Postado por - Newton Duarte

Bahia economiza R$ 1,7 mi com saída de 'encostados'

Na ponta do lápis: Bahia economiza R$ 1,7 mi com saída de 'encostados'


Em entrevista exclusiva, Reub Celestino fala sobre vida financeira do clube e peso de pagar atletas que estão afastados. Rescisões de medalhões ajudam a aliviar pressão


Com empréstimo de Diones, Bahia economiza R$ 360 mil durante o ano

Uma cifra de aproximadamente R$ 1,7 milhão. Este é o valor que o Bahia conseguiu economizar com os acordos firmados com Kleberson e Souza, além do empréstimo de Diones para a Chapecoense no início desta temporada. Segundo apuração do GloboEsporte.com, juntos, os salários dos três jogadores até o fim deste ano totalizariam cerca de R$ 4,8 milhões. No entanto, a negociação que resultou no parcelamento das multas contratuais conseguiu diminuir o valor que sairá dos cofres do clube para algo em torno de R$ 3,2 milhões, além de dilatar o prazo da dívida, que agora será paga até 2016.

Primeiro dos jogadores afastados do elenco principal a deixar o clube, Diones foi emprestado para a Chapecoense. No acordo de empréstimo, ficou estabelecido que o Bahia pagaria mais da metade do salário do atleta, que gira em torno dos R$ 75 mil (valor integral). O Tricolor não confirma os valores, mas cerca de R$ 45 mil deixarão os cofres do clube todo mês até o fim de 2014 para pagar o jogador. Ao fim deste ano, os vencimentos pagos a Diones durante a temporada somados vão totalizar cerca de R$ 540 mil. No entanto, se permanecesse no Fazendão, o volante receberia R$ 900 mil até dezembro, quando terá o contrato encerrado com o Bahia. Assim, com o empréstimo do jogador ao time de Santa Catarina, o Esquadrão vai economizar cerca de de R$ 360 mil na temporada.

Acordo de Kleberson rende economia de R$ 500 mil no ano

Já o acordo para rescisão amigável de Kleberson poupou aos cofres do Bahia R$ 500 mil. O jogador tinha contrato com o Tricolor até o fim de 2014 e recebia por mês cerca de R$ 150 mil. O valor da multa que deveria ser paga ao volante pelo rompimento do vínculo seria de aproximadamente R$ 1,8 milhão. Com o acordo para rescisão, a quantia destinada ao atleta totaliza R$ 1,3 milhão, valor que foi dividido em 26 parcelas de R$ 50 mil.

O acordo com Souza é semelhante ao de Kleberson, mas totaliza uma economia maior. O salário do atacante era um dos maiores do elenco tricolor. Estima-se que o ex-camisa 9 do Esquadrão ganhava, por mês, algo em torno de R$ 180 mil. Para rescindir com o jogador, o Bahia teria que pagar de uma só vez a soma dos vencimentos que ele receberia se permanecesse no clube até o fim do contrato (dezembro deste ano), o que resultaria em R$ 2,1 milhões a menos nos cofres tricolores em 2014. O Tricolor não confirma os números, mas, conforme a apuração do GloboEsporte.com, Souza receberá 30 parcelas de R$ 45 mil, o que totaliza pouco mais de R$ 1,3 milhão, uma economia de aproximadamente R$ 800 mil.

Se os três jogadores tivessem permanecido no elenco nesta temporada, o Bahia arcaria, somente com os salários, com uma quantia de R$ 405 mil mensais. Com os acordos realizados, o Tricolor terá que pagar R$ 140 mil por mês aos três atletas até dezembro. Em 2015, a quantia cai para R$ 95 mil, já que o contrato de Diones se encerra no fim deste ano e restarão apenas as parcelas das dívidas com Kleberson e Souza.

Souza vai receber 30 parcelas de cerca de R$ 45 mil

Dos afastados pela diretoria no início do ano, apenas Neto e Angulo permanecem no Fazendão. Juntos, os cinco atletas 'encostados' pela diretoria tricolor ganhavam, por mês, cerca de R$ 600 mil. De acordo com orçamento divulgado pelo Bahia no fim de 2013, a verba mensal para salários no mês de janeiro deste ano é de aproximadamente R$ 2,3 milhões. Os vencimentos dos atletas afastados corresponderiam, portanto, a aproximadamente 26% do total da folha salarial do clube para o primeiro mês deste ano.

REUB CELESTINO - DÍVIDAS, NEGOCIAÇÕES E UM PROJETO: ALIVIAR A PRESSÃO DAS CONTAS

Folhas de papéis repletas de nomes e números, telefonemas a cada minuto, planilhas que se multiplicam. A rotina do diretor-financeiro do Bahia, Reub Celestino, tem sido dura, a ponto de fazer com que o dirigente pensasse em deixar o clube. A cada dia, ele tenta equacionar as contas do Tricolor para a temporada 2014 e arranjar meios para o pagamento de salários atrasados. Sincero, ele recebeu a equipe do GloboEsporte.com e não escondeu que a permanência dos atletas afastados é um entrave. Reub prefere não citar ou confirmar os números que envolvem os jogadores, mas deixa claro que o dinheiro destinado aos 'encostados' poderia ser utilizado em outras áreas do Tricolor.

- Atrapalha. Claro que atrapalha. Isso, no meu pensamento, que não é o do futebol, onde sou apenas torcedor. Tenho que ter a responsabilidade em cima das finanças do clube. Nesse caso, a pessoa continua como despesa para o clube, e é óbvio que pesa – disse Reub Celestino, em entrevista exclusiva ao GloboEsporte.com, concedida antes da divulgação do acordo com Souza.

'Deslealdade é quem fez o contrato sem ter condições de pagar', diz Reub sobre as rescisões amigáveis

De acordo com o diretor, neste momento, o melhor a se fazer é negociar rescisões com valores parcelados para que o Bahia tenha condições de pagar as dívidas atuais e também honrar os compromissos firmados com os jogadores que deixaram o clube de forma amigável. Apesar de o acordo reduzir o valor que os atletas receberiam em uma rescisão unilateral, Reub destaca que fazer um acordo deste tipo não é uma ‘deslealdade’ e cita uma antiga máxima para ilustrar a situação.

- Há a tendência de se espraiar esse valor ao longo do tempo. Se eles ficassem aqui, teríamos que pagar, a cada mês, o volume grande de recursos que está no contrato. No processo de negociação, vamos pagar mês a mês, espraiado em um tempo maior. Se eu tenho que pagar dez moedas de vez, na negociação posso pagar 10 dividido por 4 e vou pagar dois e meio por vez. Isso é sempre negociado. Tem um ditado velho, que todo mundo conhece, mas nunca envelhece, que é: 'Mais vale um pássaro na mão que dois voando'. Se um jogador tem 200 a receber, e alguém promete dar 100 amanhã, é melhor receber os 100 do que ficar dez, quinze anos para receber os 200. É benéfico. Já fiz isso na minha vida profissional. Não é deslealdade. Deslealdade é quem fez o contrato sem ter condições de pagar - declarou o diretor tricolor.

Estamos aliviando as coisas para o futuro. Em 2014, queremos deixar [o clube] em condições de liquidação de dívidas

Reub Celestino

De acordo com Reub, o parcelamento das dívidas e das rescisões com os jogadores afastados é a maneira que o Bahia tem para conseguir recuperar crédito em um mercado no qual está bastante desgastado. Atualmente, as dívidas do clube ultrapassam os R$ 80 milhões.

- Tenho 80 milhões de dívidas do passado para resolver. Vamos pagar muitas. Outras vamos pagar parceladamente. Outras vamos ter que deixar para outras soluções, inclusive jurídicas. Quando decidimos pagar parceladamente, estamos aliviando esse estoque futuro, que certamente seria passado para frente. Gostaria que a gestão anterior tivesse feito isso também com as dívidas que estão aí. Isso alivia pressões. Temos um acordão com a justiça trabalhista, pelo qual R$ 180 mil por mês. É muito, mas pior seria ter que pagar R$ 4,5 milhões de uma vez só. O Bahia não teria condições de pagar. Nem vendendo suas coisas. Com esse raciocínio, estamos aliviando as coisas para o futuro. Em 2014, queremos deixar [o clube] em condições de liquidação de dívidas - assegurou.

A experiência profissional como economista dita os passos de Reub Celestino no tratamento dos acordos com jogadores e também com fornecedores do Bahia. O diretor diz que já enfrentou situações piores na carreira, e mesmo assim conseguiu ter sucesso.

- Trabalhei em uma empresa em que peguei um estoque de R$ 315 milhões em dívidas. Só com os fornecedores, as dívidas eram de R$ 95 milhões. E eu tinha que reabrir tudo. Os fornecedores eram clientes interessados. Falei que era muito melhor estarmos abertos do que fechados. Falei que, se devia 10, pagaria sete parcelado em um ano. Houve uma concordância de 97%. Quando saí da empresa, tinha pago a todos eles. Eles ficaram como fornecedores da empresa, e como levei uma condição de pagar em dia, paguei dívidas do passado e do presente. Seria bom se acontecesse isso no Bahia. Tem esse papel de duas páginas que devo pagar hoje [Reub balança duas folhas de ofício]. Se devo, pago. Toda a dívida que contrairmos este ano vamos pagar. As dívidas do passado, vamos discutir. Até por não saber que dívida é essa. Se é válida ou não. O que nos interessa é deixar o clube organizado, pronto para ser bem administrado no futuro - disse.

'Serei o chato que dirá que tem que cortar [gastos]', diz Reub

Apesar de ter um alívio financeiro provocado pelos acordos com os 'encostados', Reub alerta que o Bahia continua sem poder de investimento. O diretor lembra que o clube possui muitas dívidas para pagar e destaca que o rígido orçamento de 2014 não permite investidas ousadas no mercado.

- O orçamento de 2014 é de custeio, não de investimento. Não é um orçamento que veio para pagar estoque de dívida ou de investimento necessário para esse ano. Mas ele dá um resultado positivo. Posso levar o orçamento para zero e colocar aquela sobra e dizer que ela pode ser revestida em investimento. Ocorrerão receitas que não estão previstas no orçamento, que é conservador. Tenho que crer que o potencial do Bahia está crescendo. Pegamos esse potencial abaixo de zero. No final de 2014, com o crescimento que planejamos, o Bahia estará valendo muito mais que em 2013. Receitas outras virão por sermos mais atrativos. Atrairemos uma série de outros entes da sociedade econômica e muito mais sócios, com resultados em campo e na gestão como um todo. As despesas estão arrochadas, mas serei o chato que dirá que tem que cortar - comentou.

Com pouca margem para erros, Reub Celestino e toda a direção do Bahia sabem que é preciso ter criatividade para conseguir recuperar um clube que, nos últimos anos, acumulou dívidas e pouco atraiu investidores. Os acordos para encerrar o contrato dos 'encostados' é o primeiro passo de uma respiração mais aliviada, mas ainda intranquila. Os salários de funcionários e jogadores ainda são pagos com atraso, e as contas do Tricolor estão longe de serem fechadas. Ao menos, a economia de R$ 1,6 milhão com as rescisões de Souza e Kleberson e o empréstimo de Diones mostram que pode existir um horizonte mais favorável, sem desperdício e com a responsabilidade financeira, que parece ser levada a sério. 


Nota UTB – Esse é o tipo de notícia que deveria ter ampla divulgação pelo Esporte Clube Bahia. É a demonstração da luta para sair da bancarrota. É o melhor Marketing que o clube pode fazer no momento.

Reitero que prefiro o slogan: “Bahia Responsável”

Neste caso, parabéns a Reub Celestino e a toda a Diretoria do Tricolor. Fundado em 1931 e que é um só.


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Fonte: Thiago Pereira - GE.COM

Foto: Agência Estado - Fabrício Marques/GE.COM - Felipe Oliveira / Agência estado e Lenin Franco/Divulgação/EC Bahia