefa aproveitou a sobra e concluiu para fora. No fim, um jogo para pegar fogo: Özil, aos 14 do segundo tempo, ampliou depois de hesitar frente ao goleiro. Djabou, nos acréscimos, aproveitou buraco na área para descontar. Mas não houve tempo para buscar o empate.


Alemanha 2 x 1 Argélia

Copa do Mundo – Oitavas de Final


Local: Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre (RS)

Data: 30 de junho de 2014, segunda-feira

Horário: 17 horas (de Brasília)

Árbitro: Emerson de Carvalho (Brasil)

Assistentes: Marcelo Van Gasse (Brasil) e Walter Lopez (Guatemala)

Público: 43.063 pessoas

Cartão amarelo: Lahm (Alemanha); Halliche (Argélia)

Gols na prorrogação: Alemanha: Schürrle 1’ 1º T; Özil 14’ 2º T; Argélia: Djabou 16’ 2º T

Alemanha: Neuer, Mustafi (Khedira), Mertesacker, Boateng e Höwedes; Lahm, Schweinsteiger (Kramer) e Kroos; Özil, Müller e Götze (Schürrle)

Técnico: Joachim Löw

Argélia: M’Bolhi; Mostefa, Belkalem e Halliche (Bouguerra); Mandi, Lacen, Taider (Brahimi), Feghouli, Soudani (Djabou) e Ghoulam; Slimani

Técnico: Vahid Halilhodzic

O CARA

Raïs M’Bolhi

Raïs Mbolhi fez milagre para evitar o gol de Lahm

Raïs Mbolhi fez milagre para evitar o gol de Lahm

Se não fosse M’Bolhi, a Argélia não teria conseguido levar o jogo para a prorrogação, fazendo a partida memorável que fez. O goleiro fez uma série de defesas dificílimas e foi o maior responsável por segurar o 0 a 0 no tempo normal, sobretudo no segundo tempo, quando foi bombardeado.

OS GOLS

2’/1TP: GOL DA ALEMANHA!

Thomas Müller cruza, e André Schürrle tenta a finalização e acaba acertando um chute de letra, meio sem querer, de dentro da pequena área.

14’/2TP: GOL DA ALEMANHA!

Özil pega sobra de chute de Schürrle e aproveita o goleiro M’Bolhi um pouco fora de posição para mandar uma bomba à queima-roupa e fazer 2 a 0.

15’/2TP: GOL DA ARGÉLIA!

Feghouli cruza da direita, e Djabou chega de carrinho na segunda trave para diminuir para a Argélia um minuto após o gol de Özil.

A TÁTICA

Escalações iniciais de Alemanha e Argélia

Escalações iniciais de Alemanha e Argélia

Com a bola, a Alemanha recua Lahm como um terceiro zagueiro, para auxiliar na saída de bola, avançando Mustafi e Höwedes. Özil e Götze ficam abertos, sem muita mobilidade. A Argélia aposta em um 4-2-3-1, tendo Slimani como o jogador que mais se movimenta para fora de sua posição inicial. A Estatística

A ESTATÍSTICA

7

A Argélia fez sete gols nesta Copa do Mundo. Nas outras três que havia disputado, havia marcado seis ao todo.

Atuações: goleiro dá vida extra à Argélia, e Schürrle faz gol decisivo

Rais M'Bolhi tem grande noite no Beira-Rio e salva argelinos durante o tempo regulamentar. Atacante dá vaga à Alemanha, que fica aquém da expectativa

Header Alemanha (Foto: Infoesporte)

NEUER - GOLEIRO

Jogando sempre adiantado quando seu time tinha a bola, o arqueiro teve papel importante ao interceptar lançamentos longos para Slimani, desempenhando um papel de líbero. Em sua função sob as traves, não teve tanto trabalho, mas não falhou quando exigido.

Nota: 7,0

MUSTAFI - LATERAL-DIREITO

Foi discreto no apoio ao ataque e acabou dando muito espaço para os ataques da Argélia, que saíram, na maioria das vezes, em seu lado do gramado. Melhorou no segundo tempo, mas se lesionou e precisou sair para a entrada de Khedira.

Nota: 5,0

KHEDIRA - VOLANTE

Jogou pelo lado direito do campo e ajudou bem mais que Mustafi. Fez bons cruzamentos e quase deu origem a um gol no fim do tempo regulamentar.

Nota: 6,5

MERTESACKER - ZAGUEIRO

Apesar de ter mostrado segurança em muitas divididas, perdia na agilidade para os atacantes da Argélia. Slimani deu trabalho e por diversas vezes apareceu livre, enquanto Soudani o deixou para trás em muitos piques.

Nota: 5,0

BOATENG - ZAGUEIRO

Não teve uma atuação regular, perdendo-se em alguns lances, como na ótima jogada de Feghouli, que o driblou com facilidade no primeiro tempo. Na etapa final mostrou-se mais seguro.

Nota: 5,5

HÖWEDES - LATERAL-ESQUERDO

Mal apareceu no ataque alemão e nem mesmo deu suporte à defesa nas bolas longas exploradas pela Argélia. Defensivamente, conseguiu fazer bem a marcação de Feghouli quando se aproximou do 10 adversário.

Nota: 5,5

LAHM - VOLANTE

Tentou ser o ponto inicial de todas as jogadas da Alemanha, como de praxe, mas não teve o apoio necessário dos laterais. Pouco pôde ajudar, embora tenha se comportado bem defensivamente.

Nota: 6,0

SCHWEINSTEIGER - MEIA

Tentou organizar o jogo e conduzir a bola a partir do meio de campo. Não arriscou tantas vezes de fora da área, mas, quando o fez, assustou o goleiro M'Bolhi. Esgotado, deixou o campo no fim da prorrogação para dar lugar a Kramer.

Nota: 6,5

KRAMER - VOLANTE

Teve pouco tempo para fazer alguma diferença na partida.

Sem nota

KROOS - MEIA

Apareceu apenas no fim do primeiro tempo e mostrou-se como ótima opção alemã para furar a boa marcação da Argélia, principalmente nos chutes de fora da área.

Nota: 6,5

ÖZIL - ATACANTE

Apesar de não fugir do jogo, errou muitos passes fáceis em diversas oportunidades. Parecia mais lento do que o ritmo do jogo pedia e, por isso, não conseguiu ajudar a Alemanha quando necessário. No fim do jogo, teve o mérito de converter a chance que deu fim à esperança adversária.

Nota: 5,5

GÖTZE - ATACANTE

Não conseguiu mostrar a criatividade de costume e pouco ajudou no ataque, inclusive matando algumas jogadas. Quando teve nos pés o rebote de um chute de Toni Kroos, preferiu o chute ao passe, desperdiçando a melhor chance germânica no primeiro tempo. Deixou o campo no intervalo para dar lugar a Schürrle.

Nota: 4,5

SCHÜRRLE - ATACANTE

Depois que entrou, logo apareceu bem do lado direito e teve boa participação na criação das jogadas. Quase marcou no fim do tempo regulamentar, em rebote após cabeçada de Müller, e depois apareceu muito bem para fazer o gol da vitória.

Nota: 7,5

MÜLLER - ATACANTE

Foi o melhor jogador da Alemanha em boa parte do jogo. Saiu da área, buscou jogo mais pela direita e até ajudou na marcação. Assustou com diversas cabeçadas, uma delas salva pelo goleiro M'Bolhi. No fim do jogo, cansou e chegou a errar alguns passes simples.

Nota: 7,0

Header Argelia (Foto: Infoesporte)

M'BOLHI - GOLEIRO

Pareceu inseguro no começo do jogo, rebatendo alguns chutes aparentemente fáceis. Porém, quando exigido, fez seu papel com louvor e salvou a Argélia em muitas oportunidades, como em finalização de Götze no primeiro tempo e cabeçada certeira de Müller no fim do jogo. Nos gols alemães, não pôde fazer nada.

Nota: 8,0

MANDI - LATERAL-DIREITO

Teve papel mais defensivo na partida e o fez muito bem, conseguindo atrapalhar as tabelas de Götze e Özil por aquele lado no primeiro tempo. Depois, deixou o meia do Arsenal apagado durante o resto da partida.

Nota: 6,5

MOSTEFA - ZAGUEIRO

Trabalhou mais como volante na partida, descontruindo as jogadas na entrada da área. Apareceu no ataque ao chutar bem uma sobra de bola após escanteio por duas vezes, mas poderia ter apoiado mais.

Nota: 6,0

BELKALEM - ZAGUEIRO

Teve trabalho com Müller e por vezes perdeu as disputas na área, mas não comprometeu. De resto, fez boas coberturas nos passes longos.

Nota: 5,5

HALLICHE - ZAGUEIRO

Mostrou muita mobilidade e principalmente se dispôs a armar o jogo em algumas vezes, caindo pela esquerda. Como capitão, foi a voz do time e mostrou muita raça. Esgotado, deu lugar a Bouguerra no começo da prorrogação.

Nota: 6,5

BOUGUERRA - ZAGUEIRO

Mostrou-se seguro no pouco tempo que esteve em campo e não comprometeu.

Nota: 6,0

GHOULAM - LATERAL-ESQUERDO

Avançou pouco por conta da atuação de Soudani pelo lado esquerdo do campo. Apareceu mais na defesa, inclusive posicionando-se pelo centro. No lance do gol alemão, cochilou e permitiu a finalização de Schürrle.

Nota: 5,0

LACEN - VOLANTE

Foi o "carregador de piano" do meio campo da Argélia, tendo o papel de desarmar os habilidosos alemães na intermediária. Auxiliou muito bem os zagueiros e interrompeu avanços alemães precocemente, originando contra-ataques para sua equipe.

Nota: 7,0

TAIDER - MEIA

O mais discreto da Argélia na partida. Cumpriu seu papel na marcação ao lado de Lacen, mas não deu o apoio necessário na criação. Deu lugar a Brahimi no segundo tempo.

Nota: 5,5

BRAHIMI - MEIA

Muito habilidoso, esbanjou disposição em campo, pressionando a saída de bola alemã e dando mais ímpeto à Argélia no segundo tempo.

Nota: 6,5

FEGHOULI - MEIA

Um dos astros do time, esteve bem marcado e só conseguiu aparecer bem em alguns lançamentos nas costas da zaga, quando tinha mais liberdade do que o comum. Produziu menos do que nos outros jogos da Argélia na Copa do Mundo e acabou fazendo falta.

Nota: 5,5

SOUDANI - MEIA

Melhor opção ofensiva da Argélia na primeira etapa, com muita velocidade pelo lado esquerdo e precisão para os lançamentos longos. No segundo tempo, mostrou-se mais cansado e tomou a decisão errada ao arrancar em ótima chance no fim do jogo, preferindo o passe ao chute. Foi substituído no começo da prorrogação.

Nota: 6,5

DJABOU - MEIA

Deu mais velocidade à Argélia, embora não tenha mostrado a mesma criatividade que havia lhe dado a vaga de titular nos jogos anteriores. Teve estrela para marcar o último gol da Argélia no Mundial, já quando o placar marcava 2 a 0 para os alemães.

Nota: 7,0

SLIMANI - ATACANTE

Mais uma vez, chamou a atenção por sua dedicação ao pressionar os zagueiros e pela velocidade impressionante nos contra-ataques. No segundo tempo, se cansou e apareceu menos nas arrancadas, emboras sempre tenha incomodado a defesa com sua presença de área.

Nota: 7,0


Fonte: Victor Canedo e Jorge Natan/GE.COM – GENET – Leonardo de Escudeiro/Trivela

Foto: EFE - Reuters - AFP - Reprodução