Artilheiro do Bahia, Kieza diz estar preparado para as semifinais do Baiano e do Nordestão
Camisa 9 concede entrevista ao Correio e destaca o bom ambiente construído entre diretoria e jogadores
Kieza prefe não estipular uma meta de gols para a atual temporada (Foto: Felipe Oliveira/Divulgação)
Ele só tem feito cara feia para os zagueiros adversários. No Fazendão, Kieza anda sorrindo à toa. Aos 28 anos, o atacante reencontrou no Bahia o estilo de jogo de seu início de carreira. Com desempenho bem diferente do apresentado no ano passado, Kieza é o artilheiro e garçom do time na temporada, com 10 gols marcados e quatro assistências. Para escrever o nome na história azul, vermelha e branca, vai buscar o caminho do gol fora de casa em duas semifinais. Amanhã, ele estará em campo contra a Juazeirense, no estádio Adauto Moraes, em Juazeiro. Na quarta-feira, vai reencontrar um velho rival, no Nordestão. O “caçador de rubro-negro” vai voltar à Ilha do Retiro. Em 2011, ele queimou um boné de uma torcida organizada do Sport em cima de um trio elétrico quando comemorava o acesso do Náutico à Série A. Em entrevista ao CORREIO, Kieza relembra essa polêmica, fala sobre o ambiente no Fazendão e a negociação para renovar contrato com o Bahia. Emprestado pelo Shanghai Shenxin até o próximo mês, ele quer ficar no Fazendão até pelo menos o final de 2016.
O que mais te preocupa na semifinal de amanhã contra a Juazeirense?
O que falam é o campo, que é complicado, que é meio irregular. É uma coisa que influencia muito no futebol. Podemos dominar a bola errada ou estar para fazer um gol, bater na canela e sair. É complicado, mas temos que passar por cima disso tudo. Como hoje temos um grupo fechado, um grupo unido, para ganhar da gente vai ter que correr muito mais que a gente, vai ter que se esforçar muito mais. Estamos tranquilos e unidos para fazer um grande jogo.
Existe alguma tática para ‘driblar’ o gramado ruim?
Temos que estar concentrados quando a bola vier, sabendo dos efeitos e das dificuldades que vamos encontrar. Temos que nos concentrar mais na hora de dominar, de dar um passe, de finalizar, para não errar muito, pois o gramado vai dificultar bastante o nosso futebol.
Depois que o Vitória foi eliminado, o título ficou mais perto?
De maneira nenhuma. Aí que complicou, porque as equipes menores vão tentar ganhar de tudo quanto é jeito. O Colo Colo tá aí muito bem, tirou o Vitória. A gente tem que estar com a atenção elevada, porque vimos o que aconteceu com o rival. Tá todo mundo esperando que o Bahia seja campeão. Se a gente continuar jogando como vem jogando, pode sim chegar ao título do campeonato.
E sobre a semifinal da Copa do Nordeste, você gostou de pegar o Sport?
Acho que é um adversário forte, uma grande equipe, um grande clube. A gente vai encontrar dificuldade, mas é sempre bom jogar contra o Sport. Tenho aquela rivalidade desde quando eu jogava no Náutico. É uma rivalidade boa, bacana, sadia. Espero fazer um grande jogo. A gente sabe que vai encontrar algumas dificuldades, que o torcedor vai pegar no pé, xingar, falar, mas vamos procurar fazer o nosso trabalho e espero que a gente possa ser feliz. Acho que o torcedor do Náutico também vai estar lá, ajudando e empurrando a gente, e isso é um fato bacana pra gente.
Você acha que a torcida do Náutico vai para Ilha do Retiro?
Espero que sim. Espero que o torcedor do Náutico possa ir nos ajudar. Eu tenho um carinho enorme por eles e eles por mim. Sempre falam comigo nas minhas redes sociais pedindo para eu voltar. Quem não for vai estar torcendo pra gente.
Se o Bahia avançar para a final, você vai queimar o boné do Sport de novo?
Não. Isso foi um fato que eu me arrependo, porque criou uma coisa chata, uma coisa ruim para mim. Ficou marcado. Todo mundo vê e fala. Não pretendo fazer de novo. Já pedi desculpas. A gente vai só procurar fazer nosso trabalho e espero que as coisas deem certo.
O que é fundamental para o tricolor conseguir chegar à final do Nordestão?
Se nossa equipe continuar como vem jogando... Para ganhar da nossa equipe hoje tem que suar muito. A gente está se doando bastante. Estamos conseguindo fazer grandes jogos, principalmente em casa, e a gente tem que procurar não vacilar nesse primeiro jogo lá, não perder. Temos que ter atenção redobrada nesse jogo, pois será muito difícil, contra uma equipe muito boa e a gente não pode vacilar em momento nenhum. Se a gente perder o primeiro jogo, para tirar a vantagem no segundo é muito mais complicado.
Você tem uma meta de gols nesta temporada?
Não tracei uma meta. Às vezes, a gente fala que pretende fazer tantos gols por ano e as pessoas começam a misturar, a cobrar. Deixo as coisas acontecerem naturalmente. Prefiro não traçar metas e procurar fazer um trabalho bom durante o ano todo.
Este ano você está rendendo mais no Bahia do que no ano passado. O que mudou?
No ano passado eu cheguei já em cima da competição e não tive tempo para me preparar. Eu fiquei um ano e meio na China e lá a preparação é bem diferente. A parte física é totalmente diferente da do Brasil e eu perdi muito isso. Cheguei e não tive tempo de me recuperar, já fui jogando, e isso me prejudicou muito. Este ano, com a chegada do Léo (Gamalho), eu tô jogando mais aberto, que é uma posição que eu também gosto de jogar, de vir com a bola, de conseguir fazer as jogadas. O Léo é um jogador importantíssimo. Ele consegue prender os zagueiros, segura a bola, faz tabelas, se posiciona muito bem e isso é importantíssimo para a gente conseguir fazer jogadas na linha de fundo. Ele está me ajudando bastante e me fazendo crescer. O meu posicionamento este ano está diferente.
O seu posicionamento hoje é mais parecido com o do início da sua carreira?
O Sérgio (Soares) conseguiu recuperar essa parte minha. Antes eu jogava como o Léo vem jogando, centralizado. Agora eu venho pelas laterais, pelos dois lados. Isso mudou muito o meu futebol e conseguiu recuperar o jogador que eu era quando comecei a jogar. Durante a minha carreira, fui mudando de posição e virando um centroavante. Hoje em dia tem sempre um time que joga com um centroavante enfiado entre os dois zagueiros. Depois que eu passei pelo Fluminense, passei a fazer esse ‘pivozão’ e mudou muito as minhas características, mudou muito o meu futebol, meu estilo de jogo. Este ano estou voltando ao Kieza que começou. Isso está me deixando muito feliz. Estou entrando para atuar feliz e isso influencia muito dentro de campo.
O que acha do apelido “trio KGB”?
Isso é mais para o torcedor mesmo, mas ficou uma coisa bacana, pegou e tá todo mundo aí se amarrando, brincando. A gente ri, mas deixa isso para o torcedor fora de campo. Torcemos um pelo outro e estamos felizes. Este ano tem uma coisa muito bacana entre eu, o Léo (Gamalho) e o Maxi. Quando eu faço gol, a gente sempre conversa dentro do jogo mesmo ‘eu já fiz o meu, agora você (Léo Gamalho) vai fazer o seu e o Maxi o dele’. A gente chegou numa situação que o grupo está tão fechado, tão unido, que a gente fica torcendo para o outro fazer gol.
Vocês três conversam muito fora das quatro linhas?
Sim. Praticamente todo treino. Sobre posicionamento, como fazer as jogadas, sobre como marcar, porque o Sérgio (Soares) exige muita marcação ali na frente, tanto é que a nossa equipe hoje consegue marcar o adversário lá na frente. A gente sempre conversa sobre como fazer essas coisas direito.
O técnico Sérgio Soares é durão mesmo?
Sérgio é um cara exigente, que cobra, sempre não tá bom, sempre tem que procurar estar acima da média. Ele vai cobrar sempre, então a gente já está se acostumado com ele, com as duras que ele dá, com as coisas que ele fala. Às vezes, a gente fica um pouco chateado com essa coisa dele gritar, de brigar, alguns jogadores ficam meio assim, mas é uma coisa que a gente tem que se acostumar, é o jeito dele, e acho que isso está ajudando nossa equipe. Só de pensar em errar e saber que ele vai cobrar, a gente já fica mais atento, mais consciente do que vai fazer. A gente tá correndo muito, tanto que depois dos jogos a gente acaba morto, olha um para a cara do outro e vê que não tá conseguindo nem respirar. A gente fica cansado, mas é correspondido.
Qual foi a mudança do elenco do ano passado para 2015?
A união do grupo é fundamental. A gente vem criando uma identidade muito boa, resolve tudo junto, sempre está brincando. A alegria voltou e a gente sempre está unido em tudo que a gente vai fazer. Quando a gente faz bem feito fora de campo, dentro de campo as coisas fluem. O Bahia está tendo uma família. No futebol, hoje em dia, a gente passa muito mais tempo aqui do que com a família e temos que procurar fazer as coisas de uma maneira sadia. E também tem o lado da diretoria, que este ano tá junto com a gente em todos os momentos, dando força. Isso no futebol é importantíssimo. Este ano, as coisas estão se encaixando melhor. O time está melhor, a gente está mais unido, o time está mais fechado e isso influencia bastante dentro de campo também.
Em qual situação está a renovação do seu contrato com o Bahia?
Pela minha parte e a do Bahia está tudo resolvido. A gente já sentou, conversou, está acertado, mas falta a parte do clube chinês, que o Bahia tem que resolver com eles. Já estão conversando e eu espero que isso se resolva logo para a gente ficar tranquilo e renovar o contrato.
Seu contrato com o Shanghai Shenxin é ate quando?
Tem mais dois anos: este e o outro ano.
E o novo contrato com o Bahia será até quando?
É isso que eles estão vendo. Essa questão que está um pouco complicada, se fica até o final do ano ou por mais um ano. A gente está vendo isso, até pra ter uma tranquilidade.
Já recebeu proposta de outros clubes?
A gente recebeu propostas, mas meu empresário e eu dissemos que não iríamos sentar para conversar com ninguém, só com o Bahia, por respeito. E foi o que a gente fez. Não poderíamos dar ouvidos para outra equipe.