Organizadas apoiam torcida mista, mas advertem: “Apenas para agregar”
Associação das Organizadas (Anatorg) defende o modelo antigo de separação
Dentro de campo um preguiçoso 0 a 0. Ainda assim, num setor do Beira-Rio, gremistas e colorados comemoraram muito o clássico do último domingo (1º). Em uma iniciativa inédita no futebol brasileiro, a diretoria do Internacional disponibilizou uma área do seu estádio para que torcedores da equipe pudessem levar acompanhantes do time rival.
A ação foi um enorme sucesso. Todos os mil pares de ingressos para o espaço foram vendidos em poucas horas e nenhum incidente aconteceu no local. Pelo contrário. Apenas festa e clima de total harmonia. Shows e outras atrações de incentivo à paz fizeram parte do evento pré-jogo, que foi bastante elogiado por quem participou. Como o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, que esteve presente no clássico trajando sua camisa tricolor.
— Não tenho dúvidas de que esta iniciativa do Sport Club Internacional vai entrar para a história, não somente no Grenal, mas do futebol brasileiro. Estamos a cada dia, a cada momento, nos dobrando a violência, e muita gente propondo jogo de torcida única. O Internacional demostrou, através de um exemplo concreto, com a concordância do Grêmio, de que é possível a gente conviver em paz, e o exemplo está aqui: muita alegria, muita festa, muita confraternização.
Ironia à parte, o único ato de vandalismo do Grenal ocorreu justamente no setor destinado exclusivamente aos gremistas, onde se localizam as torcidas organizadas. Foram 47 cadeiras quebradas, além de tampas de vaso sanitário, câmeras de segurança, placas e barras de acessibilidade deterioradas.
Em entrevista ao R7, o presidente da Anatorg (Associação Nacional das Torcidas Organizadas) e da Torcida Dragões da Real, André Azevedo, disse ser favorável ao setor misto em grandes clássicos do futebol nacional, mas ressalta que a novidade não pode substituir o modelo antigo de torcer.
— A ideia de torcida mista é bastante interessante. Mas que isto não substitua o modelo antigo, de torcidas separadas em setores do estádio, para que cada uma delas possa levar sua bateria, suas bandeiras e entoar os seus próprios cantos. Na área mista isso não tem como acontecer e o torcedor não vai cantar para incentivar o time. Então, eu acho que temos que agregar, e não acabar com o modelo antigo de torcer.
Juntos e misturados, a ação do Inter motivou a diretoria do São Paulo a seguir o mesmo caminho. No próximo dia 22 de abril, quando o Tricolor receber o Corinthians pela Copa Libertadores, o Morumbi deverá ter um setor misto no Majestoso. O anúncio foi feito pelo presidente do clube, Carlos Miguel Aidar.
— Vou criar um espaço comunitário. Quero ver cidadão com camisa do Corinthians ao lado do cidadão com camisa do São Paulo, dentro do nosso estádio, a exemplo do que fez o Inter. Precisamos dar esse exemplo.
Outra novidade que pode ajudar a combater a violência entre as torcidas vem dos tribunais. Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, o promotor Paulo Castilho, do Juizado Especial Criminal-SP, disse ter recomendado aos órgãos públicos a criação do Juizado do Torcedor.
— Falta o Estado nessa política de atuação, na parte tributária, na criminal, na Cível, na fiscalização. Nós temos de fazer. Trabalhar junto para efetivamente combater a violência.
Pouco a pouco, alternativas inovadoras vão surgindo em outros Estados para incentivar a paz. Recentemente, no clássico entre Sport e Náutico, os torcedores organizados foram surpreendidos por suas mães nas arquibancadas da Arena Pernambuco. Cerca de 30 mulheres foram treinadas pela Polícia Militar e transformadas em orientadoras. “Tem coisa que torcedor não faz na frente da mãe. Brigar em estádios é uma delas”, dizia a mensagem do telão.