Postado por - Newton Duarte

Ascensão e queda! Como o mundo está vendo o Brasil às vésperas da Copa

Dez matérias ilustram cobertura 'negativa' sobre Brasil

Protesto anti-Copa (BBC)

Clima interno tenso teria contaminado cobertura internacional, segundo analistas

Há três anos, o Brasil era uma espécie de menina dos olhos da imprensa internacional.

Agora, às vésperas do Mundial, o tom geral da cobertura sobre o país tem sido bastante negativo, como notam especialistas consultados pela BBC Brasil.

Abaixo, listamos algumas reportagens e matérias sobre o Brasil publicados em veículos da grande repercussão que ilustram essa tendência:

The Economist - Brasileiro 'preguiçoso'?

No mês passado, a revista britânica The Economist publicou uma matéria em que destaca que a produtividade do trabalhador brasileiro está estagnada há cinco décadas e sugere que tal problema poderia ter causas culturais.

A matéria é ilustrada com a imagem de uma pessoa descansando em uma rede. "Poucas culturas oferecem uma receita melhor para curtir a vida", afirma a Economist, notando que filas, tráfego, prazos descumpridos e atrasos de todo o tipo são parte do cotidiano brasileiro.

Outra matéria, publicada na quinta-feira passada, a revista diz que em vez de mostrar a ascensão do Brasil como um "ator global", a Copa acabou colocando em evidência como é disseminada no país a prática do "improviso".

Em setembro de 2012, a Economist chegou a dedicar uma capa ao Brasil ilustrada com um Cristo Redentor despencando. A manchete questionava: "O Brasil estragou tudo?"

Era uma referência à famosa capa de novembro de 2009 - publicada quando a economia brasileira ainda entusiasmava os mercados - que mostrava um Cristo alçando vôo e anunciava "O Brasil decola".

The New York Times - Obras superfaturadas

O jornal americano New York Times (NYT) chamou a atenção para as obras abandonadas e superfaturadas no Brasil em uma reportagem publicada há pouco mais de um mês.

Segundo o NYT, os atrasos e contratempos nas obras da Copa seriam "parte de um problema nacional maior", evidenciado por "uma série de projetos megalômanos concebidos quando a economia estava crescendo rapidamente, que agora estão abandonados, estagnados ou já extrapolaram de longe seu orçamento inicial".

O jornal menciona, entre outras obras que estariam muito atrasadas ou abandonadas, a ferrovia transnordestina, prédios públicos projetados por Oscar Niemeyer em Natal, a transposição do Rio São Francisco, hotéis de luxo no Rio de Janeiro e o Museu do Alienígena, em Varginha.

"Esses projetos deveriam simbolizar a ascensão brasileira, mas agora que o país cambaleia em uma ressaca pós-boom, eles expõem as lideranças do país a uma crítica feroz e alimentam as denúncias de gastos desnecessários e incompetência", diz o texto.

Financial Times - Dilma e os irmãos Marx

Na semana passada, o jornal econômico britânico Financial Times (FT) comparou a presidente Dilma Rousseff aos irmãos Marx - comediantes que ganharam fama na primeira metade do século 20 nos Estados Unidos.

Em um editorial, publicado em meio a notícias sobre atrasos nas obras da Copa e Olimpíadas, o FT disse que Dilma teria uma "tediosa aura de eficiência, semelhante à da (chanceler alemã) Angela Merkel", mas que a implementação de seus projetos pareceria obra "dos irmãos Marx".

No texto, o FT defende que o Brasil precisa de um "choque de credibilidade" e cita três desafios que o governo brasileiro precisaria enfrentar nos próximos meses: o escândalo de corrupção na Petrobras, o "crescente risco" de falta de energia e a possibilidade de que sejam organizados grandes protestos durante a Copa do Mundo.

Evening Standard - Plano B para o Rio?

O Evening Standard - jornal distribuído gratuitamente nos metrôs e trens da Grã Bretanha - publicou na semana passada que, segundo uma fonte não identificada, autoridades de Londres teriam sido consultadas sobre a possibilidade de realizar a Olimpíada na cidade caso o Rio não consiga se preparar a tempo para os jogos de 2016.

A polêmica matéria foi publicada dias depois de o vice-presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), John Coates, ter dito que os preparativos para a Olimpíada de 2016 seriam os "piores" já vistos – embora ele tenha voltado atrás na sua avaliação.

Ela repercutiu em outros jornais britânicos e nas redes sociais, embora o COI tenha descartado essa possibilidade como "sem fundamento e totalmente infactível".

Segundo Evening Standard, autoridades do COI estariam em "pânico" por causa dos atrasos em obras no Rio e Londres já teria sediado uma Olimpíada de forma emergencial em 1908, quando a erupção do vulcão Vesúvio impossibilitou a Itália de fazê-lo.

De acordo com o jornal The Guardian, uma fonte do COI, também não identificada, teria classificado a reportagem do Evening Standard como "um lixo total".

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Daily Mirror - "Manaus sangrenta"

O tabloide britânico publicou em dezembro uma matéria nada lisonjeira sobre Manaus, onde a Inglaterra jogará contra a Itália: "Os ingleses arriscarão suas vidas em uma das cidades mais perigosas do mundo ao torcer por seu time no primeiro jogo da Copa do Mundo", diz o texto.

Nele, o Mirror classifica a capital do Amazonas como um "buraco dos infernos, tomado pelo crime" e menciona um alerta do sistema público inglês sobre a alta incidência de raiva, malária, difteria e hepatite na cidade. "Outros riscos incluem cobras venenosas e tarântulas, estradas e motoristas ruins", diz.

De acordo com o Mirror, "ladrões armados e drogados circulam pelas favelas" de Manaus, "áreas que devem ser evitadas pelos turistas" e onde, segundo o jornal, "barracos são pintados com cores diferentes para sinalizar que tipo de droga é vendido ali".

O Mirror também adverte os britânicos em relação a suposta baixa qualidade e altos preços das acomodações na cidade. "(...) Donos de hotéis estão lucrando sem dó pedindo £500 (R$1.860) por um quarto básico na data do jogo com a Itália", diz a matéria, acrescentando que, no website Tripadvisor, turistas relatam ter ficado em quartos "imundos" ou ter visto cozinhas "repletas de insetos, baratas e ratos".

O tabloide diz que Manaus seria a 11ª cidade mais perigosa do mundo e São Paulo, onde a Inglaterra jogará contra o Uruguai, ocuparia a 48ª posição desse ranking, tendo um índice bastante elevado de "assaltos à mão armada contra pedestres, motoristas e clientes de restaurantes."

El País - Brasil em 'crise de segurança'

Há três semanas, o jornal espanhol El País anunciou no título de uma reportagem que falava sobre os recentes conflitos na comunidade de Pavão Pavãozinho e Copacabana: "Brasil entra em crise de segurança".

"Nem os cinco anos que transcorreram desde o início do projeto pacificador das favelas cariocas, nem o estímulo que se esperaria dos dois maiores eventos esportivos do planeta - a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos - serviram para que a violência diminua no Rio de Janeiro", diz a reportagem.

"As armas de guerra voltaram a se disseminar pelos subúrbios ao mesmo tempo em que as Unidades da Polícia Pacificadora (UPPs) não conseguiram se enquadrar totalmente em suas vizinhanças, que veem nelas uma versão edulcorada da Polícia Militar, conhecida por estar corrompida até o tutano e agir com uma truculência sem limites."

Segundo o jornal, as imagens de violência em Copacabana lançariam dúvidas sobre a capacidade de o Brasil organizar um megaevento esportivo sem incidentes. "Pelas ruas do Rio há a sensação de que se está perdendo a passos rápidos o terreno conquistado nos últimos anos", diz o El País.

CNN - Epidemia de crack

"Brasil luta contra epidemia de crack na preparação para o Mundial", noticiou recentemente a rede de TV CNN.

Segundo a emissora americana, que na reportagem faz um retrato da cracolândia do Rio de Janeiro, o Brasil teria se tornado o principal consumidor de crack do mundo e as iniciativas do governo para lidar com o problema teriam "resultados mistos".

Ela também destaca as críticas de que o foco das campanhas oficiais seria "limpar as ruas" em vez de oferecer alternativas para o usuário.

Outra reportagem recente da mesma emissora foi dedicada à possibilidade de a falta de chuva fazer com que haja racionamento de água e energia durante a Copa.

France Football - 'Medo sobre o mundial'

Faltando cinco meses para a Copa, a revista esportiva francesa France Football publicou uma capa toda preta com apenas uma bandeira do Brasil e a manchete: "Medo sobre o Mundial".

A publicação esportiva francesa lista uma série de contratempos que poderiam empacar a realização do torneio no Brasil, como os atrasos nas obras dos estádios e riscos de novas manifestações nas ruas.

"Atingido por uma crise econômica e social, o Brasil está longe de ser o lugar sonhado pela Fifa para organizar uma Copa do Mundo", diz a France Football, acrescentando que o país teria se tornado uma "fonte de angústias".

Der Spiegel - 'Morte e jogos'

A revista alemã dedicou na semana passada sua reportagem de capa à Copa do Mundo no Brasil com a manchete "Morte e jogos: O Brasil Antes da Copa do Mundo" e uma imagem de uma bola Brazuca pegando fogo em frente ao Pão de Açúcar.

Um dos textos, intitulado "Gol contra do Brasil" diz que, "ironicamente, a terra do futebol poderá ter a Copa do Mundo do fiasco: manifestações, greves e tiroteios, em vez de festa". "Os cidadãos estão furiosos com estádios caros e políticos corruptos - e ainda sofrem com uma economia estagnada."

A revista também traz uma entrevista com o escritor Luiz Ruffato, cuja manchete é "Nós sempre fomos violentos", no qual o autor fala também sobre a relação entre futebol e política. Ruffato virou notícia na Alemanha em outubro de 2013 ao fazer um discurso na Feira do Livro de Frankfurt com pesadas críticas à sociedade brasileira.

La Nación - 'Longe da Festa'

"Brasil, muito longe da festa", anunciou na semana passada o jornal argentino La Nación, em uma matéria em que menciona os protestos contra a Copa, greve da polícia e saques no Recife.

Segundo a correspondente da BBC na Argentina, Márcia Carmo, há alguns anos, era comum que a imprensa argentina mencionasse o Brasil como uma espécie de modelo a ser seguido.

"Não raro podíamos ver na TV e jornais daqui os argentinos se perguntando: o que o Brasil fez que nós não fizemos? O que podemos aprender com eles para fazer a economia crescer?", diz Marcia. "Agora isso não existe mais - há mais ceticismo e apreensão em relação ao Brasil."

Exemplos positivos

Também há bons exemplos de matérias positivas veiculadas recentemente sobre o país.

O jornal francês Le Monde, por exemplo, publicou recentemente uma reportagem sobre start ups no Brasil.

O próprio Financial Times levou às bancas na semana passada o caderno especial "Brasil Moderno", em que faz um balanço dos avanços e desafios do país nos últimos anos

"O mundo vai à Copa esperando o mesmo velho país do futebol, carnaval e samba. Mas os mais observadores perceberão que, por trás da atmosfera de festa, grandes mudanças estão acontecendo", diz o FT.

"Depois de uma década de estabilidade econômica, acompanhada do rápido crescimento da classe média baixa, o Brasil não pode mais ser reduzido a um punhado de clichés", completa o texto de abertura do caderno, que traz reportagens sobre inovações do agronegócio brasileiro, a ascensão do tecnobrega e uma iniciativa para ensinar esportes de inverno a crianças da favela.


Fonte e foto: BBC Brasil