Postado por - Newton Duarte

Avaliação da arbitragem brasileira

Para Leonardo Gaciba, arbitragem do Brasil é regular, mas 'faz milagre'

Ex-árbitro e comentarista critica falta de estrutura aos juízes no futebol brasileiro e diz que isso interfere na performance: 'Pode ser melhor'

O programa "Arena SporTV" lançou uma enquete nesta terça-feira para saber: como você avalia a arbitragem brasileira? Não demorou para a opção "péssima" disparar na frente na opinião dos torcedores. Para o comentarista Leonardo Gaciba, o nível atual é "regular". O ex-árbitro reclamou da falta de estrutura, o que, segundo ele, ajuda a justificar o desempenho da arbitragem no Brasil.

- Na minha opinião, a arbitragem brasileira é pior do que o futebol brasileiro exige. Mas é melhor do que a estrutura que lhe é proporcionada. Dentro do que é colocado à disposição do árbitro brasileiro, ele faz milagre. Acho que pode ser melhor. Agora, é melhor do que se dá à disposição. Colocaria em nível regular - explicou.

Para o comentarista, as condições oferecidas aos árbitros ainda estão muito abaixo do que seria o ideal. Apesar da recente profissionalização da atividade, é preciso evoluir muito, segundo Gaciba.

- Tem "cara" que está viajando três, quatro dias, para ir fazer um jogo de futebol. Não tem como ter uma boa performance. Teve um ex-colega de arbitragem, com quem falei esta semana, que fez um jogo. A passagem de volta começou às 2h, ele chegou em casa às 9h, depois de três escalas no voo. Como esse cara, no outro dia, vai trabalhar no seu serviço e ainda dar uma treinada, rever o jogo que ele fez no fim de semana, para poder analisar sua atuação? Quarta tem outro jogo. É uma cobrança profissional para uma função amadora. Tem dois amadores no futebol: árbitro e gandula. Essa que é a verdade - disse.

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Leonardo Gaciba reclama da falta de estrutura aos árbitros no futebol brasileiro

O ex-árbitro Sálvio Spínola defende o momento da arbitragem brasileira. Segundo ele, os mesmos árbitros escalados para jogos internacionais pela qualidade são criticados quando atuam no Campeonato Brasileiro, citando como exemplo Sandro Meira Ricci e Leandro Vuaden, que atuaram recentemente em jogos decisivos das Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo.

- A arbitragem brasileira está num nível bom para crescendo, comparando com o mundo. Por que um árbitro argentino e ou paraguaio não estava nesses jogos decisivos? A Argentina estava classificada e o Paraguai eliminado. Porque não tem, por questão de qualidade. A arbitragem brasileira foi designada para esses jogos por qualidade - afirmou.

Spínola afirmou ainda que o árbitro é visto de maneira equivocada no futebol brasileiro. Segundo ele, o juiz não é reconhecido como deveria, pelo seu importante papel dentro de campo.

- O Brasil precisa tirar esse estigma de que o árbitro é adversário. O árbitro não é adversário de nenhum time, não é adversário de jogador. Ele está ali para cumprir com as regras de futebol e para acertar - completou.

'Profissão está só legalizada, antes era atividade ilegal', diz ex-árbitro

Sálvio Spínola acredita que profissionalização da arbitragem é apenas o primeiro passo, e cita necessidade de criminalizar manipulações de resultados

O assunto do Arena SporTV desta terça-feira foi arbitragem, e uma das questões que vieram à tona foi a profissionalização da atividade, o que aconteceu no último dia 10, quando a presidente Dilma Rousseff sancionou a lei que a partir de agora regula a mais nova profissão do país. De acordo com o texto, fica "facultado aos árbitros de futebol prestar serviços às entidades de administração, às ligas e às entidades de prática da modalidade desportiva futebol". A lei diz ainda que os árbitros poderão se organizar em associações profissionais e sindicatos. Para o ex-árbitro Sálvio Spínola, nada mais que um primeiro passo.

- É muita tempestade para um copinho de água muito pequeno. Mas necessário. Esse é um primeiro passo, tem 20 anos que se discute isso. O que foi feito agora foi simplesmente dar dignidade à profissão de árbitro de futebol. A profissão está só legalizada, antes era uma atividade ilegal, podemos dizer assim. Ainda é muito pouco - ressaltou Spínola, que ainda lembrou que não existe a previsão de crime em relação à manipulação de resultados, o que deixou fora da prisão o ex-árbitro Edílson Pereira de Carvalho, pivô de escândalo em 2005.

Sálvio Spínola diz que profissionalização ainda tem muito o que evoluir

Sálvio Spínola no Arena (Foto: Reprodução / SporTV)

- Na época que nós (ele e Leonardo Gaciba) éramos árbitros, fomos pleitear por esse reconhecimento e naquele momento pedimos para colocar no projeto a previsão legal de crimes, colocar no Código Penal Brasileiro a adulteração de resultados por árbitros, já que não há isso no ordenamento jurídico brasileiro. O Edilson Pereira de Carvalho está solto porque não tem crime. Nesse projeto de lei também deveria ter sido colocado. Não sei porque foi tirado. Diz-se que tem uma lei maior para o esporte que vai fazer constar, e isso é necessário para o futebol, tem que inibir esse tipo de árbitro. Pagamos até hoje por causa disso - relembra Sálvio.

Apesar da regulamentação, o árbitro brasileiro de futebol ainda precisa buscar muito outros direitos, e Sálvio Spínola destaca que hoje o profissional de arbitragem se vê sozinho. Quem vai arcar com os custos da profissionalização da arbitragem?

- Isso não está resolvido. Acho que o futebol tem que arcar, não com esses custos da legislação trabalhista brasileira, que é muito danosa, mas dar uma condição melhor de trabalho para o árbitro. Todo mundo reclama que o árbitro tem a sua atividade profissional e depois vai apitar, mas quando o árbitro se lesiona ele pega a carteirinha do convênio médico de onde trabalha para ir no médico, para fazer uma cirurgia de joelho ou uma fisioterapia, por exemplo. Não tem um plano de saúde vindo do futebol.

O ex-árbitro e hoje comentarista Leonardo Gaciba relembra um caso recente ocorrido com a árbitro assistente Tatiane Freitas, da Fifa, que, durante um treino para a prova física dos árbitros no início do ano, teve um acidente vascular. No momento ela retorna às atividades físicas.

- Ela está recebendo como autônoma, porque ela pagou a contribuição, mas não tinha plano de saúde. O árbitro, quando se machuca, quem paga o tratamento? O próprio arbitro paga do bolso. O árbitro leva a bandeira, os cartões e o apito para o jogo, nem isso é dado - reforça Gaciba.


Fonte: Arena SporTV

Foto: Reprodução / SporTV