Postado por - Newton Duarte

'Ao apagar da luzes' Messi salva a Argentina; Raio-X e o Gol

Bastou Messi: com golaço do craque no fim, Argentina bate o Irã e avança

Chutaço nos acréscimos garante 1 a 0 diante de rival heroico e apaga atuação frustrante do quadrado mágico. Vagas nas oitavas está garantida

Quem tem Messi tem tudo. Quem tem Messi tem que acreditar até o fim. Quem tem Messi tem uma vitória improvável, injusta e mágica. Esqueçam os 90 minutos anteriores. De nada valerá na história das Copas o fato de o Irã ter sido um adversário heroico, com uma defesa quase intransponível e ser merecedor de aplausos. O que vai ser lembrado da tarde de sábado, no Mineirão, é que a Argentina tinha Messi. E por isso, somente por isso, venceu. Já nos acréscimos, o craque recebeu com raro espaço, puxou para a canhota e chutou com estilo no ângulo: 1 a 0, em partida válida pela segunda rodada do Grupo F do Mundial.

Pouco? Não diga isso para os muitos argentinos que invadiram o Mineirão, provocaram aos montes os brasileiros dizendo que Maradona é melhor que Pelé e terminaram o jogo profetizando: "Pelas mãos de Leo Messi uma volta vamos dar". Para eles, não importa se o quadrado mágico falhou, se o Irã assustou e muito menos se Sérgio Romero, com quatro boas intervenções, vinha sendo o melhor hermano em campo. A realidade é que a Argentina chegou aos seis pontos e está classificada para as oitavas de final.

A partida teve público de 57.698 torcedores, recorde desde a reabertura do Mineirão. Maradona, que reclamou de ter sido barrado no Maracanã, na vitória argentina sobre a Bósnia, esteve em um setor vip.

Ainda neste sábado, Bósnia e Nigéria se enfrentam em Cuiabá. Em caso de empate, o time de Sabella já garante o primeiro lugar. O próximo adversário será a seleção africana, na quarta-feira, às 13h (de Brasília), no Beira-Rio, em Porto Alegre. Aos iranianos resta se recuperar da pancada no minuto final e ainda buscar a vaga na próxima fase na mesma quarta, diante dos bósnios, na Fonte Nova.

Sempre Messi: craque decide para a Argentina em bonito lance no fim do jogo

Bom, forte e barato: defesa do Irã segura quadrado mágico

Um muro vermelho, barato e intransponível parou a Argentina nos primeiros 45 minutos no Mineirão. Diante de um quarteto argentino avaliado em quase R$ 800 milhões, os defensores iranianos fizeram valer cada centavo dos modestos R$ 10 milhões que valem e não deram moleza para Messi, Di María, Agüero e Higuaín. Tudo isso com um auxílio voluntarioso de todos os companheiros, que, incansáveis, seguiam à risca as ordens de Carlos Queiroz e protegiam a baliza de Haghighi.

Desde o minuto inicial, o Irã em momento algum fez questão de disfarçar: estava em campo muito mais para evitar sofrer gols do que para fazê-los. No primeiro tempo, a Argentina teve 73% de posse de bola, finalizou 11 vezes, mas, na verdade, pouco assustou. Com muita força física, os iranianos marcavam atrás da linha da bola e quase sempre dobravam na hora do combate. Os hermanos até tinham espaço antes da intermediária ofensiva. A partir dali, porém, o bote era sempre no cangote e raros foram os momentos em que Di María e Messi receberam com espaço para criar.

Na primeira chegada da Argentina, o Irã deu mostra do quão difícil seria ter liberdade para concluir: Agüero recebeu e logo se viu cercado por oito adversários dentro da área. E esta foi a característica da etapa inicial. Os melhores momentos dos argentinos aconteceram quando apertaram a marcação e aproveitaram a saída de bola deficitária do rival. Agüero e Di María ajudaram muito no combate, e o Irã apelava para chutões ou errava passes.

Desta maneira, Di María e Agüero conseguiram fazer uma boa triangulação com Higuaín na área, que terminou com chute de Kun para boa defesa de Haghighi. O quarteto se procurava, buscava alternativas, mas o Irã quase sempre levava a melhor na força física. Higuaín tentava, sem sucesso, a sorte fora da área e matou alguns lances. Messi, assim como aconteceu diante da Bósnia, teve participação pouco inspirada. Aberto pela direita, até deu dois bons chutes - um em cobrança de falta. Pouco para o que dele se espera.

Com os espaços reduzidos para troca de passes, as melhores oportunidades surgiram pelo alto. Rojo, Garay e Fede Fernández conseguiram boas finalizações de cabeça, mas erraram o alvo por pouco. Da mesma maneira, o Irã conseguiu sua melhor chance com Hosseini após cobrança de escanteio em um dos últimos lances de uma etapa em que a força prevaleceu sobre a técnica.

Messi é cercado por iranianos: marcação foi eficiente na maior parte do tempo

Irã sufoca, Romero salva, e Messi decide

Na volta para o segundo tempo, a Argentina continuou igual: numa mistura de paciência e apatia, se rendia ao forte poder de marcação do rival e não encontrava espaços. Já o Irã, não. O Irã mudou. Mudou do meio para frente. Diante de um adversário surpreendentemente inofensivo, passou a se aventurar nos contragolpes e levou perigo. Chamou também a torcida brasileira para si.

Sempre pelo alto, obrigou Romero a salvar os argentinos em duas oportunidades. Primeiro, Ghoochannejhad concluiu jogada - que começou com lençol de Shojaei em Di María - com um bonito peixinho. O goleiro fez a defesa em dois tempos. Depois, Dejagah ganhou disputa com Zabaleta e cabeceou firme. Com a ponta dos dedos, Chiquito evitou o gol. Tensão nítida na face dos argentinos, e um Mineirão que pulsava aos gritos de "Irã! Irã!".

Minutos antes, os próprios Dejagah e Zabaleta protagonizaram um lance polêmico. Muito veloz, o iraniano aproveitou descuido do lateral e apertou a marcação dentro da área. O argentino até resvalou na bola, mas acertou o rival. Pênalti? O sérvio Milorad Mazic mandou o lance seguir. Diante da pressão do Irã e a falta de reação de sua equipe, os argentinos voltaram a cantar alto em Belo Horizonte, mas nada acontecia. No máximo, uma cobrança de falta de Messi na rede pelo lado de fora, aos 30.

Com a zebra galopando cada vez mais forte, Sabella resolveu agir: mudou as peças, manteve o esquema. Palacio e Lavezzi entraram nas vagas de Higuaín e Agüero. Sangue novo e 15 minutos de pressão. Com a mudança, o Irã automaticamente voltou a recuar e manteve a postura do primeiro tempo: todo mundo atrás da linha da bola. Muitas vezes, oito dentro da área.

Acelerado, como de costume, Lavezzi colocou correria no lado direito e chamou a Argentina para o campo de ataque. O Irã vinha se segurando bem e ainda desperdiçou outro bom contra-ataque. Sem espaço, a Argentina levantava bolas na área. Em uma delas, Palacio cabeceou bem para boa defesa de Haghighi. O desespero era evidente. Até que a bola chegou aos pés de Messi, com um espaço que até então não tinham dado a ele. E ele decidiu.

Na linha lateral, Lavezzi tocou para o craque. Ele dominou, levantou a cabeça, deu quatro ajeitadinhas com a perna esquerda e...chutaço! Colocado, consciente, na gaveta. O Mineirão, que já ouvia gritos de Irã, explodiu. E começou a reverência: "Meeeeeeeeeessi! Meeeeeeessi!". A festa era argentina, e durou bastante, mesmo após o apito final.


Argentina 1 x 0 Irã

Copa do Mundo – Grupo F


Local:Estádio Mineirão, em Belo Horizonte (MG)

Data:21 de junho de 2014, sábado

Horário:13h (de Brasília)

Árbitro:Milorad Mazic (Sérvia)

Assistentes:Milovan Ristic e Dalibor Djurdjevic (ambos da Sérvia)

Público:57.698 torcedores

Cartões amarelos:Irã:Nekounam, Shojaei

Gol: Argentina:Messi 45’ 2º T

Argentina:Romero; Zabaleta, Federico Fernández, Garay e Rojo; Mascherano, Gago e Di María (Biglia); Higuaín (Palacio), Messi e Agüero (Lavezzi)

Técnico:Alessandro Sabella

Irã:Haghighi; Montazeri, Hosseini, Sadeghi e Pooladi; Hajisafi (Haghighi), Nekounam, Shojaei (Hendari), Timotian, e Dejagah (Jahan Bakhsh); Ghoochannejad

Técnico:Carlos Queiroz

O CARA

Sergio Romero

Messi marcou o gol da vitória lá na frente nos acréscimos, mas antes disso, quem segurou a onda na defesa foi o goleiro Sergio Romero. Ele fez ao menos três boas defesas, uma delas dificílima, quando o jogo estava 0 a 0 – e um gol poderia complicar tudo.

O GOL

46’/2T: GOL DA ARGENTINA!

Messi recebeu a bola pelo lado direito, puxou para a perna esquerda e mandou um chute no canto alto do goleiro Haghighi, que nada pode fazer para evitar. O gol da vitória, sofrido.

A TÁTICA

ARGENTINA X IRÃ

Argentina x Irã

O técnico Alejandro Sabella atendeu ao que muitos dizem ter sido o pedido de Lionel Messi para voltar o time ao esquema 4-3-3, com Higuaín de volta, assim como Gago. Na teoria, um time mais forte ofensivamente, mas na prática não adiantou muito, porque os argentinos sofreram para vencer a defesa iraniana, bem organizada e muito aplicada. No ataque, o Irã conseguiu criar boas jogadas com Dejagah, um dos melhores da partida, que correu muito, assim como Reza Ghoochannejhad, que deu muito trabalho à defesa argentina como o atacante mais centralizado do time asiático.

A ESTATÍSTICA

7136

Número de metros que Messi correu durante o jogo. Entre os que jogaram o tempo todo, só percorreu mais metros que Sergio Romero (2802). Mesmo assim, foi preciso nos últimos minutos e acabou decidindo o jogo.

Atuações: defesa iraniana vai muito bem, mas Messi decide com golaço

Volante Teymourian se destaca, assim como o companheiro de posição Shojaei; quarteto mágico da Argentina vai mal, e camisa 10 define já nos acréscimos

Header Argentina (Foto: Infoesporte)

ROMERO - GOLEIRO

Salvou a Argentina duas vezes quando a bola foi no gol. Mostrou elasticidade na cabeçada de Dejagah.

Nota: 6,5

ZABALETA - LATERAL-DIREITO

Errou um domínio logo no início do jogo e avançou pouco para o ataque. Foi pelo seu lado que o Irã se criou. Perdeu a disputa na cabeçada para Dejagah e protagonizou lance polêmico em disputa de bola na área da Argentina.

Nota: 5,0

GARAY - ZAGUEIRO

Um cabeçada com perigo e muita insegurança quando defendeu o gol argentino. Deu canelada em cruzamento simples para trás e perdeu contra os iranianos a maioria das jogadas aéreas.

Nota: 4,5

FERNÁNDEZ - ZAGUEIRO

Ameaçou mais na área adversária do que defendeu a sua defesa. Também se enrolou com o jogo aéreo do Irã.

Nota: 5,0

ROJO - LATERAL-ESQUERDO

Marcou bem e, quando avançou, conseguiu bons cruzamentos. Um deles foi perfeito para Aguero, que furou e desperdiçou a chance.

Nota: 6,5

GAGO - VOLANTE

Errou alguns passes no início, mas acertou belo lançamento para Higuaín, que não conseguiu marcar.

Nota: 5,5

MASCHERANO - VOLANTE

Pouco efetivo na marcação e muitos passes para o lado. Foi nas suas costas que o atacante Ghoochannejad se deslocou e quase marcou para o Irã.

Nota: 5,0

DI MARÍA - MEIA

Tentou de todos jeitos pela esquerda, driblou, chutou uma bola para fora, mas não encontrou espaços.

Nota: 5,0

BIGLIA - VOLANTE

Entrou depois do gol de Messi.

Sem nota

MESSI - ATACANTE

Até fazer um golaço e decidir o jogo, havia feito apenas uma jogada ao seu estilo, quando arrancou, mas falhou no seu chute característico. Não fez uma boa partida, mas deu a vitória argentina com um chute perfeito de fora da área.

Nota: 7,0

AGÜERO - ATACANTE

Deu um lindo chute no primeiro tempo, mas também uma furada em cruzamento perfeito de Rojo. Nota: 5,0

LAVEZZI – ATACANTE

Logo que entrou, conseguiu passar por dois pela direita, mas não cruzou bem.

Nota: 5,0

HIGUAÍN – ATACANTE

De bom, apenas uma ajeitada dentro da área para chute de Agüero. Perdeu uma boa chance nos pés do goleiro iraniano e errou muitos passes.

Nota: 4,5

PALACIO – ATACANTE

Com pouco tempo para jogar, cabeceou uma bola com perigo.

Nota: 6,0

Header Ira (Foto: Infoesporte)

HAGHIGHI - GOLEIRO

Fez duas boas defesa, a primeira quando saiu nos pés de Higuaín e a segunda em chute de dentro da área de Aguero. Mas poderia ter saído do gol em duas cabeçadas da Argentina no primeiro tempo. Não alcançou o chute de Messi.

Nota: 6,5

MONTAZERI - LATERAL-DIREITO

Marcou bem Aguero e foi quem tentou sair um pouco jogando com mais calma na defesa iraniana.

Nota: 6,0

HOSSEINI - ZAGUEIRO

A arma mais perigosa do time no primeiro tempo. Teve duas chances de cabeça. Na primeira somente raspou a bola; na segunda, por pouco, não abriu o placar.

Nota: 6,5

SADEGHI - ZAGUEIRO

Foi quem mais desarmou na defesa iraniana. Uma delas, com estilo, foi simplesmente contra Messi. O camisa 10 tentou cortá-lo dentro da área, mas o número 5 do Irã conseguiu tirar a bola do craque argentina de letra.

Nota: 7,0

POOLADI - LATERAL-ESQUERDO

Preocupado com o apoio de Zabaleta, praticamente não saiu do campo de defesa. Deu espaço para uma enfiada de Gago nas suas costas, que Higuaín não converteu em gol. No segundo tempo, mostrou categoria ao se livrar de Messi e sair jogando.

Nota: 6,0

NEKOUNAM - VOLANTE

Outro que ficou preso na marcação. Combateu bastante e interceptou pelo menos duas tentativas da Argentina, uma delas na frente da área, em chute de Di María.

Nota: 6,5

SHOJAEI - VOLANTE

Fechou todos espaços de Di María em boa parte do jogo. No fim da partida, levou amarelo por derrubá-lo próximo da área. Fez uma linda jogada, quando driblou dois e puxou contra-ataque com muita categoria.

Nota: 7,0

HEYDARI - MEIA

Entrou no fim para reforçar a defesa do Irã.

Nota: 6,0

TEYMOURIAN - VOLANTE

O melhor jogador do Irã. Marcou muito, tirou a bola de Aguero dentro da área logo no início do jogo e organizou o time com bom toque de bola.

Nota: 7,5

HAJSAFI - MEIA

Deu um chute perigoso no primeiro tempo, que passou por cima do gol. Recuou muito para fechar espaços e perdeu muitas bolas, precipitando-se e devolvendo a posse de bola para os argentinos.

Nota: 5,5

REZA HAGHIGHI - VOLANTE

Entrou no fim.

Sem nota

DEJAGAH - MEIA

É o homem da bola parada do Irã. Quase marcou um gol em disputa de bola contra Zabaleta. Mesmo saindo atrás, ele aproveitou o lançamento e só não marcou porque Romero fez linda defesa.

Nota: 6,5

JAHANBAKHSH - ATACANTE

Fez uma linda jogada na primeira bola que pegou, quando driblou um marcador e deu belo passe para o camisa 16, que perdeu o gol.

Nota: 6,0

GHOOCHANNEJHAD - ATACANTE

Isolado na frente, correu como pôde parar marcar a saída de bola e dar opção nos contra-ataques. Em lindo lance do Irã, deu lançamento perfeito que quase derrubou a Argentina. Mas no fim, ele quem perdeu a melhor chance do Irã.

Nota: 6,0


Fonte: Cahê Mota/GE.COM - Felipe Lobo/Trivela  

Foto: Getty Images e EFE