Postado por - Newton Duarte

Alexandre Faria cobra Bahia 'grande' e prevê reforços para Série B: 'Retoque'

Alexandre Faria cobra Bahia 'grande' e prevê reforços para Série B: "Retoque"

Diretor faz elogios ao técnico Sérgio Soares, ao presidente Marcelo Sant'Ana e à torcida. Ele avalia carência nas laterais: "Não acho equívoco de planejamento"

Alexandre Faria cobra dos seus um "Bahia gigantesco" (Foto: Rafael Santana)

Pouco mais de quatro meses, após sua chegada ao Bahia, Alexandre Faria já fala como um tricolor apaixonado. Grande? Não. Para Faria, o Bahia é gigantesco. Como um tricolor da velha guarda, o diretor de futebol cobra dos seus que tratem o clube como uma potência. No Bahia desde o final do ano passado, ele vê o time de Sérgio Soares como um espelho do que é desejado pela diretoria para ser passado aos torcedores. Na tarde sexta-feira, Alexandre Faria recebeu a equipe do GloboEsporte.com para uma conversa sobre o rumo atual da equipe.

Confiante no seu grupo de atletas, o dirigente destaca o nível de dedicação dos jogadores como algo determinante para a mudança de postura de um time que há quatro meses foi rebaixado para a Série B do Campeonato Brasileiro e agora é finalista da Copa do Nordeste e está próximo de garantir presença na decisão do Campeonato Baiano.

- Eu estou muito confiante no grupo de atletas. O nível de comprometimento hoje dos atletas, ele é total. Eu vejo, por exemplo, uma alegria num Maxi de vir treinar, que eu não percebi logo que cheguei aqui. Quando eu cheguei, eu percebi que os caras talvez não acreditassem mais no que a gente falava. O Titi, como capitão, na primeira conversa que tive com ele, percebi um atleta profissional, mas sem aquela alegria de estar no Bahia. Hoje o Titi é só alegria. E é um jogador que está fisicamente voando, e ele mesmo fala que nunca esteve tão bem fisicamente porque está trabalhando - disse ao GloboEsporte.com

De estilo combativo, o diretor faz elogios ao técnico Sérgio Soares, ao presidente Marcelo Sant'Ana e à torcida: "Quando a torcida do Bahia está junto, ela carrega o time". E diz, sem fazer rodeios, que quem não compactuar com o pensamento de que o Bahia é grande deve deixar o projeto. E cita o exemplo do ex-treinador do sub 17, Alexandre Coutinho, que foi desligado do clube na última quinta-feira.

- Eu não aceito, por exemplo, um declaração de um treinador meu da divisão de base de que quer levar um jogo de Copa do Brasil sub-17 contra o Corinthians para São Paulo. Eu quero ganhar do Corinthians, e, se possível, golear o Corinthians - disse.

Confira a entrevista completa com o diretor de futebol do Bahia.

A sensação de chegar nesse momento da temporada em uma final de Copa do Nordeste e muito perto de uma decisão de Campeonato Baiano é de dever cumprido?

Alexandre Faria: De dever cumprido, está longe. É só um começo de trabalho. Felizmente, estamos bem nas três competições que estamos disputando. No Nordeste, estamos na final; no Campeonato Baiano, estamos na semifinal e com boa possibilidade de chegar na final; na Copa do Brasil, passamos de fase. Dever cumprido será se, no final do ano, chegarmos na cabeça de todas as competições que estamos disputando. A gente sempre quer mais e a gente quer títulos. O Bahia nasceu para vencer, e a gente entende que o Bahia precisa perseguir os títulos a todo momento.

Há algo nesse planejamento que você acha que ainda não foi alcançado?

- A gente sempre quer mais. A gente tenta sair da zona de conforto e evitar o risco. Não podemos ser inebriados por um bom momento do clube, e a gente quer sempre mais. Quando você monta um planejamento sabendo que os retoques vão precisar ser feitos... Para Série B, a gente entendeu que tem que dar uma reforçada em algumas posições específicas. Sabíamos que isso aconteceria, porque a prioridade era dar oportunidade aos atletas da base. Tenho convicção de que estamos num bom caminho. Conseguimos seguir aquilo que a gente traçou lá atrás, com o número de atletas da base que tiveram oportunidade, que foi, tem sido muito grande e continuará sendo. E alguns atletas também, que vieram e ainda não renderam tudo o que podem. Mas a gente entende que ainda precisa dar uma lapidada para chegar num ponto próximo do ideal.

Faria diz que não houve equívoco de planejamento na não contratação de um lateral esquerdo (Foto: Rafael Santana)

Para a Série B existe um número de reforços? E para quais posições?

- O número é sempre mutável. Depende do momento de cada atleta. Hoje a gente sabe que tem uma carência nas laterais. No caso da lateral direita, em virtude da lesão do Railan. O Yuri vem jogando e, sempre que é chamado a contribuir, dá conta do recado. É um atleta que tem uma performance físico-tática muito boa. Isso ele está ali ajudando, mas ainda queremos vê-lo na função dele. E na lateral esquerda, a gente teve a saída do Pará, depois a saída do Raul. E aí a gente deu oportunidade para o Carlos, para o Patric, e, com a lesão do Patric, a gente também está jogando ali com o Bruno [Paulista] improvisado.

Essa situação da lateral esquerda não expõe um equívoco no planejamento?

- Não acho equívoco de planejamento, não. A nossa prioridade foi dar chance aos atletas da base. Por isso aparece o Zé Roberto, bem como tem aparecido o Rômulo, o Gustavo Blanco, que fez uma belíssima partida contra o Nacional-AM, lá no Amazonas e terá outras oportunidades, o Robson, o Yuri, o Jean, chamado para Seleção Brasileira... Então não acho que há equívoco de planejamento não. É muito fácil falar: "Ah, nós temos que trazer o jogador que vai resolver o problema", como se fosse receita de bolo. Ninguém tem a garantia de que um atleta contratado vai ser a solução do problema. O risco que você tem, ele existe da mesma forma que existe para um atleta da base. Então não acho que é erro de planejamento, não. Especificamente na lateral esquerda, a gente tem tido mais problemas do que em outras posições, mas a gente está ciente de que ali precisa resolver e vamos resolver.

Você tem tido um papel de diretor bem combativo. Já cobrou arbitragem publicamente, fez outros questionamentos. Esse é o estilo Alexandre Faria?

O Bahia é um clube gigantesco, e quem não estiver pensando assim definitivamente não vai trabalhar comigo e não vai fazer parte do projeto.

Alexandre Faria

- Eu gosto das coisas certas. Eu trabalho muito e exijo isso dos meus comandados. Cargo de diretor de futebol, você é responsável pelo departamento que tem muita gente envolvida, não só no dia a dia do clube, como também das famílias que dependem das pessoas que estão ali, não é? Então, quando eu vejo alguma coisa que é errada, eu combato e combato mesmo. E a grande mensagem que eu quero deixar para o torcedor do Bahia e para o funcionário do Bahia é que o Bahia é um clube gigantesco, e quem não estiver pensando assim definitivamente não vai trabalhar comigo e não vai fazer parte do projeto. Eu não aceito, por exemplo, um declaração de um treinador meu da divisão de base de que quer levar um jogo de Copa do Brasil sub-17 contra o Corinthians para São Paulo. Eu quero ganhar do Corinthians, e, se possível, golear o Corinthians. Esse tipo de mentalidade para mim não serve, e é essa mentalidade que as pessoas do Bahia e da comunidade do Bahia têm que entender e eu vou sempre combater aquilo que eu não acho que é legal para o trabalho que foi traçado.

Esse foi o principal motivo da demissão de Alexandre Coutinho?

- Não. A gente já vinha discutindo algumas coisas relacionadas ao sub-17. A gente estava insatisfeito com o rendimento do sub-17. A gente acha que tem um grupo muito qualificado que não estava rendendo aquilo que podia render. Mas, a partir do momento em que um comandante dá uma declaração daquela, ele não serve para trabalhar no nosso projeto. Eu tenho respeito muito grande pelo profissional, desejo muito sucesso a ele, acho que foi infeliz na declaração, mas uma declaração dessa é inadmissível. Se é dito publicamente o que não deve ser dito para os atletas. Então é uma questão de postura. A gente quer desenvolver uma postura vencedora no Bahia, onde o Bahia é maior que todos e sem nenhum tipo de arrogância, mas a gente tem que buscar o topo. O Bahia é um clube que representa uma nação. E quantos países têm uma população menor do que o tamanho da torcida do Bahia? Não são poucos. Então a pessoa tem que entender o tamanho do Bahia. A partir do momento em que a pessoa começa a entender o tamanho do Bahia e aonde que ela quer chegar, fica mais fácil de ela encaixar no nosso trabalho e no nosso projeto. Então para mim, isso é uma condição sine qua non para estar no grupo de trabalho do Bahia.

Apesar dos objetivos ainda não alcançados, já vemos resultados acontecendo. Você acreditava que esses resultados apareceriam em tão pouco tempo?

O resultado que eu acho que já é uma realidade é o resgate do orgulho do torcedor tricolor. Hoje a torcida do Bahia tem orgulho de dizer que torce para esse clube, porque é um time que joga para frente.

Alexandre Faria

- Tem uma frase que eu gosto de usar, que diz que "nem tudo está certo quando você ganha e nem tudo está errado quando você perde". E eu tenho muita experiência no futebol para não me deixar empolgar com os resultados de momento. Futebol é muito dinâmico. Estamos na final da Copa do Nordeste. Com boas chances de chegar numa final de Campeonato Baiano. Mas nós não ganhamos nada. A verdade é essa. O resultado que eu acho que já é uma realidade é o resgate do orgulho do torcedor tricolor. Hoje a torcida do Bahia tem orgulho de dizer que torce para esse clube, porque é um time que joga para frente. É um time que propõe o jogo. Eu converso com alguns atletas que estavam aqui no ano passado como o Maxi, o Kieza, e eles comentam que hoje o Bahia é um time que tem um número de finalizações muito maior. É um time que joga para frente, que propõe o jogo, que luta e que não se entrega nem um minuto sequer. Então esse é o maior resultado que a gente conquistou aqui. O que a gente tem que fazer é que esse resultado técnico, emocional e de filosofia de jogo se transforme em títulos. Falta dar o último passo. O que é que falta? Falta ganhar do Ceará e ser campeão do Nordeste. Falta ganhar do Juazeirense, depois ganhar de Vitória da Conquista ou de Colo Colo e ser campeão baiano, e falta coroar o ano com o título da Série B, que é o que todos nós queremos. Dentro do que a gente disputou até agora, é claro que estou satisfeito com o resultado. A gente ainda não perdeu nenhuma chance de conquistar nada. Não saímos de nenhuma competição. Nós estamos numa final, numa semifinal e passamos de fase na Copa do Brasil. Mas eu não posso deixar que o grupo se iluda com isso. Ainda é muito pouco para os objetivos que a gente quer para o Esporte Clube Bahia. O Bahia é muito grande para se contentar com pouco.

Sérgio Soares tem a cara dessa nova filosofia?

- Sem dúvida nenhuma. É um treinador que cobra, que tem um plano tático de jogo muito bem definido. Hoje a torcida do Bahia escala o time com com facilidade, sabe quem são os atletas que estão no grupo. É um time que tenta e tem conseguido demonstrar o que é que o clube pensa para a torcida, o que a diretoria pensa para a torcida. Hoje o torcedor do Bahia vai para o jogo com confiança, sabendo que o time vai buscar o gol, sabendo que o time vai agredir o adversário, e isso pode ser comprovado nos scouts das partidas: números de finalizações, percentual de posse de bola, de tomada de bola, de divididas ganhas, que é um número que eu gosto sempre de falar. Então o Sérgio conseguiu transmitir para o time de futebol tudo aquilo que a diretoria pensa para o clube. Eu acho que estamos numa sinergia legal, e a gente precisa continuar trabalhando para que isso siga em frente.

Alexandre Faria faz elogios a Marcelo Sant'Ana: "Tem tudo para fazer história" (Foto: Jayme Brandão/ Divulgação/ EC Bahia)

Como é a sua relação como o Marcelo Sant'Ana, um presidente jovem e marinheiro de primeira viagem no futebol?

- Eu costumo dizer que o Marcelo é “gato”, porque é impressionante o conhecimento que ele tem do negócio futebol como business. Ele se preparou, estudou fora do país, como jornalista transitou em diversos clubes. Ele tem uma capacidade muito grande de discutir sobre vários assuntos, seja ele de futebol, financeiro, marketing, estratégia, planejamento. Então eu costumo dizer que é “gato”. Não deve ter só 33, ele deve ter uns 50 (risos). Além disso, ele tem uma coisa que é fundamental para um presidente. O Marcelo é um líder nato. Quando a gente faz as nossas reuniões de diretoria, é impressionante a capacidade que ele tem de liderar. Isso é uma das coisas que as pessoas aprimoram, mas, se a pessoa não nasce com ela, é difícil de aprimorar, e o Marcelo tem esse dom. Além do conteúdo, ele é um líder nato e está sendo uma honra muito grande estar trabalhando com ele. Eu estou aprendendo muito, e acho que ele é um presidente que tem tudo para fazer história no Bahia.

A crença do torcedor vista na partida contra o Sport é um carimbo de que o caminho está certo?

- Com certeza. Até porque aquele jogo contra o Sport foi o primeiro daquela dimensão para aquele público. E não tem a menor dúvida de dizer que a torcida ajudou a ganhar aquele jogo contra o Sport. Acho que o torcedor pode bater no peito e dizer que ajudou o Bahia a ganhar um jogo. Não tenho a menor duvida. Foi um jogo muito nervoso do time. O time foi para o vestiário perdendo, e a torcida apoiando, mesmo com placar adverso. O time voltou outro, e a torcida enlouquecida. Impressionante como empurrou. Fizemos dois a um, tomamos o empate em um acidente, mesmo assim a torcida empurrou, e fizemos o terceiro gol. Desde que eu cheguei, eu sempre disse que o grande desafio era resgatar o orgulho da torcida, porque eu já vim jogar contra o Bahia aqui na Fonte Nova, e é difícil. Normalmente, o time já impõe as dificuldades, mas a torcida do Bahia, quando está junto, ela carrega e carrega mesmo. Então eu acho que, quebrado esse gelo desse primeiro jogo dessa magnitude, eu acho que, nos próximos, os jogadores já vão entrar sem esse peso. E eu tenho certeza de que a torcida do Bahia vai levar o time às conquistas que a gente está buscando.