Postado por - Heitor Montes

Bahia dá pouca oportunidade aos jovens da base

Bahia estreia poucos garotos na equipe principal e, a essa altura do campeonato, eles não têm espaço. Até os jogadores mais velhos da base desapareceram do time

Vice-presidente Pedro Henriques diz que tem por objetivo dar espaço à base (Foto: Divulgação/E.C. Bahia) Jean foi um dos jogadores que ganharam espaço em 2015 (Foto: Felipe Oliveira/Divulgação/EC Bahia)

Quando se elegeu presidente do Bahia, no fim de 2014, Marcelo Sant’Ana bateu forte na tecla da valorização das divisões de base. Era um dos pilares de sua campanha fortalecer a categoria, dar oportunidades aos garotos formados no Fazendão de integrarem a equipe profissional e, aos poucos, montar um time recheado de pratas da casa. A poucos dias de completar o segundo ano de mandato, as promessas parecem esquecidas na gaveta da presidência. Os jovens atletas formados em casa têm cada vez menos espaço, e tê-los no time principal é um sonho que está além do horizonte.

Verdade seja dita: houve, no ano passado, um esforço grande para aproveitar os garotos da base, a começar pela escolha do treinador, Sérgio Soares, conhecido pela facilidade em trabalhar com jovens valores. Éder Ferrari, então gerente de futebol, era o principal responsável pelo trabalho com as categorias de base – ele foi demitido no meio do ano, na reformulação feita por Marcelo Sant’Ana, quando a equipe, sem conseguir vencer na Série B, entrou em um processo de crise.

Em 2015, os técnicos Sérgio Soares, Charles Fabian e Aroldo Moreira – os três que passaram pelo comando da equipe – promoveram a estreia de 18 jovens jogadores no time profissional: Jean, Carlos, Juninho, Patric, Éder, Robson, Sávio, Gustavo Blanco, Yuri, Mateus, Luan, Mário, Hayner, Vitor, João Leonardo, Alexandro, Rodrigo Becão e Rodrigo Rodrigues. É necessário fazer ressalvas a três desses nomes: o lateral Hayner chegou ao Tricolor já para a equipe sub-20, portanto a maior parte da sua formação foi feita longe do Fazendão; Rodrigo Becão e Rodrigo Rodrigues atuaram somente na última partida do ano, contra o Atlético-GO, em um time formado em sua maioria por jogadores da base, quando a equipe já não tinha mais chance de acesso à Primeira Divisão.

Esse ano, a despeito do que os números podem fazer aparentar, a história é bem diferente. O Bahia estreou, em jogos oficiais, 16 atletas da base: Dejair, Dedé, Cristiano, Everson, Geovane Itinga, Felipinho, Hugo Freitas, Jefferson Silva, Júnior Ramos, Kayna, Luís Fernando, Marco Antônio, Max, Marlon, Mayron e Wesley. O problema é que, desses jogadores, cinco só atuaram na ocasião daquela rodada dupla no início do ano, quando o Tricolor entrou em campo duas vezes no mesmo dia para enfrentar o Galícia, pelo Campeonato Baiano, e a Juazeirense, pela Copa do Nordeste.

O torcedor bem deve se lembrar da situação inusitada. Era uma partida oficial, entretanto, na prática, o Bahia enfrentou a Juazeirense com o time sub-20, inclusive sob o comando do seu treinador, Aroldo Moreira. Então, embora apareçam na lista de jogadores que estrearam no time profissional, Dejair, Everson, Kaynan, Marco Antônio e Wesley não tiveram essa oportunidade.

Há ainda de se destacar que outros três atletas que aparecem na lista atuaram apenas em uma partida, contra o Santa Cruz, pela Copa do Nordeste, quando o então treinador Doriva decidiu usar um time reserva porque o Bahia já estava classificado para as quartas de final da competição. São eles Marlon, Dedé e Jefferson Silva. Isso significa que apenas a metade dos 16 jogadores que estrearam em jogos oficiais pelo time profissional foram utilizados em ocasiões, digamos, normais. O vice-presidente do clube, Pedro Henriques, justificou.

Efetivamente a gente tem uma quantidade boa de atletas da base compondo o elenco. O que eu tenho acompanhado, o que a imprensa tem falado muito, é que a gente não tem atletas no time principal. Mas aí é uma questão de definição do treinador. A gente tem vários atletas da base: Jean, Feijão, Éder, Juninho lateral-esquerdo, Luis Fernando tem sido relacionado, Marco Antônio, Mayron. O nosso objetivo é dar oportunidade a esses garotos no elenco. A definição do time titular cabe à comissão técnica. Isso a gente não intervém

Dos que estrearam no profissional em 2016, Cristiano foi o mais aproveitado (Foto: Divulgação/EC Bahia)Dos que estrearam no profissional em 2016, Cristiano foi o mais aproveitado (Foto: Divulgação/EC Bahia)

Tido como uma das grandes promessas da base tricolor, Cristiano foi quem mais teve oportunidades ao longo de 2016. Ele foi titular na estreia da Copa do Brasil, diante do Globo [Mayron e Hugo Freitas entraram nesse jogo], e na 4ª rodada do Campeonato Baiano, contra o Galícia [Max e Felipinho entraram nesse jogo]. Além disso, ele entrou no decorrer dos jogos contra Flamengo de Guanambi e Colo-Colo, no Estadual. O atacante Geovane Itinga [além daquele jogo da rodada dupla contra a Juazeirense] foi titular contra o Santa Cruz [jogo que o Bahia usou time reserva] e entrou no decorrer dos confrontos com Galícia, pela 4ª rodada do Baiano, e Bahia de Feira, na semifinal.

Os volantes Luís Fernando e Junior Ramos também tiveram certo destaque. O primeiro ao entrar no decorrer dos dois jogos das quartas de final do Nordestão, contra o Fortaleza; o segundo foi titular no segundo jogo contra o Globo, pela Copa do Brasil.

TIME DO GUTO NÃO DÁ ESPAÇO PRA BASE

Time de Guto Ferreira quase não usa jogadores da base (Foto: Felipe Oliveira/EC Bahia/Divulgação)Time de Guto Ferreira quase não usa jogadores da base (Foto: Felipe Oliveira/EC Bahia/Divulgação)

Além de promover poucos jogadores para a equipe profissional, o Bahia não tem, hoje, sequer um atleta revelado na base no time titular que disputa o acesso à Série A. O mais aproveitado é o volante Feijão, que perdeu espaço depois da chegada de Luiz Antônio e ainda virou terceira opção para a posição depois da contratação de Renê Júnior. Xodó da torcida, ele é utilizado nos momentos em que o técnico Guto Ferreira precisa reforçar a marcação.

Depois da chegada de Guto, por sinal, o espaço dos jogadores da base teve uma redução significativa. Além de Feijão, que foi titular em três partidas e disputou outras quatro como reserva, apenas o zagueiro Éder, titular três vezes vezes, e o atacante Zé Roberto [hoje na Ponte Preta], titular em um jogo e reserva no outro, tiveram oportunidades com o atual treinador do Bahia. Das 17 partidas em que esteve à frente do Tricolor, em nove delas Guto Ferreira não usou sequer um jogador revelado nas categorias de base.

CLUBE DEFENDE CAUTELA

Questionado sobre o aproveitamento da base do Bahia durante esta temporada, o vice-presidente do clube, Pedro Henriques, relembrou o que havia sido prometido por ele e pelo presidente Marcelo Sant’Ana durante a campanha ao cargo. Segundo ele, o pensamento era de, ao final da gestão em 2017, ter 40% do elenco formado nas divisões de base do Fazendão. O dirigente vê um bom número de pratas da casa no elenco, mas adianta que a utilização ou não deles no time depende do treinador.

Vice-presidente Pedro Henriques diz que tem por objetivo dar espaço à base (Foto: Divulgação/E.C. Bahia)Vice-presidente Pedro Henriques diz que tem por objetivo dar espaço à base (Foto: Divulgação/E.C. Bahia)

Na verdade, eu me lembro bem do nosso projeto, a gente queria, ao final de três anos, ter 40% do elenco formado com atletas da base. Era nossa meta. Efetivamente a gente tem uma quantidade boa de atletas da base compondo o elenco. O que eu tenho acompanhado, o que a imprensa tem falado muito, é que a gente não tem atletas no time principal. Mas aí é uma questão de definição do treinador. A gente tem vários atletas da base: Jean, Feijão, Éder, Juninho lateral-esquerdo, Luis Fernando tem sido relacionado, Marco Antônio, Mayron. O nosso objetivo é dar oportunidade a esses garotos no elenco. A definição do time titular cabe à comissão técnica. Isso a gente não intervém

O discurso de campanha, de fato, era ter 40% do elenco formado por jogadores da base ao final do mandato. Só que, um ano depois, esse número subiu. Em 2015, em entrevista ao GloboEsporte.com, o então gerente de futebol, Éder Ferrari, afirmou que a meta era ter o grupo principal formado por 70% de garotos da base.

Pedro Henriques lembrou que diversos atletas que estão no grupo sub-20, que está na final da Copa do Brasil da categoria, têm servido ao profissional constantemente. O vice-presidente citou que faz parte do processo de amadurecimento a utilização dos jovens em treinamentos e nas relações para os jogos.

A gente tem vários atletas que já subiram, já treinam com o profissional, são relacionados, mas a gente cede eles para o sub-20 para fazer as competições. Faz parte do processo da profissionalização. A gente tem que balancear

De acordo com Pedro Henriques, a comissão técnica profissional tem acompanhado de perto os jogos do time sub-20 para avaliar o aproveitamento dos atletas. Ele lembrou da pressão vivida pelo time na disputa da Série B e considerou que o treinador também leva em conta a preservação dos jogadores. Como exemplo disso, Henriques citou a substituição de Wesley Natã no intervalo do jogo contra o Ceará.

Por fim, o vice-presidente disse que a diretoria ainda trabalha com o plano inicial de 40% de atletas formados na divisão de base. Para ele, a utilização maior de jogadores formados internamente ajuda na identificação do elenco com o time, na economia de contratações e na possibilidade de lucro com futuras vendas.

É uma visão que a gente tem sim, mas fica difícil efetivamente mensurar. Em um elenco de 30 jogadores a gente ter 40%, seriam 12 da base. É um número factível na minha opinião. Mas é aquela coisa, a gente tem que saber que uma coisa é composição do elenco, outra coisa é o time titular. E, havendo oportunidade no mercado, a gente tem que estar atento. Se, por acaso, surgir um grande jogador que venha a competir com um garoto da base em uma posição, a gente tem que analisar as possibilidades financeiras do clube e, se for uma operação interessante, a gente faz. Mas é bom ter esse norte, é bom ter uma noção da importância da composição do elenco com atletas da base por esses dois fatores, tanto financeiro quanto de identificação

Fonte: Globo Esporte