Postado por - Newton Duarte

Após BaxVice, rubro-negro é acolhido no Fazendão, vira sócio e fica dividido

Dia mágico: após Ba-Vi, rubro-negro é acolhido no Fazendão e fica dividido

Torcedor do Vitória até o último domingo, Lucas recebe carteira de sócio-mirim do Bahia e diz que tem medo da reação de torcedores organizados rubro-negros

Lucas conversou com os jogadores do Bahia nesta terça-feira, no Fazendão (Foto: Divulgação/EC Bahia)

O futebol tem a capacidade de criar histórias incríveis. E a do pequeno Lucas, de 14 anos, é um desses contos da bola. No último domingo, logo após o Ba-Vi realizado no Barradão, o menino que estava vestido com a camisa do Vitória se separou de dois amigos para pedir o boné do presidente do Bahia, Marcelo Sant’ana, e acabou dentro do ônibus tricolor. Dentro do veículo, ganhou o carinho dos jogadores e trocou a camisa rubro-negra com Titi por uma azul, vermelha e branca. Acabou convidado para assistir a um treino no Fazendão, conversou com todo o elenco e viveu, nesta terça-feira, um dia que mais parecia ser um sonho.

No centro de treinamento tricolor, conversou novamente com os jogadores, ganhou a promessa de fazer um teste para as categorias de base do clube, foi presentado com uma nova camisa e a carteira de sócio do Bahia. O carinho recebido fez Lucas repensar o coração vermelho e preto. O garoto afirma que já não é torcedor do Vitória. Mas também não se diz Bahia. Está dividido e apreensivo sobre o que a repercussão da história pode causar. Conta que no bairro onde mora há vários membros da principal torcida organizada do Rubro-Negro e que evita sair de casa desde o Ba-Vi para não se envolver em confusão.

Lucas diz que joga como meia e que vai usar a camisa oito do Bahia (Foto: Thiago Pereira)

O zagueiro Titi lamentou que o pequeno Lucas não possa escolher torcer pelo Bahia sem medo de represálias. Para o defensor tricolor, a rivalidade entre os dois clubes não pode sair de campo e passar para o ódio entre torcedores.

- Espero que as coisas que aconteceram com o Lucas se tornem mais rotineiras. Que famílias possam voltar a frequentar o e estádio. Que a guerra fique disputada no campo. Que fora seja festa, como as que eram realizadas nos estádios. Muito bonito o que o pessoal fez no Rio Grande do Sul. Queria ver isso aqui. Estou há cinco anos aqui, amo essa terra e queria ver isso aqui. Levar minha família ao estádio, que todos pudessem levar a família. Que os jovens pudessem ir ao estádio. Está faltando isso no futebol. A violência está grande, e temos que combater isso. Com pequenos gestos como esse, começamos a ver outro caminho – disse o zagueiro.

Lucas conta que a família é dividida entre Bahia e Vitória. Dois irmãos são tricolores e outros dois são rubro-negros. Para o lado azul, vermelho e branco, o vídeo em que o garoto recebe a camisa de Titi dentro do ônibus, logo após o Ba-Vi, foi assistido com festa.

- É natural no futebol. São famílias que torcem para uns, outros que torcem para outro clube. Dentro da casa tem brincadeira sadia. A família do Lucas não é diferente das demais. Claro que a rivalidade sempre vai existir. Que haja rivalidade, mas que não leve isso para o lado da violência. Deixa isso fora. O futebol é tão legal. E as brigas são tão pequenas diante da grandeza desse esporte – comentou Titi.

O zagueiro tricolor tem funcionado como um conselheiro para Lucas. Além das camisas, Titi tenta passar lições de vida para o garoto que sonha em se tornar jogador de futebol.

O garoto assistiu ao treino do Bahia no Fazendão (Foto: Thiago Pereira)

- Paralelo a tudo, tem que vir a educação. Ainda mais para um menino. Foi a primeira pergunta que fiz. Quando iriam começar as aulas. Isso é importante. Educação, respeitar os pais, respeitar o próximo. Aí começa a formar não só o atleta, mas também o cidadão – pontuou o zagueiro.

O garoto diz que conhece vários jogadores do Vitória e que espera que o fato de estar dividido não atrapalhe as amizades. Lucas conta que joga como meia e já atuou com as cores do Rubro-Negro. Ele foi jogador de uma escolinha do clube e chegou a viajar para defender o time. Ainda tímido com tantas perguntas e fotos, ele arrancou risos espontâneos ao receber a nova camisa tricolor nesta terça-feira.

- Não repara, eu não estou em forma. Estou parecendo o Walter (atacante do Fluminense]. Me deram a oito. É com essa que vou jogar. Pode esperar – brincou o garoto, que foi convidado a entrar em campo com os jogadores na quinta-feira, na Arena Fonte Nova, na partida contra o Globo-RN, pela Copa do Nordeste.