Postado por - Newton Duarte

As polêmicas das transmissões de Futebol em TVs Estatais

Transmissões de campeonatos por tevês estatais somam polêmicas em outros países

Candidato à presidência da FPF, Ricardo Gomyde propôs ao governador Beto Richa transmitir a segunda e terceira divisões do Paranaense. Experiência que no exterior causou problemas, foi boa em alguns estados brasileiros

Marcos Brindicci/Reuters

Uma das propostas do candidato da oposição à presidência da Federação Paranaense de Futebol (FPF), Ricardo Gomyde, é transmitir pela Paraná Educativa, do governo do estado, a segunda e a terceira divisões do Campeonato Paranaense, além de campeonatos amadores. A ideia foi levada ao governador Beto Richa no encontro que Gomyde e os presidentes de Atlético, Coritiba e Paraná tiveram essa semana.

A ideia de uma rede estatal transmitir partidas de futebol é polêmica. Na Argentina, a transmissão do campeonato nacional virou a principal manobra de propaganda do governo da presidente Cristina Kirchner. Em Portugal, o próprio governo se postou contra à decisão do conselho da tevê estatal em adquirir os direitos de transmissão da Liga dos Campeões. No Brasil, duas experiências deram certo. No Pará, a participação da TV Cultura, do governo estadual, foi a única maneira de os torcedores locais poderem acompanhar o Campeonato Paraense, já que nenhuma outra rede se interessou na transmissão. Já a TV Brasil, do governo federal, alcançou excelentes índices de audiência passando a Série C do Brasileirão, permitindo que as emissoras estaduais fizessem a transmissão de jogos locais.

Estatização doCampeonato Argentino

Governo de Cristina Kirchner estatizou a transmissão do Campeonato Argentino para enfraquecer o grupo Clarín - Reuters

Em 2009, o governo argentino lançou o programa Futebol parra Todos (FPT), que passou a transmitir os campeonatos nacionais das séries A e B. A estatização das transmissões, pela TV Pública, foi a principal vitória da presidente Cristina Kirchner na queda de braço com o Clarín, grupo de mídia mais poderoso do país, que perdeu uma de suas principais fontes de receita.

A manobra teve apoio incondicional do presidente da Associação Argentina de Futebol (AFA), Julio Grondona, falecido em 2014. Ano passado, o governo pagou US$ 123 milhões à própria AFA, que redistribui o dinheiro aos clubes. Ainda em 2014, a gestão Cristina Kirchner desembolsou US$ 24 milhões a mais para a transmissão da Copa pela TV Pública.

Todas as emissoras estão habilitadas a retransmitir as partidas gratuitamente, desde que o vídeo e o áudio originais sejam mantidos, incluindo a publicidade . O detalhe é que o principal anunciante das transmissões é o próprio governo argentino.

A Casa Rosada usou as transmissões dos jogos para fazer propaganda contra o principal oponente do governo Kirchner, o ex-prefeito de Buenos Aires e ex-presidente do Boca Juniors Mauricio Macri. Em março de 2014, o juiz Claudio Bonadio, que averiguava se houve má fé do poder público na veiculação de publicidade, foi afastado do processo.

Portugal e a Liga dos Campeões

Porto, representante português na Liga dos Campeões nessa temporada: RTP desembolsou 18 milhões de euros pela competição - Patrick Straub/EFE

A compra dos direitos de transmissão da Liga dos Campeões por parte da Rádio e Televisão de Portugal (RTP), a rede pública de comunicação lusitana, gerou controvérsia dentro do próprio governo. Em novembro de 2014, a RTP pagou 18 milhões de euros para tirar a principal competição de clubes do mundo da concorrente TVI. O contrato é por três temporadas.

A aquisição foi aprovada pelo conselho da RTP. Entretanto, o ministro de Assuntos Parlamentares, Marques Guedes, se manifestou contrário à aquisição dos direitos em reunião do Conselho de Ministros de Portugal. “Dinheiro público, do ponto de vista do governo, não deve ser aplicado em transmissão de futebol”, enfatizou o ministro.

O valor pago pela RTP também gerou polêmica. A TVI, empresa da iniciativa privada, ofereceu 12,9 milhões de euros pelos três temporadas de transmissão. Ou seja, a RTP pagou quase 40% a mais, gerando reclamação da TVI de que a negociação da rede pública inflacionou a negociação dos direitos com a Uefa.

Três anos antes, em 2011, a RTP havia desistido de adquirir os direitos da Liga dos Campeões, justamente por pressão do governo, o que não se repetiu em 2014.

Falta de opção no Campeonato Paraense

Sem nenhuma rede interessada, TV Cultura, do Paraná, assumiu a transmissão do Parazão e vai passar todos os jogos de Remo e Paysandu - TV Cultura

No Pará, a transmissão do Campeonato Estadual pela TV Cultura, do governo do estado, foi a saída para a falta de interesse de outras emissoras em passar os jogos. Desde 2011, os jogos do Parazão são transmitidos exclusivamente pela televisão estatal.

Em 2015, a TV Cultura transmitirá todos os jogos da dupla Remo e Paysandu, as duas forças do futebol paraense. Além da TV Cultura, outro órgão do governo do Pará diretamente envolvido na transmissão das partidas é a Empresa de Processamento de Dados do Pará (Prodepa), responsável pela transmissão on line das partidas no portal da TV Cultura.

Segundo agência de notícias do governo do Pará, 50 profissionais participam diretamente da transmissão de cada partida. Antes dos jogos, a emissora estatal também apresenta o programa Meio de Campo, ao vivo.

Série C sucesso na TV Brasil

Acesso do Santa Cruz em 2013 rendeu audiência inesperada à TV Brasil na Série C do Brasileirão - Diego Nigro / Folhapress

Desde 2013, a Série C do Campeonato Brasileiro é transmitida pela TV Brasil, canal do governo federal. No primeiro ano, a televisão estatal desembolsou R$ 9 milhões pelos direitos, pagos à CBF. E acabou tendo resultado: a emissora alcançou índices inéditos de audiência. Muito por causa da campanha do Santa Cruz.

A TV Brasil liberou as televisões locais a transmitirem os jogos de suas equipes. A decisão permitiu que os jogos de Santa Cruz fossem passados para Recife, onde as transmissões chegaram a encostar na audiência da Globo.

No ano seguinte, a TV Brasil teve dificuldade para renovar o contrato. O valor exigido pela CBF subiu para R$ 10 milhões, entretanto, a emissora pública tinha apenas R$ 3,5 milhões em caixa. A TV Brasil contornou o problema de dinheiro e conseguiu manter a transmissão.