O site da revista Época fez a leitura do balanço financeiro do Bahia e elogiou o fato do clube ter cumprido com o seu planejamento, conseguindo atingir as metas que tinha estabelecido: campeão da Copa do Nordeste de 2017, classificado à Copa Sul-Americana de 2018, praticamente classificado às quartas de final da Copa do Brasil, aumentou o número de associados (mais de 16 mil, com quase 13 mil adimplentes), entre outras. Mesmo com limitações por conta de dívidas de gestões passadas e pelo mercado menor do futebol baiano, o Bahia é uma equipe que dá lições sobre administração de um time.
O time, administrado pelo novo presidente Guilherme Bellintani, tem uma situação financeira melhor que a de 2017. A equipe fatura mais por ter se mantido na primeira divisão, ainda mais por ter ficado no 12º lugar. O efeito mais óbvio disso são os direitos de transmissão. A equipe assinou um acordo com a TV Globo em 2011 no qual só recebe verba integral se estiver na Série A. Sua receita com a televisão aumentou, assim como todas as outras. Seus patrocínios subiram para R$ 13 milhões anuais, a equipe faturou R$ 16 milhões com bilheteria e mais R$ 6,5 milhões com sócio torcedor. Todas as formas de faturamento foram beneficiadas com o retorno da equipe à primeira divisão e da gestão que aproveitou o acesso para fazê-las crescer.
Porém, quanto mais dinheiro entra por um lado, mais dinheiro pode sair de outro. O Bahia elevou o seu gasto com folha salarial (indicador mais relacionado com a performance). Em 2017, o Tricolor gastou R$ 67 milhões com salários, 13ª maior folha salarial da Série A. A maioria esmagadores das equipes que sobem da segunda divisão têm dificuldades para se manter na Série A porque não tem condições financeiras para investir em atletas de elite. Mesmo investindo menos que equipes como Flamengo e Palmeiras, o Tricolor já subiu superando equipes como Chapecoense, Coritiba, Ponte Preta e o rival Vitória. O Tricolor precisava sobressair entre essas equipes para permanecer na primeira divisão.
O que faz com que a situação financeira do Bahia não seja a ideal são os fantasmas das administrações passadas, que assombram Guilherme Bellintani, assim como assombravam o ex-presidente Marcelo Sant'Ana. O Tricolor deve hoje R$ 119 milhões ao governo em impostos não pagos. Esta dívida foi equacionada com a entrada no Profut, programa de renegociação de débitos com o governo que parcelou os pagamentos por até 20 anos. Porém, a equipe ainda deve R$ 55 milhões de dívidas trabalhistas, R$ 8 milhões com credores diversos e R$ 8 milhões para pagar de empréstimos contraídos no ano passado. Apesar destas cifras serem menores que as de várias equipes do futebol nacional, elas fazem com que o clube repasse parte das receitas obtidas não para salários ou reforços, mas sim para quitar dívidas.
O Bahia agora precisa de estabilidade para saber até que ponto chegará com estas administrações. Campeão baiano e semifinalista da Copa do Nordeste, o Tricolor precisa melhorar após o mau início no Campeonato Brasileiro para consolidar seu domínio regional. O plano de recuperação formado por Marcelo Sant'Ana e que vem se consolidando com Guilherme Bellintani seria forçado a ser parado para revisão caso a equipe seja rebaixada. Uma queda à Série B faria com que, pela perda de receitas, a gestão dê passos para trás. Por causa disso, o clube necessita achar novas formas responsáveis de financiamento para facilitar o fortalecimento da equipe profissional, como novas formas de engajamento com o torcedor – coisa que o marketing já faz quando, por exemplo, manda mensagem ao sócio antes de todo mundo sobre os reforços contratados. Pode também ser através de investidas no mercado financeiro, território ainda inexplorado pelos clubes. Se inovar pelo lado das receitas e primar pela eficiência no lado das despesas, o Bahia tem tudo para continuar a cumprir metas.
Texto adaptado do blog Época Esporte Clube, de Rodrigo Campelo