Postado por - Newton Duarte

Avancini decreta: 'Não adianta ter marketing se não tem resultado dentro de campo'; Veja

Infinito e além: Jorge Avancini chega ao Bahia com meta de 50 mil sócios

Novo diretor de mercado é apresentado pelo Tricolor na tarde desta segunda-feira

Jorge Avancini é apresentado no Bahia (Foto: Rafael Santana)

A alta cúpula tricolor esteve reunida, na tarde desta segunda-feira, para a apresentação do último profissional que faltava para compor o quadro diretivo do Bahia. Sob olhares de Marcelo Sant’Ana, Pedro Henriques, Alexandre Faria e Marcelo Barros, o novo diretor de mercado do clube, Jorge Avancini, foi apresentado no auditório do Fazendão.

Conhecido por alavancar o plano de sócios do Internacional, que hoje conta com mais de 120 mil colorados, Avancini tem o mesmo projeto para o Bahia, só que com números mais modestos. Nos próximos três anos, prazo de duração da gestão de Sant’Ana, o novo diretor pretende atingir o número de 50 mil sócios – hoje, o Tricolor conta com cerca de sete mil adimplentes.

- Nós temos que crescer e consolidar [o número de sócios]. Se chegar a 50 mil e a gente mantiver, acho que é um grande número para o Bahia. Mas não tem limite. Quando o presidente me contatou, ele perguntou se eu topava um desafio de seis anos. “Estou eleito para três, e acho que em dois você não faz nada”. Eu defendo quatro anos de gestão. “Pretendo fazer um grande trabalho, depois vou tentar a reeleição”. Não sei se eu poderia dizer isso, mas já falei. Seis anos para mim, na minha idade, já é muito tempo. Mas vamos lá. Tenho um desafio pessoal que é, até o final dessa gestão, em 2017, tentar chegar a 50 mil sócios. Hoje o cenário da Bahia é próximo ao cenário do Rio Grande do Sul em 2003. Nós tínhamos que ficar sentados na rua pedindo para os patrocinadores investirem dinheiro nos clubes. Quero colocar o Bahia entre os cinco maiores do Brasil. Se o Alexandre [Faria, diretor de futebol] conseguir incomodar lá na frente e chegar entre os quatro lugares, vamos conseguir isso – afirma.

Não adianta ter marketing se não tem resultado dentro de campo

Jorge Avancini

Em sua difícil missão, Avancini pretende usar a experiência como arma. O dirigente diz ver semelhanças entre o Bahia atual o Inter da época em que assumiu cargo de gestão no clube gaúcho. Ele destaca que o único limite para que seu objetivo seja concretizado é a própria competência e afirma que, no clube, deve haver retorno em campo para o departamento de marketing tenha sucesso.

- Vejo o Bahia parecido com o Inter de 15 anos atrás. E até diria que o Bahia está bem melhor. Não temos limites. O limite está de acordo com nossa competência. Questões que a nossa regionalidade nos oferece. E a interiorização, levar a marca do Bahia para os torcedores mais distantes, para que, de alguma maneira, possa conviver com a história, os ídolos, conversando com o presidente, que foi um dos grandes sucessos. A ideia dos 100 mil sócios partiu de um conselheiro. Todo mundo achava uma loucura. Com muito trabalho, muito esforço, troca de experiências, usando o que o clube tem, a gente começou a poder mostrar, se trabalhou o resgate da autoestima daquele período, vinha de um período sem ganhar nada... É um trabalho em conjunto. Não adianta ter marketing se não tem resultado dentro de campo. É um círculo que se alimenta. É assim que eu entendo que funciona o futebol moderno.

Apesar de esbarrar nas próprias limitações, Avancini não ignora outros obstáculos. O diretor avisa que já tem em mente quem será o principal inimigo neste processo de impulsão do número de sócios do Tricolor. Acostumado ao clima ameno da região sul, ele vê o calor do Nordeste e o vasto litoral como obstáculos: diante de uma tentação como a praia soteropolitana, é necessário apresentar, em campo, atrativos a mais para tirar o torcedor da areia e colocar na arquibancada.

- Aproveitei o dia de folga para me adaptar a Salvador. O problema não é poder econômico. O problema é um dia como ontem [domingo de sol] e colocar um jogo às 16h, com esse sol maravilhoso. No sul não temos isso. Acabou o carnaval, acabou o verão. Jogo bom, time bom, estádios lotados. Por isso, semi e finais são grandes jogos. O grande desafio, e isso que vou ter que aprender aqui, é como vou combater a questão da natureza. É o maior adversário que a gente vai ter que vencer. Se tivesse problema de crise, não veria todo mundo bebendo cerveja na beira da praia. O problema é esse marzão. O desafio é montar equipes competitivas, porque, com certeza, o cara vai sair da praia uma hora antes. Mas temos que apresentar um belo espetáculo. Quando olho esses dois garotos, que estão apostando a sua carreira... Qual o clube que tem dois dirigentes remunerados em preço integral? Não tem. Se der errado, o preço que eles têm a pagar é maior do que eu, do que o Alexandre - avaliou.

Confira outros trechos da entrevista de Jorge Avancini.

INADIMPLÊNCIA ATUAL DOS SÓCIOS DO BAHIA

- Não é normal você ter um volume grande de inadimplência. Talvez o resultado de campo e o somatório de anos e anos... No fundo, somos uma instituição de futebol e, se não tiver taça no armário e faixa no peito, não vai adiantar. Talvez 15%, 20% de inadimplência, como aconteceu como o Internacional, mas não números tão altos assim. E é isso o que a gente entender. Por que ele [o sócio] deixou de pagar. Outra coisa que quero entender é por que poucas mulheres vão ao estádio. No Inter, 26 mil mulheres são sócias. Isso é importante de se avaliar. Não sei se é uma questão cultural, vamos estudar. História e apelo para trabalhar tem de sobra. Vamos começar com uma ação imediata de inadimplência. Não tem equipe grande se não tiver recurso.

RECUSA A OUTROS CLUBES E OPÇÃO PELO BAHIA

- Meu muito obrigado ao presidente Marcelo e aos outros diretores, me receberam de forma carinhosa. Aos torcedores, que, durante esse período que conversamos, desde a minha saída, que faz uma semana, manifestaram um carinho impressionante para mim. Eu tinha cinco propostas, conversas de grandes clubes brasileiros, e a decisão de escolher o Bahia. São vários fatores. Primeiro, é um grande desafio. Uma marca importante no futebol, bicampeão brasileiro. A paixão da torcida, mesmo no Sul a gente olhava. Mesmo em momentos difíceis, botava público no estado. Todo esse potencial é o que me atrai. Para todo gaúcho, essas belezas já são um grande atrativo. A responsabilidade é muito grande. Peço um pouco de paciência. Não sou mágico. Vai ser um ano desafiador, colocar o Bahia na posição que ele merece, entre os cinco melhores do Brasil. É isso o que a gente vai buscar.

EXPERIÊNCIA NO RAMO

- Eu trago um pouco da experiência, 14 anos ligado ao futebol. O principal fator é se adequar ao mercado. As coisas que deram certo lá podem não dar certo aqui, e é isso que vamos avaliar. Já vamos dizer que não vamos lançar amanhã o plano de sócios. Vamos avaliar, conversar com investidores. O ponto mais importante: tem que ter casa. Enquanto não tiver, a Arena se encaminha para ser a casa, isso facilita a relação. O torcedor tem que entender que ele é sócio para ajudar o clube. Minha ideia sempre foi trazer um pouco dessa experiência, conversar com vocês que têm experiência. Talvez a arrancada não seja tão rápida, mas com certeza vamos buscar a médio prazo.

O ATUAL PLANO DE SÓCIOS DO BAHIA

- Já tive contato [com o plano atual de sócios], dei uma olhada, vamos rediscutir. O primeiro passo é formar um grupo com os sócios atuais. Formar um grupo dentro do conselho, de representantes que discutam um pouco. É importante, ao longo desses anos, o pessoal cria expectativas em cima disso. Não é fácil. O problema não é chegar aos 100 mil. O problema é mantes esses sócios ativos. Quando o Inter jogou sem casa em 2013, o quadro de sócios não diminuiu. Acho que temos que avaliar, porque, pelo que pude observar, foram muitos ensaios, muitos planos, e isso mexe um pouco com a cabeça do torcedor. Plano de sócios é coisa séria. Depois que entra, não pode mais sair. A gente ainda não sabe fidelizar o público. Depois que a gente conquista, a gente acha que não precisa manter.

A ESTRATÉGIA INICIAL

- A estratégia, primeiro, é parar de vender e não entregar. Vendem as suas propriedades e, na hora de entregar, não entrega. Temos que começar um resgate dos patrocinadores, principalmente pela grande marca que é no Nordeste. A grande briga que a gente tinha no sul, porque eles preferiam investir em Rio e São Paulo... Tem a TV a favor, grandes torcidas. Temos que lutar contra isso. Como plataforma de mídia, o Bahia é um grande aliado, mas temos que efetivamente começar a entregar o que vendemos. São poucos clubes no Brasil que conseguem fazer isso. Acho que a Fifa mostrou isso na Copa, defender ferozmente os interesses dos seus patrocinadores. Na hora do gol, o jogador tirar a camisa... Temos que mudar isso. O gol é um grande êxtase do futebol.