Postado por - Heitor Montes

Análise: imprevisível torna Ba-Vi divertido, mais jogado do que brigado

É incrível como um lance é capaz de modificar inteiramente o curso de uma partida. A expulsão de Gustavo, aos 19 minutos do primeiro tempo, foi o fator de imprevisibilidade que fez do primeiro tempo do Ba-Vi disputado na noite desta quinta, no Barradão, um dos mais divertidos de que se tem notícia nos últimos tempos. Um Vitória que deixou de ser uma presa fácil para o sistema defensivo do Bahia, colocou o time inteiro no campo de ataque e pressionou até virar o jogo. Um Bahia que não desistiu, usou da inteligência para aproveitar os espaços deixados pelo Vitória e, embora não tenha feito o gol, feriu o rival.

Isso é semifinal de Copa do Nordeste, amigo. Em muito tempo, um jogo mais jogado do que brigado. E, por fim, a sensação de que nada está decidido. O domingo que vai definir quem avança à final do torneio regional promete muitas emoções. O Vitória, que venceu por 2 a 1, tem a vantagem do empate na Fonte Nova.

O jogo não poderia começar melhor para o Bahia. Gol logo aos quatro minutos, e logo do homem que Guto Ferreira escolheu para substituir Juninho? Edson é bom na bola aérea e aproveitou o seu melhor recurso ofensivo para balançar as redes. A verdade é que os primeiros minutos de partida foram do Tricolor. Marcando em bloco médio, a partir do meio-campo, mas avançando os atacantes em momentos estratégicos, a equipe conseguiu sufocar o Vitória, que teve imensa dificuldade para sair trocando passes com zagueiros e volantes.

Com um a menos, Zé Rafael, Allione e Edigar Junio jogaram bem próximos (Foto: Reprodução) Bahia dificultou a saída de bola do Vitória (Foto: Rafael Santana)

Para sair dessa armadilha, Cleiton Xavier passou a recuar e tentar iniciar as jogadas, porém era acompanhado de perto por Renê Junior, que revezava o encaixe para dificultar a vida do meia. A marcação incomodou o time da casa, que errava passes perigosos na tentativa de realizar a transição ofensiva. Um lance foi determinante para que o curso do duelo fosse alterado: Hernane fez falta dura em David, mas foi ele quem levou a pior. Gustavo, seu substituto, entrou pilhado demais e com poucos minutos foi expulso. Discuta-se a justiça da expulsão, talvez tenha sido exagerada, mas fato é que o centroavante não precisava entrar tão forte em Kanu.

Com um a mais, o Vitória tomou as rédeas do duelo. Colocou todos os homens no campo de ataque, incluindo os zagueiros, e empurrou o adversário em direção ao seu próprio gol. Rodou a bola de um lado para o outro, assim como manda o manual, porém encontrava dificuldade para entrar na área adversária, porque o Bahia, apesar da pressão, continuou compactado com duas linhas de quatro bem próximas, e apenas Régis à frente delas.

Vitória coloca todos os jogadores no campo de ataque (Foto: Rafael Santana)Vitória coloca todos os jogadores no campo de ataque (Foto: Rafael Santana)

Só que o Vitória era perigoso. Era perigoso pela caraterística da equipe, que tem na bola aérea ofensiva umas de suas principais virtudes. Ao ter espaços negados pelo rival, alçava bolas na área e levava muito perigo, ora com Cleiton Xavier, ora com André Lima. O gol de empate saiu, no entanto, em uma falha do goleiro Jean, que saiu mal e foi encoberto por Euller.

Imediatamente após o gol, Guto percebeu que não poderia apenas se defender. E foi aí que ele sacou da cartola o seu principal trunfo no clássico. Muitos se assustaram quando o treinador resolveu tirar Régis, porém, com Zé Rafael em campo, ele aproximou os três homens de ataque, todos com qualidade de passe, e tornou o Bahia muito perigoso.

Régis é um meia-atacante. Sua principal força está na velocidade. Com o novo desenho, Guto centralizou Edigar Junio e deixou Allione e Zé por trás dele, mas não abertos pelas pontas. Os três jogaram próximos, formando um triângulo, para que pudessem trocar passes e assim envolver a defesa rubro-negra. A estratégia funcionou, e o Bahia criou boas chances e chegou a ser mais perigoso que o rival.

Com um a menos, Zé Rafael, Allione e Edigar Junio jogaram bem próximos (Foto: Reprodução)Com um a menos, Zé Rafael, Allione e Edigar Junio jogaram bem próximos (Foto: Reprodução)

Assim como o início do primeiro tempo não poderia ser melhor para o Bahia, o do segundo foi perfeito para o Vitória. A equipe de Argel já dava indícios de que iria usar a velocidade. Exemplo: em um lance de lateral no campo de defesa, André Lima e Cleiton Xavier recuaram, trocaram passes curtos, conseguiram evitar a marcação tricolor e tirara a bola da zona de pressão para explorar a velocidade de Euller e David, os dois homens mais adiantados.

O empate saiu aos seis minutos, com André Lima aproveitando confusão na área gerada após cobrança de escanteio, comprovando a força ofensiva da equipe de Argel. O gol abalou o Bahia, ao passo que deu um fôlego extra ao Vitória. Aproveitando-se de enormes espaços que não apareceram na primeira etapa, o time da casa começou a descer em velocidade e, àquela altura, ainda com muita água por rolar, parecia que alargaria a vantagem sobre o rival.

Ledo engano. Assim como no primeiro Ba-Vi, o Bahia mostrou força mesmo com um a menos. Assim como no primeiro Ba-Vi, o Vitória pareceu se assustar com a possibilidade de levar um gol do rival e perder a vantagem. Isso aconteceu exatamente aos 15 minutos, quando Zé Rafael tabelou com Edigar, entrou na área e chutou para fora. Esse lance assustou o Leão, que percebeu que o adversário estava vivo e podia ser perigoso.

Foi a partir daí que o Vitória parou de se lançar ao ataque e decidiu jogar com cautela. Tanto é que a única chance de perigo dos após esse lance foi aos 23. E só.

Em um clássico altamente favorável, em casa, com torcida única e com um a mais desde a primeira etapa, o Vitória novamente entrega muito pouco. Cauteloso em não levar o gol de empate, parou de agredir o rival, que tinha muitos espaços a oferecer. Os últimos minutos de jogo, logo que a partida reiniciou após o apagão, foram de predomínio tricolor, que apostou na bola parada para empatar a partida.

Para o torcedor tricolor, fica o alento de um time que, por duas vezes com um a menos, continua lutando. E de um treinador que leu bem o jogo para se manter vivo na luta por uma vaga na final.

Fonte: Globo Esporte